terça-feira, 17 de junho de 2008

Cláudio Florentino

CENTRO DISSEMINADOR DE TECNOLOGIAS SOCIAIS
A terra crua como alternativa para uma arquitetura sustentável


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Diante do panorama de degradação ambiental global, escassez de matéria prima, água, energia, aumento da poluição, como também os impactos negativos gerados pela indústria da construção civil, é necessário refletir sobre possíveis alternativas para combater o uso excessivo dos recursos energéticos através de princípios projetuais que tragam a sustentabilidade como parâmetro. Este estudo evidenciou possíveis alternativas construtivas, cujo enfoque se deu a edificações de baixo custo voltadas a comunidades rurais e assentamentos.
Além disso, um dos objetivos desse trabalho foi a busca pelo resgate das técnicas vernaculares de construção associadas a novos processos e materiais de baixo impacto ambiental, trazendo a terra crua como elemento de destaque no processo construtivo, buscando uma maior economia, conforto térmico e preservação dos recursos. Este projeto apresenta as técnicas em terra mais conhecidas e empregadas em todo o mundo, além de novos processos construtivos e sistemas alternativos de saneamento e produção agrícola que buscam a reciclagem e o máximo de aproveitamento através dos princípios do design permacultural.
A proposta para o Centro Disseminador de Tecnologias Sociais foi baseado no programa de necessidades da Agência Mandalla, uma OSCIP (Organização Social Civil de Interesse Público), localizada no município de Cuité-Pb que tem como missão “Transformar a agricultura familiar em um negócio, economicamente rentável, socialmente responsável e ambientalmente sustentável”.

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O PARTIDO ARQUITETÔNICO

O partido geral do anteprojeto buscou adotar uma arquitetura simples com edificações térreas e linhas harmônicas que buscaram explorar além da qualidade estética do espaço construído, a plasticidade oferecida por uma diversidade de técnicas construtivas em terra crua associada a materiais de construção alternativos e locais. A integração com a natureza foi outro ponto contemplando, cuja presença do automóvel foi restringida, exceto em alguns casos especiais, os quais mereceram uma maior atenção. Para gerar esta separação entre o pedestre e os automóveis o estacionamento teve que ser posicionado a uma certa distância dos equipamentos, sendo criado um controle através de cercas e portões, fazendo com que os visitantes tivessem um maior contato com o espaço e pudessem apreciar melhor a área durante o passeio através de caminhos orgânicos evitando a monotonia dos passeios e buscando proporcionar percursos mais agradáveis pelo espaço na medida em que novos visuais se criariam a cada local. Além disso, contemplou-se o emprego do design permacultural na disposição e inter-relação das edificações, o que gerou, como resultado, equipamentos com uma boa qualidade térmica e adequados às suas finalidades.

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ZONEAMENTO
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O zoneamento da área foi baseado nos princípios do design permacultural, onde todos os elementos buscam uma interação harmônica e sustentável. Neste caso, foi utilizado o planejamento por zonas, que trata da localização dos equipamentos de acordo com a quantidade e freqüência em que são utilizados, sendo empregadas informações coletadas pela observação e análise do sítio para projetar espaços mais sustentáveis e altamente produtivos.
Como foi dito anteriormente, a distribuição dos equipamentos seguiu o planejamento por zonas que podem ser descritas, resumidamente, segundo Mollison (1994) em:

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Zona 0: È o centro das atividades que pode ser uma casa, galpão ou, em escala maior, uma vila.
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Zona 1: É a área que se encontra mais perto do centro, é a mais controlada e intensamente utilizada podendo conter jardins, oficinas, estufas e viveiros. Nesta área, possivelmente teremos poucas árvores de grande porte, não sendo obstante dependendo da necessidade de sombra.
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Zona 2: É uma área ainda mantida intensivamente com o plantio denso (arbustos maiores, pomares mistos e de pequenas frutas, além de quebra-ventos).
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Zona 3: Esta zona contém pomares não podados, pastagens maiores para animais de abate ou para manter uma plantação principal, requerendo menos manutenção do que as outras duas zonas.
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Zona 4: É um espaço semi-manejado e semi-selvagem.
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Zona 5: É a ultima zona e compõe o sistema selvagem
Devido a restrição da área, o projeto foi desenvolvido e implantado até a zona quatro.

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SISTEMAS CONSTRUTIVOS
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Os sistemas construtivos empregados são em quase sua totalidade baseados na utilização da terra crua como matéria prima fundamental, sendo uma forma de resgate das tradições vernaculares no emprego de determinadas técnicas, além da inserção de novos modelos tecnológicos desenvolvidos para o bom aproveitamento dos recursos naturais locais visando a conservação e preservação da natureza. Além da terra, buscou-se a utilização de materiais que possuíssem características que fossem condizentes com os conceitos de preservação e sustentabilidade do meio ambiente como, por exemplo, madeira de reflorestamento, bambu, produtos desenvolvidos através de reciclagem como as telhas feitas de PET e resíduos derivados de embalagens Longa Vida, compensados feitos com resíduos da bananeira e pupunha, materiais este com alto valor agregado em relação à qualidade e possibilidades de utilização, como na confecção de móveis de alto padrão.
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SANEAMENTO

Como a área não possui estrutura de saneamento, por estar localizada na zona rural, foram estabelecidos parâmetros para a implantação, acondicionamento e tratamento dos resíduos produzidos pelo Centro.
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Sanitários compostáveis
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Uma das soluções adotadas para tratar os dejetos humanos produzidos no Centro foi a utilização dos sanitários compostáveis, solução bastante condizente com as necessidades locais por ser um equipamento ecologicamente correto, não poluindo assim o meio ambiente, além de gerar economia de água devido a sua não utilização.
O equipamento foi desenvolvido para oferecer o máximo de benéficos, visto que todos os resíduos produzidos são armazenados e transformados, através de um processo de compostagem, em húmus que será utilizado na produção agrícola. Os sanitários compostáveis desenvolvidos pelo IPEC sofreram algumas modificações para melhor atender as necessidades dos usuários, como por exemplo, a implantação de vasos sanitários feitos em fibra, o que proporciona um maior conforto para os mesmos.
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Tratamento das águas cinzas e negras

O sistema de tratamento das águas cinzas e negras foi implantado para reciclar a água o máximo de vezes possível antes que esta saia do sistema, seguindo a metodologia pregada pela permacultura. Para tal se fez uso da biorremediação que consiste em sistemas vegetais (árvores, arbustos, plantas rasteiras e aquáticas), associados a microorganismos capazes de degradar ou isolar substâncias tóxicas dos solos contaminados por poluentes orgânicos e inorgânicos.
Nos locais onde não se pode instalar os sanitários “secos” foram utilizados, para tratar os resíduos, infiltradores sépticos, que ao contrário das fossas sépticas, as quais apenas decompões os sólidos não eliminando as bactérias staphilococos que contaminam a água, decompõe toda a matéria orgânica através de plantas filtradoras em associação a microorganismos anaeróbicos, os quais absorvem a matéria orgânica proveniente das fezes filtrando as águas negras, as quais após estarem limpas, infiltram-se no solo.
Já para o tratamento das águas cinza, foram utilizados dois sistemas: as lagoas de fitorremediação e o “circulo de bananeiras”, que além de proporcionar o tratamento das águas, gera alimentos que serão consumidos pela população local, sendo uma forma simples e extremamente eficiente de reciclagem da água.


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FICHA TÉCNICA

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Projeto: Centro Disseminador de Tecnologias Sociais
Instituição: UNIPE
Ano: 2007
Orientadora: Maria Helena Azevedo
Imagens: Acro

2 comentários:

  1. Adorei o tema e principalmente o projeto, pelo menos o que deu p perceber por aqui.
    Gostaria de entrar em contato com vc para podermos trocar algumas figurinhas em relação a sustentabilidade. Vc já fez curso no IPEC? Vi muita semelhança nas suas tecnicas.

    Meu contato é andersonmourao20@gmail.com.

    Abraço e paz.

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