domingo, 28 de novembro de 2010

Estado x violência urbana - o negócio da violência

DOS BARÕES AO EXTERMÍNIO
Sociólogo afirma que a violência e o crime organizado tornaram-se grandes negócios, inclusive para o Estado
Francisco Dandão



De passagem por Rio Branco, para participar da I Semana de Extensão da Universidade Federal do Acre, onde falou sobre Extensão Universitária, Políticas Públicas e Ações Afirmativas, o professor José Cláudio não se esquivou de responder algumas perguntas sobre o assunto, ao mesmo tempo instigante e perigoso, que ele pesquisa há quinze anos.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.


Eu gostaria que você falasse, inicialmente, sobre a sua tese de doutorado... Sobre como é que surgiu a idéia de fazer um trabalho dessa natureza.

José Cláudio - Eu tinha uma militância já de algum tempo na Baixada Fluminense. Eu tenho uma trajetória de vida que me levou à Baixada. Eu sou de Vigário Geral, que é um bairro também muito violento. E quando eu fui para a USP, o meu projeto não era estudar a Baixada, mas sim a questão da esquerda no Rio de Janeiro. Na época, entretanto, caiu em minhas mãos um livro que me marcou muito, de um autor chamado Mike Davis, um dublê de urbanista e caminhoneiro. Esse cara tem um livro chamado “Cidade de Quartzo”, que faz um retrato da cidade de Los Angeles, a partir da forma como o poder foi se organizando no local, ao mesmo tempo em que mostra como esse poder se consolida, através de várias estratégias. E foi aí que eu pensei em fazer alguma coisa semelhante com relação à Baixada Fluminense, um local onde se registram os mais altos índices de violência do mundo: são cerca de 80 homicídios anuais para cada cem mil habitantes. Ou seja, um padrão superior a qualquer região onde exista uma guerra. A ONU classifica 50 assassinatos por cem mil habitantes como situação de guerra. Foi a partir dessas constatações que eu pensei que não era possível chegar a um padrão de violência desse patamar se não fosse por conta de algum tipo de construção. E aí, então, ficou muito forte dentro de mim o desejo de proceder a uma investigação acadêmica para compreender melhor o fenômeno. Essa seqüência de fatores é que culminaram na tese.

E no que diz respeito aos riscos que você correu para realizar a pesquisa... Fale um pouco sobre isso.

José Cláudio - A pesquisa traz riscos naturais, por conta de você estar no campo procurando informações. No meu caso, eu fiz muito trabalho em arquivos de jornais e peguei também o precioso arquivo de um bispo, já falecido, D. Adriano Hipólito, que era um homem corajoso, um homem que chegou a denunciar o Esquadrão da Morte. Por conta das denúncias dele, aliás, ele foi seqüestrado, pintado de vermelho e solto despido numa vila militar. Seqüestro que ele atribuía aos próprios militares. Mas ele nunca silenciou e, ao contrário, criou um vasto arquivo com matérias de jornais, o que foi primordial para o meu trabalho. Eu entrevistei o Hélio Luz, que foi titular da Delegacia de Homicídios da Baixada... Entrevistei também a Tânia Maria Salles Moreira, que foi a promotora que levou à condenação vários líderes de grupos de extermínio... Mas eu nunca sofri ameaças. É certo que as pessoas com quem eu tive contato demonstravam sempre muito medo do que poderia acontecer a mim e a minha família... Mas, o que eu penso é que o meu trabalho, apesar de levantar questões para a compreensão e o esclarecimento da situação da violência, principalmente na Baixada Fluminense, acaba não incomodando a eles. O controle deles sobre a população e muito grande, eles tem a máquina de recursos públicos e a maioria hoje nem é mais formada por matadores, agora todos tem outras trajetórias. Talvez eu corresse algum risco só se eu fosse testemunha de acusação de algum dos crimes praticados por alguém desses grupos. Por enquanto eu ainda não sofri nenhum tipo de ameaça.

O sociólogo Francisco de Oliveira, um dos membros da banca avaliadora, quando da defesa da sua tese, fez algumas críticas ao seu trabalho. Eu gostaria que você comentasse a pertinência ou o eventual despropósito dessas críticas.

José Cláudio - As críticas foram muito pertinentes. Francisco de Oliveira me coloca dentro de uma tradição teórica da sociologia. Ele percebe a originalidade do meu trabalho, percebe a idéia de uma lógica que vem, principalmente, de Karl Marx, cujo pressuposto é o de que o Estado é constituído essencialmente a partir da violência. Eu não fujo disso. Eu vou buscar a fonte da constituição desse Estado, desse poder, calcado na violência. O que ele, de fato, percebe são algumas impaciências da minha parte, no trato dessa temática. Por exemplo, no momento em que trato do Brizolismo como muito rigor e com muita dureza, Francisco de Oliveira diz que não se pode pedir comportamento muito diverso de quem está no poder, levando em conta a essência da constituição do Estado. O próprio Estado é o crime. Todos os que estão presos ou a maioria dos que são assassinados pertencem à ponta de baixo do iceberg. Não é possível, de fato, chegar ao topo da pirâmide, chegar naqueles que, realmente, controlam o crime. A violência e o crime organizado se tornaram grandes negócios, inclusive para o Estado. A crítica maior do avaliador foi a de que muitas vezes eu não demonstro tolerância com as ações de pessoas ou de grupos que detém ou fazem parte do sistema de poder. Críticas absolutamente pertinentes.

No seu entender, é possível ainda uma sociedade brasileira harmoniosa ou isso não passa de uma utopia de poetas românticos?

José Cláudio - O que mantém a gente vivo nesse mundo é acreditar que ainda é possível transformar essa realidade. É possível sim, mas eu creio que o trabalho de construção dessa sociedade harmoniosa é muito difícil e lento. Eu acho que vai demorar muito para a gente conseguir estruturar outro tipo de sociedade. A lógica de uma revolução, de uma mudança pelas bases, de uma mudança radical das classes que dominam esse país ainda está muito longe de acontecer. Nós não temos hoje uma conjuntura ou uma junção de fatos que nos levem a uma revolução. Hoje, o partido que eu ajudei a criar e ao qual eu dediquei vinte anos da minha vida, que é o Partido dos Trabalhadores, desde que o Governo Lula assumiu o poder, perdeu essa possibilidade transformadora. Ele se associou justamente a esses grupos políticos que dominam o país. Ele estabelece uma lógica de clientela, como é o caso da Bolsa-Família. Ele estabelece políticas compensatórias, clientelas assistencialistas, de um lado, e do outro lado ele mantém a lucratividade dos maiores setores econômicos desse país. O PT se vinculou a grupos políticos diretamente envolvidos com a violência, com o controle político desse país. O PT se associou a banqueiros e grupos econômicos que hoje ganham dez vezes o que é gasto com a Bolsa-Família, para atender 36 milhões de brasileiros. Dez vezes mais o que é gasto com esse programa é dado de lucratividade a banqueiros. Se houve aumento de empregos, foi por conta da grande fluidez do mercado mundial. Mercado esse que agora se encontra em plena crise. Por conta disso, o próprio governo já começa a falar em cortes dos programas sociais. É uma falácia, então, você manter uma estrutura de política social calcada num mercado que é altamente vulnerável. Então, o que eu percebo é que não temos hoje uma estrutura revolucionária. O Estado, que poderia ser um agente de consolidação de uma classe econômica desfavorecida, através de políticas sociais mais sólidas, simplesmente não o faz.

O repórter Carlos Dorneles deu o seguinte título a um dos seus livros: Deus é Inocente. A imprensa, não. No que se refere à violência no Brasil, quanto de culpa se pode creditar à mídia?

José Cláudio - Eu acho que a mídia trabalha numa dupla lógica: uma lógica de mercado e uma lógica de patrocínio. A lógica de mercado, com respeito a quem consome a matéria, qual o grupo social para o qual estou produzindo as minhas informações, qual o interesse desse grupo social, o que eu digo pra ele... É nesse sentido que existe essa mídia que perpetua o discurso das classes perigosas, dos grupos violentos, que perpetua a lógica da execução sumária como prática de segurança do Estado. A violência é um excelente produto para essa mídia, porque tem um público ávido em consumi-lo. As matérias são muito direcionadas para esse fim, para a espetacularização da informação, sendo que no final das contas o público acaba sabendo muito pouco do fato. Você vê esse caso da Eloá e do Lindemberg: é quase uma crônica de uma morte anunciada. A espetacularização de um drama, sem nenhum aprofundamento do caso. No fim das contas, o público não sabe nada de quem são aqueles personagens. A mídia praticamente apenas radiofonizou uma ação no momento presente. A mídia não faz o discurso do aprofundamento, da educação, da qualificação da informação. A mídia é quase uma vendedora imediata de um produto também imediato e vendável, que é a violência em tempo real. Por outro lado, essa mídia vive o segundo elemento, que é o seu patrocinador, que são os grupos políticos e econômicos que querem perpetuar as suas imagens. Isso tudo é muito lamentável!

Dostoievski teria alguma possibilidade de sucesso se vivesse no Brasil do século XXI e tentasse publicar uma versão pós-moderna de Crime e Castigo?

José Cláudio - Crime e castigo... Quem são os criminosos e quem são os castigáveis nesse país? Nunca se chegará aos grandes empresários, grandes comerciantes e grandes banqueiros que financiam as grandes partidas de cocaína, assim como não se chegará àqueles que fazem tráfico de armas pesadas nesse país. Por que é que entra um “caveirão” blindado numa favela? A alegação é porque lá existem armas de grosso calibre. Essa justificativa é só para os governos subirem e matarem dezenas de pessoas a cada semana. Só que quando eles resgatam essas armas, dias depois essas mesmas armas estão de volta nas mãos dos traficantes. O problema é que quem vende essas armas para os traficantes é a própria polícia. Então, crime e castigo é exatamente o que nós temos nesse país. Só que são duas lógicas separadas: os criminosos vão muito bem, obrigado, perpetuados na sua ação assassina e na sua política genocida; e, do outro lado, aqueles que são os executáveis. O castigo recai exatamente sobre as vítimas desse sistema. Alguns autores que se debruçaram sobre esse tema da violência dizem que é uma espécie de profecia autocumprida. Ao tempo em que você lê a profecia, ela vai se cumprir porque você passa a fazer parte dela. No Brasil é exatamente essa a contradição que temos por aí.

Em se tratando de violência, meu caro José Cláudio, é possível se afirmar que Deus e o diabo andam de mãos dadas, em perfeita sincronia, na terra do sol?

José Cláudio - Deus e o diabo são associados. É claro que se tem que ver quem é esse deus e quem é esse diabo. Na literatura alemã existe um livro belíssimo do Franz Neum, chamado Behemot, que é a história do nazismo. Esse Behemot é um deus que se alimentava de sacrifícios humanos. Eu acho que no Brasil o Behemot é o Estado, a classe dominante... Esse é o deus que é cultuado aqui, sem nós sabermos. Ele se alimenta de sacrifícios humanos. Milhares de pessoas são sacrificadas nesse país, executadas sumariamente aos pés desse deus. O diabo nada mais é do que o seu irmão gêmeo, siamês, que está também perpetuando o mal, através da sua lógica mais perversa, a lógica da separação. Não tem coisa pior nesse país do que essa prática da violência, que separa o povo todo, de fora a fora, de cabo a rabo: separa os pobres dos pobres, separa os pobres trabalhadores dos pobres depois chamados de bandidos, separa a classe média das classes populares, separa a elite do que ela quer separar também... É tudo extremamente fragmentado. O Partido dos Trabalhadores, nesse sentido, deveria ser um partido que unificasse todos esses segmentos, mas, ao contrário, ele acaba sendo mais um fragmento que bebe dessa água. O diabo, então, é a separação do país. Se deus é Behemot, que se alimenta da carne dos pobres, o diabo é a entidade que está fragmentando cada um desses grupos sociais e que impede qualquer manifestação conjunta que possa derrubar toda essa estrutura de poder.

Por último, dado todo o seu conhecimento sobre essa questão da violência no nosso país, eu gostaria que você respondesse se ainda é possível amar o Brasil ou se nós temos que deixá-lo o mais rápido possível...

José Cláudio - Há algum tempo eu comecei a desenvolver uma síndrome. Nenhum médico descobria, exatamente, o que era que eu tinha. Até que um dia foi descoberto que o meu mal estava ligado à depressão. Tudo por conta de que, ao longo do tempo, todas as denúncias que eu fazia no livro se configuravam vãs. Ao contrário de terminar, toda a estrutura das mazelas que eu denunciei se fortalecia. Então, como eu era uma pessoa que esperava que o Brasil mudasse, fui percebendo que as minhas alternativas eram cada vez menores. Eu fui definhando e achei que já não havia mais sentido viver aqui nesse país. Chegou um momento em que eu perdi o sentido de caminhar entre os humanos. Eu estava querendo viver uma outra realidade. Porém, graças a Deus, eu hoje curei essa doença. E eu penso que comecei a me curar quando eu comecei a prestar atenção em pessoas totalmente arrebentadas pelo sistema brasileiro, mas que eu podia ver que dentro delas ainda restava muito de alegria e esperança. Dá pra perceber que essa gente consegue construir algo, e que apesar de a gente não saber como, o certo é que eles constroem esse algo. Penso que foi isso que eu consegui perceber: uma dimensão subjetiva, espiritual, da qual eu comecei a me alimentar também. Eu poderia dizer que construí a minha possibilidade de sobrevivência dessa esperança que vem da população mais pobre, vitimizada e vilipendiada pelo Estado brasileiro. Então, mesmo que não seja possível amar, pelo menos se pode permanecer, sim, nesse país. “A escuridão me ilumina, hoje eu sou poeta”. Isso é Manoel de Barros. Agora falando eu mesmo: a sujeira me limpa nesse país.

sábado, 27 de novembro de 2010

Deus salve o morro.

QUEREMOS PAZ!

Estamos torcendo para que a paz na cidade do Rio seja restabelecida o mais rápido possível.

EREA CEARÁ 2011

Concurso de ideias aberto para estudantes de arquitetura do Nordeste


Até o próximo dia 13 de dezembro, estudantes de arquitetura da região Nordeste poderão se inscrever no concurso de ideias para projeto arquitetônico das edificações do Centro de Informação e Convivência do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). O concurso é uma realização da Comissão Organizadora do III Encontro Regional dos Estudantes de Arquitetura, o Erea Ceará 2011, que acontecerá entre os dias 16 e 23 de janeiro no Lagamar do Cauípe, Caucaia, Ceará.

As inscrições para o concurso são feitas exclusivamente pela Internet, acessando o site www.ereaceara2011.com. Os estudantes deverão se organizar em equipes de, no máximo, quatro pessoas, devendo um deles ser indicado para ser o interlocutor entre a equipe e a organização do concurso e ficar responsável pela inscrição. Além do preenchimento do formulário eletrônico, é preciso enviar as declarações de matrícula dos estudantes componentes da equipe para o endereço eletrônico concurso@ereaceara2011.com e aguardar a confirmação da inscrição também por email. Cada estudante só poderá participar de uma equipe. Dúvidas e esclarecimentos sobre o concurso poderão ser feitas até dia 14 de dezembro também por meio do mesmo endereço eletrônico.

Os trabalhos que concorrerão deverão ser enviados entre os dias seis e 20 de dezembro também exclusivamente pelo email do concurso. Serão escolhidos os três melhores projetos preliminares referentes a cada uma das quatro edifícações do Centro de Informação e Convivência do CIPP que farão parte do concurso, sendo restritos aos seguintes estados por edificação: núcleo administrativo (Pernambuco), mediateca (Paraíba, Alagoas e Piauí), núcleo educacional (Ceará e Rio Grande do Norte) e restaurante escola (Maranhão, Bahia e Sergipe). As especificações de cada edifício estão disponíveis no termo de referência do concurso disponível no site do encontro.

O resultado final do concurso será divulgado em ato público no dia 17 de janeiro, durante o Erea Ceará 2011, após o julgamento dos trabalhos entre os dias quatro e 10 de janeiro e a realização de quatro oficinas de discussão dos projetos vencedores entre os dias 18 e 20 de janeiro. Os trabalhos serão expostos na Cidade Erea, estrutura provisória do evento no mesmo local onde será construído o Centro, nos três últimos dias do encontro, de 21 a 23 de janeiro.

O Centro de Informação e Convivência do Complexo Industrial e Portuário do Pecém foi inicialmente pensado pelo professor e sociólogo André Haguette dentro do Plano Básico de Ação para o CIPP e articulado pelo Grupo de Monitoramento de Ações Interinstitucionais e Setoriais do CIPP- Gmais/CIPP do Governo do Estado do Ceará. O objetivo é que o Centro seja um ponto de encontro entre todos os atores que atuam no Complexo como também um portal físico de informações sobre o mesmo.

Mais informações sobre o Erea Ceará 2011 e o concurso de ideias no site www.ereaceara2011.com. Sobre o Centro de Informação e Convivência do CIPP, entrar em contato com a assessoria de comunicação do Gmais no telefone (85) 8852-6653, falar com Marcia Ximenes.

Estado x violência urbana - o capital e o crime em SP

“Não há ‘poder paralelo’”
Entrevista concedida no ano de 2006 a repórter Ana Manuella Soares - Jornal da Adufrj



.José Cláudio Souza Alves é doutor em Sociologia pela USP e professor Titular de Sociologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em meados dos anos 1990, José Cláudio investigou as relações dos poderes social e econômico na consolidação dos grupos de extermínio na Baixada Fluminense, no estado do Rio.

O professor é autor de "Dos Barões ao Extermínio – Uma história da violência na Baixada Fluminense" (1999), onde sustenta que a violência, em especial contra as populações de baixa renda, é uma atividade lucrativa em áreas de periferia. “Atende a empresários bem sucedidos, mas inescrupulosos, atende a políticos vinculados a grupos de extermínio e dá mercado de trabalho a policiais corruptos”.

.Nesta entrevista, o professor comenta a explosão de violência em São Paulo, a responsabilidade dos governantes e da mídia e a lógica da consolidação de um ‘mercado’ do crime organizado,

Em sua tese sobre a história da violência na Baixada Fluminense, o senhor apresentou as relações de poder tanto no plano estadual e federal que estariam na origem e no processo de consolidação dos grupos de extermínio no estado do Rio de Janeiro e na estreita relação entre a política local e os mecanismos de perpetuação da ‘violência ilegal’ associada à pobreza urbana da região.

Hoje, em São Paulo, como o senhor analisa o atual quadro de explosão da violência urbana nesse estado?

Onibus em chamas após um dos ataques do PCC na cidade de São Paulo(2006)

José Cláudio. No meu trabalho, desenvolvo a idéia de que não há “poder paralelo”, mas somente uma estrutura de poder e de Estado que articula a violência enquanto mecanismo de dominação e perpetuação do poder. Essa estruturação das relações entre poder e violência, legal e ilegal, se dá no espaço e no tempo. Portanto, somente com um estudo aprofundado da história das relações dos diferentes atores e da geografia dessas relações se pode identificar como se formou essa realidade.

Análises limitadas ao aqui e agora do problema de São Paulo são marcadas pela disputa pelas interpretações de acordo com os interesses de cada ator. Tendem a ocultar mais do que revelar. A imprensa também fica à mercê desse jogo. Não fiz um estudo aprofundado sobre o caso de São Paulo, mas posso apontar alguns indícios.

Há uma notória e longa relação do aparato policial com as execuções sumárias. Rota 66 a polícia que mata, de Caco Barcelos, é um marco dessa análise. Justiceiros e matadores civis sempre operaram na periferia formada pelas cidades ao redor da capital. Os índices de homicídios nessa periferia, há décadas, são elevados, com poucos exemplos de política de redução, como o caso de Diadema.

A organização dos presídios se constituiu, ao longo do tempo, como a estrutura perfeita do crime: unificação de comando e hierarquia, articulação com o Estado, através da política de segurança e prisional, garantia de acordos duráveis na manutenção do estado-crime entre policiais, políticos, criminosos baratos, organizados e hierarquizados e super-lucro do mercado do crime, operado pelo próprio capital que financia e garante o retorno.

Quais seriam as causas da consolidação do crime organizado em São Paulo na figura do Primeiro Comando da Capital?

José Cláudio. O PCC é resultado, ao longo do tempo, da construção organizada do crime pelo estado e seus operadores, bem como pelo capital e seus donos. Sua unificação deve ter uma história, que não conheço. Seria fundamental estudá-la. O problema é que o crime não deixa atas ou registros. Portanto, tem que se aprender com um quebra-cabeça de acontecimentos registrados pela mídia e seus interesses. Logo, um trabalho difícil. Essa unificação lhe dá mais poder nos acordos. A centralização favorece os negociadores, lado a lado, numa rotina mais previsível.

Qual a responsabilidade dos atuais governos, estadual e federal, nessa explosão de mortes e confrontos no principal centro financeiro do país?

José Cláudio. À semelhança do que ocorreu na cidade do Rio, quando do governo Benedita da Silva, o acordo em vigor sofreu uma ruptura. No caso do Rio, vários atentados ocorreram, mas se orquestraram numa lógica de terror mais difuso: incêndio de ônibus, tiros contra prédios relacionados aos governantes, comércio fechado etc.

Essa situação não favorece o negócio do crime, em particular, no caso carioca, a venda da cocaína, o tráfico de armas, as máquinas caça-níqueis e o jogo do bicho, e pela lógica geográfica do mesmo: organizado em áreas nitidamente segregadas em favelas e periferias-favelas, o desenrolar da crise permaneceu nos limites das operações ordinárias do aparato policial, com pouco recrudescimento das ações nas áreas segregadas e manutenção da rotineira e elevada execução dos habitantes dessas áreas, independente do seu envolvimento ou não com o crime.

O caso de São Paulo aponta para uma outra variável. A entrada de Lembo no governo paulista introduziu a quebra do acordo anterior entre estado e crime, expresso diretamente no endurecimento da política prisional para a hierarquia do PCC.

A forma segregada do crime e pobreza em São Paulo constituiu-se no anel periférico das cidades ao redor da capital. Fortificada em muros altos, cercas de arames farpados e condomínios de segurança máxima, a capital configura uma área aberta, sem pontos segregados espalhados pelo seu interior, como o caso carioca.

Por sua vez, a organização do estado-crime pela via prisional estabelece uma rede que vai além da capital, na sincronicidade de operações que amplificam em muito as operações e as dimensões da crise.

A guerra aberta entre o aparato policial e penal e a rede do PCC, tendo como campo a capital, os presídios e as cidades do interior relacionadas aos presídios, opõem, entre si, os operadores imediatos do estado-capital-crime, os “peões”. Mas aberta e fora dos padrões rotineiros de São Paulo, esses exercem um impacto mais profundo. Proporcional ao terror e ao medo são a impotência e a incapacidade das análises, já que se dão sobre um padrão inusitado.

De que forma o poder político se nutre dessa violência para ampliar suas bases eleitorais ou reduzir as de seus adversários?

José Cláudio. A lógica da violência aberta, sobretudo dos homicídios, possibilita ganhos fabulosos pela estrutura do estado-capital-crime com a morte de gente pobre: bandido ou aparato policial-prisional. O recrudescimento punitivo da “pena de morte aberta para os bandidos” aprofunda a criminalização da pobreza, da heroicização dos matadores e grupos de extermínio, nos plenos poderes para o aparato policial e nas trajetórias políticas desses assassinos. A clientela da distribuição dos bens de segurança é ampliada, abocanhando, sobretudo, a classe média aterrorizada. A segregação sócio-geográfica sobrepõe-se ao curral eleitoral, num controle mais preciso de idas e vindas das pessoas e dos políticos com seu clientelismo. A fragmentação social e a segregação se aprofundam desfavorecendo a organização e os movimentos populares de resistência a esse “totalitarismo” político, cultural, econômico e socialmente construído.

Existiria, ainda, um ‘mercado’ da violência urbana?

José Cláudio. O aparato policial sempre esteve envolvido no mercado do crime: execuções sumárias, tráfico de armas e drogas, seqüestros, roubos etc, pois estamos falando do maior centro do capital nacional e transnacional. Hoje, São Paulo é uma cidade global. Logo, a movimentação do crime acompanha a movimentação do capital numa simbiose perfeita: o capital lava o dinheiro do crime, o crime retribui com rendimentos inimagináveis. Por exemplo: um quilo de cocaína, comprada a R$ 7 mil, ao adicionar “pó-Royal”, isto é, fermento para bolo, gera, no varejo, R$ 47 mil. O craque é menos rentável, mas está na mesma ótica. Outros crimes em geral também tem seu super-lucro, bem como todo o mundo da segurança privada, que vai das viagens de helicóptero – São Paulo é recordista mundial desse meio de transporte – às empresas privadas de segurança, montadas por policiais nos seus “bicos” privados.

Como o senhor analisa o discurso da grande mídia em relação à cobertura da guerra PCC x governo Cláudio Lembo? A mídia favorece o uso político eleitoral da (in)segurança pública?

José Cláudio. Sem dúvida, a construção midiática dos fatos, das respostas, das análises das políticas públicas de segurança e das análises sobre a violência e suas causas constrói uma interpretação muitas vezes decisiva na legitimação de lideranças políticas. As especificidades do jogo político, em época de eleição, reconfiguram o campo das variáveis, a partir dos interesses políticos específicos. É preciso ler por trás das linhas. Ajudas, apoio, recrudescimento punitivo, negociações, mitificação de heróis, culpabilização de pessoas incluem a crise da violência no meio do tabuleiro de xadrez eleitoral.

Tanto o governo federal como o estadual não se diferenciam, em termos políticos, quanto às ações em relação à questão da violência ou especificamente, quanto à atual crise paulista. Tratam-na à base da ampliação da punibilidade e da repressão, sequer arranham a estrutura em que eles próprios se encontram do estado-capital-crime e, de quebra, monopolizam a mídia por completo com um arsenal de lugares comuns, preconceito, discriminação, e, muitas vezes, pura estupidez ou frases de efeito que tornam o cenário ainda mais confuso.

Muitas personalidades da política, em especial governantes ou aspirantes a governos, afirmam e reafirmam, no discurso, a educação como solução para a violência urbana. Qual o papel das universidades públicas nesse debate?

José Cláudio. Precisa-se evitar o discurso da educação como grande panacéia para a solução da violência. Ela é apenas uma das estratégias, mesmo que seja a mais importante. Sem política econômica de crescimento e geração de emprego e políticas sociais de urbanização, transporte, acompanhamento psicológico e social das populações mais pobres e segregadas é impossível alterar a realidade da violência urbana. Universidades públicas que mal conseguem recursos para realizar projetos de pesquisa e extensão, voltadas para essa população, são exemplos mais de resistência do que de solução. Um governo que privilegia o pagamento da dívida externa com metade do PIB nacional, que garante bilhões de lucro para os bancos e consolida o latifúndio e o agrobusiness exportador e devastador dos recursos ambientais está muito longe de investir nas universidades públicas o suficiente para tê-las como fator determinante de solução da violência.


Publicado originalmente no Jornal da Adufrj nº 504, de 31/7/2006 (www.adufrj.org.br)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estado x violência urbana - o caos no Rio

A Guerra do Rio? A farsa e a geopolítica do crime
José Cláudio Souza Alves* 25/11/2010



Nós que sabemos que o inimigo é outro?, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar. Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos. De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemÿnica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemÿnica. Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas.

Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de ?segurança?.Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemÿnica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos. Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemÿnicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc. Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo? Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas. Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico. Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros. Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemÿnicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul?

Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos esquecemos que sua única finalidade é a hegemonia do mercado do crime no Rio de Janeiro? Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade. Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

* José Cláudio Souza Alves e sociólogo, Pró-reitor de Extensão da UFRRJ e autor do livro: Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência na Baixada Fluminense.

Fonte: http://www.ufrrj.br/portal/modulo/home/noticia.php?noticia=1864
Foto José Cláudio: http://www.renajorp.net/2006/08-baroes.html
Foto polícia federal: Foto: Thamine Leta / G1

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fernando Lara expõe no Texas


O Studio "Informal Texas" do arquiteto radicado em Austin, Texas, Fernando Lara, foi um dos convidados para expor suas pesquisas sobre projetos para comunidades de baixa renda no Museu de Arte de Austin (AMoA). A exposiçãos dos trabalhos ocorreu entre os dias 6 a 10 de novembro e foi  organizada pelo escritório Runa e pela AIA (American Institute of Architects) de Austin. 






Fonte: http://www.parededemeia.blogspot.com/
Imagens: Parker Doelling

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Prêmio AsBEA 2010 coloca a arquitetura brasileira no radar do mundo

Em sua sexta edição, prêmio contará com a cobertura da imprensa internacional e incluirá iniciativa inédita de posicionamento da marca

A solenidade de entrega da sexta edição do Prêmio AsBEA Arquitetura, que acontecerá na noite de 2/12, na Casa Petra, em São Paulo, neste ano englobará uma ação inédita de posicionamento da marca dos serviços de arquitetura brasileiros, o Projeto Imagem.

Projeto Imagem - Esta ação faz parte do Programa de Internacionalização da Arquitetura, promovido pela AsBEA em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Com foco no fortalecimento e na abertura do mercado externo para o setor de arquitetura brasileira, o projeto tem como objetivos principais o posicionamento e o fortalecimento da imagem da arquitetura brasileira no mundo e a construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento de uma cultura exportadora para o setor de arquitetura nacional, através da presença de profissionais brasileiros no mercado internacional.

O Projeto Imagem consiste na visita de formadores de opinião estrangeiros ao Brasil para conhecer o setor, o projeto e as empresas brasileiras, com o intuito de promover a imagem dos produtos e serviços nacionais nos mercados-alvo de origem desses convidados.

Para tanto, foram contatados jornalistas de editorias de economia/negócios e de arquitetura de países considerados mercados-alvo e formadores de opinião pelo estudo de mercados do programa.

Além de cobrirem o Prêmio AsBEA, estes jornalistas terão a oportunidade de fazer uma imersão no setor e levar aos seus países de origem informações sobre oportunidades de investimento e sobre a capacitação técnica e qualitativa que destacam os nossos profissionais para atuação no mercado interno e externo.

Mais de 100 inscritos - Neste foram mais de 100 projetos inscritos ao Prêmio AsBEA Arquitetura, o que certamente rendeu muito trabalho ao júri presidido pelo arquiteto Sergio Teperman, com a colaboração, entre outras personalidades da área, do jornalista Fernando Serapião, editor-executivo da revista ProjetoDesign.

Os projetos premiados farão parte de uma edição especial da revista ProjetoDesign.

Instituído em 2002, o Prêmio Roberto Cláudio dos Santos Aflalo, como é denominado, é disputado a cada dois anos, premiando a produção dos escritórios associados por obras construídas nos últimos cinco anos e que não tenham sido premiadas em edições anteriores.

Concorrem ao prêmio projetos enquadrados nas seguintes categorias: edifícios residenciais, conjuntos residenciais, edifícios comerciais, edifícios de serviços, edifícios para hotelaria, edifícios institucionais, edifícios industriais, arquitetura corporativa, arquitetura de interiores, residências, urbanismo, projetos especiais, sustentabilidade e retrofit.

O júri responsável pela escolha dos vencedores foi presidido pelo arquiteto Sergio Teperman, que, entre outras qualificações, é membro do Comitê Internacional de Críticos da Arquitetura (Cica), foi presidente da AsBEA, e participou de diversas publicações da área, como a revista A&C, o jornal Arquiteto, as revistas ProjetoDesign e Arquitetura e Urbanismo.

Como de costume, os concorrentes só conhecem os vencedores na Festa Prêmio, que neste ano acontecerá na Casa Petra, em São Paulo, na noite de 2/12.

Tome nota:

Entrega do Prêmio AsBEA Arquitetura
Quando: 2 de dezembro de 2010, a partir das 20h30
Local: Casa Petra (Rua Professor José Leite e Oiticica, 237, Brooklin Novo, São Paulo, SP
Convites: R$ 150,00, cada, válido para duas pessoas.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A questão urbana e o pós eleições

Campina Grande, ou qualquer outra cidade brasileira ...

Na última sexta-feira pela manhã tive que me deslocar de João Pessoa até Campina Grande para deixar uma pessoa no Terminal Rodoviário Argemiro de Figueiredo. A estrada duplicada permitiu uma viagem rápida, tranquila e segura. Ao descer no Terminal tive a sensação de que o ar condicionado do nosso veículo proporcionava uma temperatura muito mais amena que o "friozinho" que fazia em Campina Grande naquele horário.
A semelhança entre os terminais rodoviários de João Pessoa(82) e Campina(85)  não é mera coincidência e todo mundo já sabe disso. O excelente projeto de Glauco Campelo foi adaptado para a Rainha da Borborema sem nenhum pudor e com menor exigência estética. Não obstante a rodoviária cumprir bem o seu papel, os imponentes e elegantes pórticos em balanço do Terminal Severino Camelo foram substituídos por uma estrutura espacial que exerce a mesma função de abrigo, porém não desfruta da mesma expressão plástica. Não me perguntem quais os motivos que levaram a essa decisão que eu confesso desconhecer. Uma breve pesquisa no Google não ajudou a debelar minhas dúvidas.

Pórtico de concreto do Terminal Severino Camelo - JP

Estrutura espacial do Terminal Argemiro de Figueiredo - CG


Desculpem-me se me extendi nesta introdução e talvez tenha fugido um pouco do foco deste texto, mas não poderia me furtar deste breve comentário. O fato que me leva a escrever este texto é outro, mas está intrinsecamente ligado ao contexto urbano que cerca o Terminal Rodoviário.

Após desfrutar de um cafezinho no Terminal e embarcar o meu "passageiro" fui orientado por um taxista a virar à esquerda quando deixasse a rodoviaria e a pegar atalho através de um pequeno trecho de terra que me conduziria a Avenida Senador Argemiro de Figueiredo e a saída da cidade. 

Ao fazer o tal percurso me deparei com uma cena bastante comum nos nossos centros urbanos, mas que mesmo assim não deixou de me causar um certo estranhamento. Enquanto passava ao lado da passarela que atravessa a Avenida Senador Argemiro de Figueiredo e conecta o entorno do Terminal Rodoviário com o entorno do Spazzio registrei algumas famílias se acomodando embaixo da mesma, forjando um abrigo com vedações em madeiras, metal e papelão.

Passada as eleições, ainda reverberam os discursos vazios dos candidatos ao governo estadual e à presidência da república sobre as problemáticas urbanas que assolam as nossas cidades. O caos social que parecia distante e um "privilégio" exclusivo dos grandes centros urbanos começa a ultrapassar as barreiras "invisíveis" das periferias para se tornar uma constante no nosso cotidiano. Não é possível fundamentar uma politica de inclusão social pautada no aumento do poder de consumo da população menos favorecida. O Senador Cristovam Buarque em recente postagem no Twitter afirmou que o que tira uma pessoa da miséria "é ter onde morar,onde estudar,onde ser atendido".







No alto a Estação Rodoviária de Campina Grande e abaixo o Spazzio.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O CAU cada vez mais próximo

Câmara aprova criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo
Reportagem - Vania Alves
Edição - Newton Araújo

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou há pouco, em caráter conclusivoRito de tramitação pelo qual o projeto não precisa ser votado pelo Plenário, apenas pelas comissões designadas para analisá-lo. O projeto perderá esse caráter em duas situações: - se houver parecer divergente entre as comissões (rejeição por uma, aprovação por outra); - se, depois de aprovado pelas comissões, houver recurso contra esse rito assinado por 51 deputados (10% do total). Nos dois casos, o projeto precisará ser votado pelo Plenário., o Projeto de Lei 4413/08, do Executivo, que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e dos estados.

O relator, deputado Maurício Rands (PT-PE), votou pela constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa do projeto, das emendas da Comissão de Finanças e Tributação e das emendas ao substitutivo da Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público e considerou contrária ao Regimento Interno da Câmara dos Deputados (RICD) a emenda apresentada na CCJ.

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) afirmou que o arquiteto pode ser urbanista, que só há uma escola específica de urbanismo em todo o País e que é preciso atentar para o fato de que isso pode criar um problema no exercício da profissão.

A reunião ocorre no plenário 1.

Fonte: www2.camara.gov.br

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Espaço urbano, arquitetura e exclusão social

Como cultivar a exclusão social em São Paulo
Leonardo Sakamoto¹

Daqui a uma geração, quando estudarem a arquitetura de nossa época, além dos prédios em forma de melancia e dos espigões de aço e vidro azul, outra coisa, menos bonita por certo, chamará a atenção. Temos gasto muito tempo e inventividade para criar formas de excluir do convívio da cidade aqueles para os quais nunca abrimos as portas dos direitos econômicos – e isso não passará despercebido.

Reuni alguns desses métodos informais em forma de manual. Apesar de não estarem publicados e não seguirem padrões da ABNT, existem e fazem vítimas diariamente, ainda mais em noites frias e chuvosas como essas pelas quais estamos passando. Registrar isso serve para lembrar o quanto somos ridículos e ajudar o pessoal que vai nos julgar amanhã. Espero que não tenham dó ou piedade.

1) Áreas cobertas em viadutos, pontes, túneis ou quaisquer locais públicos que possam receber casas imaginárias do povo de rua devem ser preenchidas com concreto. A face superiora não deve ficar paralela à rua, mas com inclinação suficiente para que um corpo sem-teto nela estendido e prostrado de cansaço e sono role feito um pacote de carne velha até o chão.

1.1) Outra opção, caso seja impossível uma inclinação acentuada, é o uso de floreiras, cacos de vidro ou lanças de metal. É menos discreto, mas tem o mesmo resultado.

2) Prédios novos devem ser construídos sem marquises para impossibilitar o acúmulo de sem-teto em noites chuvosas.

2.1) Caso seja impossível por determinações estéticas do arquiteto, a alternativa é murar o edifício ou cercá-lo. A colocação de seguranças armados é outra possibilidade, caso haja recursos para tanto.

2.2) Em caso de prédios mais antigos, uma saída encontrada por um edifício na região central de São Paulo e que pode ser tomada como modelo é a colocação de uma mangueira furada no texto, emulando a função de sprinklers. Acionada de tempos em tempos, expulsa desocupados e usuários de drogas. Além disso, como deixa o chão da calçada constatemente molhado, espanta também possíveis moradores de rua que queiram tirar uma soneca por lá.

3) Bancos de praça devem receber estruturas que os separem em três assentos independentes. Apesar disso impossibilitar a vida de casais apaixonados ou de reencontros de amigos distantes, fará com que sem-teto não durmam nesses aparelhos públicos.

4) Em regiões com alta incidência de seres indesejáveis, recomenda-se o avanço de grades e muros para além do limite registrado na prefeitura, diminuindo ao máximo o tamanho da calçada. Como é uma questão de segurança, o fiscal pode “se fazer entender” da importância de manter a estrutura como está.

5) Cloro deve ser lançado nos locais de permanência de sem-teto, principalmente nas noites frias, para garantir que eles não façam suas necessidades básicas no local. Caso não seja suficiente, talvez seja necessária a utilização de produtos químicos mais fortes vendidos em lojas do ramo, como vem fazendo algumas lojas no Centro da cidade. A sugestão é o uso de um aspersor conforme o item 2.2, mas instalado no chão.

Já que não se encontra solução para um problema, encobre-se. É mais fácil que implantar políticas de moradia eficazes – como uma reforma urbana que pegue as centenas de milhares de imóveis fechados para especulação e destine a quem não tem nada. Ou repensar a política pública para usuários de drogas, hoje baseada em um tripé de punição, preconceito e exclusão e, portanto, ineficaz. Muitos vêem os dependentes químicos como lixo da sociedade e estorvo ao invés de entender que lá há um problema de saúde pública. As obras que estão revitalizando (sic) a região chamada de Cracolândia, têm expulsado os moradores da região – para outros locais, como a Barra Funda e Santa Cecília. Contanto que fiquem longe dos concertos da Sala São Paulo, do acervo do Museu da Língua Portuguesa e das exposições Estação Pinacoteca uó-te-mo.

Melhor tirar da vista do que aceitar que, se há pessoas que querem viver no espaço público por algum motivo, elas têm direito a isso. A cidade também é deles, por mais que doa ao senso estético ou moral de alguém. Ou crie pânico para quem acha que isso é uma afronta à segurança pública e aos bons costumes. Em vez disso, são enxotados ou mortos a pauladas (sem que ninguém nunca seja punido por isso) para limpar a urbe para os cidadãos de bem.

PS: Recado à turma que entalou um “tá com dó leva para casa” na garganta: cresçam.

Nota
1. Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Já foi professor de jornalismo na USP e, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.


domingo, 14 de novembro de 2010

Exposição no IAB-PB

Já está aberta à visitação a exposição Habitação de Interesse Social: alternativas e desafios futuros, na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento da Paraíba - IAB-PB, Largo São Frei Pedro Gonçaleves.



Horários:
Tarde: segunda a sexta, das 14:00h às 17:30h

A exposição se extenderá até o início do mês de Janeiro de 2011.

O lado podre da convergência

Eu devia estar feliz que hoje o Brasil está elegendo sua primeira mulher presidente, continuando, quem sabe de forma um pouco mais combativa, as políticas públicas que fizeram do governo Lula o melhor desde JK.

Devia estar feliz também porque a se confirmar a vitória de Dilma Rousseff, ela vem acompanhada da derrota da direita mais arcaica, de Joaquim Roriz e Cesar Maia, e principalmente do neo-carola José Serra.

Mas da mesma forma que 1956-61 foram os “anos dourados”, temo que muito em breve teremos saudade do otimismo dos anos-Lula. E digo isto como quem descobre um amargo lá no fundo depois de engolir o que parecia doce. Explicando melhor, há anos digo em minhas andanças que o Brasil e os EUA estão em trajetórias convergentes (idéia confirmada pela The Economist). As desigualdades seguem aumentando aqui no norte com a renda do trabalhador estagnada a décadas (os anos 00 ainda vão ser conhecidos com a década perdida dos EUA), enquanto o Brasil cresce, distribui e aumenta a qualidade de vida da maioria da sua população.

Mas esta mesma teoria da convergência (trocadilho aqui com a famosa teoria da dependência que o príncipe FHC fez questão de renegar) volta agora a se afirmar como uma vingança. O pior dos EUA se revelou este ano de forma viva e agressiva na eleição brasileira. A direita, sem proposta e sem projeto, incapaz agora de sustentar seus velhos argumentos de que o bolo deveria crescer primeiro (Lula entrará para a história como o líder que derrubou esta velha falácia), apela para o que há de mais arcaico na sociedade brasileira: a hipocrisia de uma religiosidade de fachada. Sim porque tirando os 6% de neo-pentescostais e uma parte pequena dos católicos carismáticos que levam as regras da igreja a sério, ninguém dá a mínima para o que dizem Ratzinger ou o bispo de Guarulhos.

Mas bastaram as palavras “aborto” e “casamento gay” serem colocadas para todos os preconceitos de gênero, de classe e de cor virem a tona disfarçados de cristianismo.

O Brasil que se revelou nestas eleições é um país recalcado. A agressividade que lí nas mensagens mal escritas da internet e a intolerância de certos diálogos semi-privados (mas também semi-públicos) das redes sociais apontam para uma polarização digna de republicanos versus democratas. Vale lembrar que nos EUA esta polarização já acontece a tanto tempo que cidades inteiras (Austin onde eu vivo é uma delas) são território de um ou outro grupo. Quem pensa diferente que se mude.

Devíamos estar discutindo propostas. Agora que temos orçamento para melhorar as cidade, qual seriam as ações? Como usar os recursos do pré-sal para desenvolver mais energias renováveis? Todas as crianças estão na escola, como melhorar agora a qualidade e evitar a evasão na pré-adolescência? A partir de que ponto o bolsa-família deve dar lugar a incentivos para geração de renda sustentáveis? Quais as propostas reais para a violência urbana? Como exercer liderança na América Latina sem se tornar o “império do sul”? Como evitar que o Atlético passe sufoco todo ano? (ta bom, eu sei, nem tudo tem solução)

O fato é que o direito da mulher de planejar sua vida reprodutiva é fato consumado, os padres que se virem pra adaptar sua igreja aos novos tempos ou continuar tendo que responder `a pergunta da minha filha quando tinha 5 anos ao ver uma missa na televisão: porque só tem velhinhos ali?

O mesmo vale para o casamento gay. Se a família é mesmo tão importante (e eu defendo que sim), qual o argumento contra estender esta possibilidade pra todos? Afinal de contas, tanto o aborto quanto o casamento são direitos. Quem não gostar que não os exerça.

Em resumo, no meio de tantos avanços dos últimos 8 anos esta eleição representa claramente um retrocesso no discurso. Importar esta conevrsa da direita religiosa norte americana foi a pior herança que o triste José Serra podia ter deixado. Lula saiu maior de cada eleição que perdeu. José Serra sai desta muito menor do que entrou.

Oxalá Dilma ainda guarde mineiridade suficiente para manter os avanços sem botar lenha nesta fogueira moralista, movida a hipocrisia como gosta a igreja desde a inquisição.

Fernando Lara

sábado, 13 de novembro de 2010

Ex-prefeito de Bogotá defende BRT para o Rio

Para Enrique Peñalosa, custo mais baixo e rapidez para construção são diferenciais competitivos dos sistemas de BRT

Flávia Ribeiro, do Rio de Janeiro


“O transporte de massa é a única solução para uma cidade grande. Mas qual transporte de massa escolher? O sistema de metrô é muito bom. Mas o BRT é igualmente bom ou melhor. É muito mais barato, para começar”. Quem afirma é Enrique Peñalosa, prefeito de Bogotá entre 1998 e 2002 e responsável por uma mudança na malha viária da capital colombiana a partir de 2001, quando entrou em circulação a primeira linha de BRT (Bus Rapid Transit, ônibus que circulam em faixas segregadas) da cidade, a TransMilênio.

Criado nos anos 70 em Curitiba, durante o governo de Jaime Lerner, e aperfeiçoado em Bogotá, onde há duas faixas para esse tipo de veículo, o BRT chegará ao Rio de Janeiro nos próximos anos com no mínimo quatro linhas: a TransOeste, que vai ligar a Barra da Tijuca a Santa Cruz, na zona oeste, por um custo de R$ 692,1 milhões, e que já está sendo construída; a TransCarioca, que ligará o Aeroporto Internacional Tom Jobim à Barra, que custará R$ 1,2 bilhão; a TransOlímpica, ligando Deodoro à Barra, com custo de R$ 2 bilhões; e a Transbrasil, um corredor cortando a Avenida Brasil de Santa Cruz, na zona oeste, ao Caju, na zona portuária, passando por quase 30 bairros – este, ainda sem orçamento aprovado. As quatro linhas fazem parte da reformulação viária da cidade para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.

Para Peñalosa, que participou de um painel no 14º Etransport, congresso sobre transporte que terminou hoje na Marina da Glória, no Rio, a cidade faz bem em apostar nos BRTs. “O quilômetro de metrô custa em torno de 250 milhões de dólares, enquanto o quilômetro de BRT sai a 15 milhões de dólares, em média. Uma linha leva um ano e meio para ser construída, enquanto no metrô o tempo é de quatro ou cinco anos. O metrô é mais rápido, é verdade. Mas o tempo de viagem no BRT muitas vezes é menor, porque há estações mais próximas, o que diminui o deslocamento a pé, e o tempo de espera entre um carro e outro é menor. Além disso, numa cidade linda como o Rio, cheia de gente bonita, não é agradável ter que se enfiar debaixo da terra, como um rato”, destacou o ex-prefeito, em uma veemente defesa dos ônibus.

A TransMilênio de Bogotá tem hoje 84 quilômetros, com mais 30 sendo construídos. Segundo Peñalosa, o plano é haver uma expansão contínua, até chegar a cerca de 400 quilômetros. Nas ruas atendidas pelos BRTs, outra vantagem é a diminuição da poluição. “Na Carrera 7ª, que não tem TransMilênio, a emissão de poluentes é 300 vezes maior do que na Via Caracas, por onde passam dez vezes mais passageiros ao longo de um dia – graças ao TransMilênio”, afirmou.

Peñalosa, no entanto, avisa que nem o sistema de BRT nem a expansão do metrô vão acabar com os engarrafamentos no Rio de Janeiro. “Não esperem que isso aconteça. Os únicos jeitos de acabar com engarrafamento são fazer sistema de rodízio de carros, diminuir o número de estacionamentos de rua, cobrar pedágios e taxar o combustível. A taxação do combustível acontece, por exemplo, na Colômbia. É de 25%, dinheiro revertido para a melhoria do transporte público. Só assim as pessoas deixam os carros em casa”, alerta.

Fonte: Veja on-line

Arquitetura & eleições

“Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu”

Nordeste versus Sul 
Ao contrário da Arquitetura Moderna brasileira, que sempre privilegiou a produção arquitetônica do Sul, com ênfase a projetos arquitetônicos do eixo Rio - São Paulo, o resultado das eleições presidenciais revelou de fato a cara de um país dividido entre o Sul e Nordeste, cuja maioria da população continua excluída da saúde, da educação e, inclusive, da Arquitetura.

Alguns analistas políticos insistiram em afirmar que foram os eleitores do Nordeste, graças à bolsa-família e ao programa “minha casa, minha vida”, quem decidiram, com um xeque-mate, a vitória da candidata do PT (?). Região, onde ela chegou a receber cerca de 2/3 dos votos válidos sobre o adversário.

Vitória, por sinal (não dá pra camuflar), que traz à tona a intolerância regionalista que persiste no subconsciente de muitos sulistas e nordestinos, a exemplo da reação de um cidadão, num twiter, conforme resgistra o jornal “diário de são paulo” (2/11/2010): “nordestino não é gente...” Que horror! Ou do comentário de um faxineiro do prédio, onde, habito: “Ah, o Serra só pensa nos ricos”!

Agenda arcaica - Vocês, contudo, perguntarão: arquitetura & eleições? O que tem a ver uma coisa com a outra? Se refletirem a fundo, verão que tem muito a ver.

Pra começar, durante os debates, por sinal, enfadonhos, nenhum dos candidados, seja a Dilma ou o Serra, abriu uma janela para o debate de novas questões e assuntos emergentes deste início do século XXI . Muitos dos quais, devemos reconhecer, foram sinalizados e abordados pela candidata, na contramão, Marina Silva, do PV.

Desafio – Pra começar: qual o candidato falou ou apresentou propostas concretas em relação a desafios sobre fatores e temas que poderão desenhar o futuro?.

Entre tantos temas, não podemos nos esquecer:

- da qualificação da habitação popular, que continua refém da especulação do mercado imobiliário; objeto de inúmeras promessas eleitorais poucas vezes alcançadas

- do planejamento urbano num país com mais de 70% de seu território urbanizado, mas com muitas cidades à beira do caos ou de um ataque de nervos

- das drogas. Que circulam livremente pelos becos de muitas cidades brasileiras. Aliás, Dilma foi a única a se referir à Cracolândia, que além de São Paulo, se espalha por outras cidades do país.

*
(por sinal, o blog arqPB coordenado pelo jovem Oliveira Jr, foi o primeiro veiculo editorial especializado na área da Arquitetura a publicar um texto sobre a polêmica Cracolândia) ;

- da falta de infra-estruturas de saneamento básico e de uma política em defesa da Amazônia e de uma posição clara e inovadora sobre a política ambiental;

- da ausência de pesquisas de novas energias limpas e de novos materiais para a construção de uma arquitetura sutentável;

- da redução dos juros, os mais altos do mundo, que se refletem na execução de projetos e no bolso do cidadão e do cliente:

- da ausência de uma diretriz para a ocupação do solo e do território nacional, além da busca ade novas alternativas para a mobilidadade e circulação conectada a critérios de sustentabilidade, entre as quais estariam os rios , a exemplo do rio Tietê, em São Paulo, que há muito tempo vem defendendo o arauto Paulo Mendes da Rocha;

- e, inclusive, do resgate reciclado de técnicas construtivas sustentáveis antigas - alvenaria, pedra, barro batido, taipa etc. A exemplo do protótipo Cajueiro Seco, de Acácio Gil Borsoi, que utilizando-se de protótipos pré moldados da taipa imaginou um modelo mínimo de habitação possível com dignidade, nos anos 60;


Batatas quentes!

Resumindo: aos eleitos, enfim, resta a advertência de um antigo provérbio: “ aos vencedores, as batatas”! Por sinal, cada vez mais quentes, com uma tropa de elite, que já vimos no passado, voltando à cena.

Aos decepcionados, entre os quais eu me incluo, que por vários motivos optaram pela abstenção, resta o grito de guerra e de independência do psicanalista Roberto Freire: " viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu"! À espera de uma bolsa-cidadão, com direito, inclusive, à Arquitetura, também!

José Wolf

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Modelagem para leigos

Google Building Maker

Google disponibiliza ferramenta para modelagem de edifícios a partir das imagens do próprio Google Earth. Voltada para leigos e iniciantes o Google Building Maker é uma ferramenta que utiliza  serviços voluntários dos seus usuários para auxiliar a empresa num ambicioso projeto de tornar o ambiente do Google Earth totalmente tridimensional e cada vez mais interativo. 

Vale a pena conferir o víedo abaixo:



Para maiores informações acesse o link:
http://sketchup.google.com/intl/pt-BR/3dwh/buildingmaker.html

Habitação de Interesse Social em Pauta


No dia 04 de novembro de 2010 o Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento da Paraíba e o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado da Paraíba estarão realizando o II Seminário em Habitação de Interesse Social: alternativas e desafios futuros.

O evento discutirá a Lei de Assistência Técnica gratuita para famílias que ganham até 3 salários mínimos (Legislação habitacional e urbana 11.888) e apresentará painéis sobre boas práticas em habitação de interesse social.

A cerimônia de abertura acontecerá no auditório às 19h no CREA-PB, Avenida Dom Pedro I, 806, Centro, João Pessoa-PB.

Fonte: IAB-PB