sábado, 28 de maio de 2016

Casacadabra: livro de arquitetura para crianças é lançado no Catarse



Publicação apresenta uma viagem de descobertas por pequenos segredos da arquitetura, conhecendo dez casas por todo o mundo – quatro delas no Brasil

São Paulo, 13 de abril de 2016 – Com brincadeiras, interatividades e exercícios propostos para fazer em casa ou na escola, o livro Casacadabra, lançamento da Pistache Editorial, leva o leitor a descobrir segredos e detalhes da arquitetura, ao mesmo tempo em que percebe as casas como espaços lúdicos: uma casa redonda, um dragão que mora no telhado, ou a casa em cima da cachoeira.

Palavras a princípio complicadas – brise soleil, um pilotis ou uma estrutura em balanço – são explicadas de maneira simples e didática, e com ilustrações de Carolina Hernandes, designer e ilustradora formada pelo IED. A proposta do Casacadabra é ser leitura e também objeto de brincadeira e aprendizado, sempre estimulando a criança a pensar sobre sua casa e sua cidade, e desenvolver maneiras de ver o mundo à sua volta.

"Se o ensino de arquitetura começar pela criança, as cidades têm a chance de receber, no futuro, um olhar mais crítico e apurado de quem a constrói, na busca de melhores soluções urbanas", propõem Bianca Antunes e Simone Sayegh, idealizadoras do projeto e responsáveis pelo texto e edição. Bianca é jornalista e trabalha há 12 anos na difusão de arquitetura em mídia especializada, assim como Simone, que é arquiteta de formação.

A publicação traz dez casas construídas pelo mundo e assinadas por arquitetos famosos.  Do exterior, a Casa Batlló em Barcelona, de Gaudí, ou a Fallingwater, nos Estados Unidos, de Frank Lloyd Wright. Quatro projetos brasileiros têm destaque: a Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi, a Casa Bola, de Eduardo Longo, a casa Grelha, de FGMF, e um edifício cheio de casas: o Copan, de Oscar Niemeyer.

Porque um livro de arquitetura para crianças
As autoras partem da ideia de que as cidades serão mais justas e humanas quando a arquitetura e o urbanismo começarem a ser ensinados desde o princípio: nas aulas de ensino básico, fundamental, médio e não apenas nas salas de aula das faculdades de arquitetura. Nos livros para as crianças, e não apenas em artigos acadêmicos. "Acreditamos na educação para abrir os olhos das pessoas, desde cedo, para o lugar em que vivem. Casacadabra é um pequeno passo para essa transformação", dizem as autoras.

Hoje mais de 50% da população mundial mora em cidades (no Brasil, esse número sobe para 85%). A lógica das construções é algo que pode ser acessível a todos, mas hoje não é automaticamente visível. "Se quisermos cidades melhores, precisamos aprender os princípios da arquitetura desde cedo, aprender a ler a cidade, seus códigos ocultos", dizem.

A qualidade do espaço pode mudar comportamentos, melhorar a convivência entre as pessoas, aumentar percepções e a apropriação do próprio espaço, desde a pequena escala da casa. Alerta disso, a criança cresce e cria, também, a consciência crítica em relação à cidade.

Financiamento coletivo
Casacadabra é uma iniciativa pioneira no Brasil de trazer conteúdos específicos de arquitetura para o público infantil. O livro foi lançado dia 13 de abril na ferramenta de financiamento coletivo Catarse (catarse.me/casacadabra).

Há contrapartidas de 30 a 173 reais – que vão desde um agradecimento no site, passando pelo livro e recompensas como maquetes de papel da Casa de Vidro para recortar e montar, feitas especialmente para o projeto por Valéria e Roberto Fialho (Nave Arquitetos). Há outras contrapartidas especiais a partir de 1 mil reais.

A equipe também busca apoios e patrocínios para que não apenas a produção do livro seja financiada, mas também atividades educativas relacionadas ao Casacadabra, levando a publicação às ruas e gerando discussões.

"Somos uma editora independente e Casacadabra é nossa primeira publicação. A divulgação pelo Catarse nos ajuda a encontrar nossos leitores e a disseminar nossas ideias", contam as autoras. A aposta é que o financiamento colaborativo ajude a conquistar leitores, para que a publicação aconteça e possa gerar novas edições, que continuem tratando do tema urbano para o leitor infantil e infanto-juvenil.

As autoras
BIANCA ANTUNES é jornalista formada e mestre pela ECAUSP (2000 e 2008), pós-graduanda na Escola da Cidade (2015) e atua há 12 anos na difusão da arquitetura. É editora da revista AU – Arquitetura e Urbanismo (Editora PINI) desde 2009, e foi editora-assistente da mesma revista de 2004 a 2009. É autora de livros de arquitetura pela editora C4 e BEI, organizadora do livro Entrevistas (Editora PINI) e colaborou com o Dutch Culture/Ministério da Cultura da Holanda na atualização de um mapeamento cultural brasileiro na área de arquitetura (2015).

SIMONE SAYEGH é arquiteta formada pela FAUUSP (1995) e trabalha há 15 anos na difusão da arquitetura em revistas especializadas e sites para o público final, como revista AU – Arquitetura e Urbanismo (Editora PINI) e UOL. Seus textos constam em livros de arquitetura e livros técnicos.

Para a realização de Casacadabra, a Pistache Editorial conta com o trabalho de CAROLINA HERNANDES, responsável pelo projeto gráfico e pelas ilustrações. Carolina é designer e ilustradora formada pelo Istituto Europeo di Design (2014), cursou arquitetura e urbanismo na FAUUSP e é pós-graduanda em planejamento e produção de mídia impressa pelo Senai SP (2016).

O livro
Casacadabra apresenta dez casas pelo mundo: Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi (São Paulo, Brasil); Casa Bola, Eduardo Longo(São Paulo, Brasil); Edifício Copan, Oscar Niemeyer (São Paulo, Brasil); Casa Grelha, FGMF (Serra da Mantiqueira, Brasil); Casa Dymaxion, Buckminster Fuller (Estados Unidos); Fallingwater, Frank Lloyd Wright (Mill Run, Estados Unidos); Casa Batlló, Antoni Gaudí (Barcelona, Espanha); Bedzed, Bill Dunster (Londres, Inglaterra); Casa NA, Sou Fujimoto (Tóquio, Japão) e Quinta Monroy, Elemental (Iquique, Chile)

Páginas 80 páginas
Dimensão 21 cm x 21 cm
Texto Bianca Antunes, Simone Sayegh
Ilustração Carolina Hernandes
Editora independente Pistache Editorial (www.pistacheeditorial.com.br)
Lançamento setembro de 2016 (previsão)

Para participar do financiamento coletivo, acesse: catarse.me/casacadabra

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Site: www.pistacheeditorial.com.br
Facebook: facebook.com/livrocasacadabra
Catarse: catarse.me/casacadabra

Contatos para entrevistas:
Bianca Antunes
antunes.bia@gmail.com
11 98387 8863

Simone Sayegh
sisayegh@uol.com.br
11 99734 7704

A NOVA GERAÇÃO E A REINVENÇÃO DO MERCADO

CAIXINHA DE UM METRO CÚBICO
Denise Cazé e Déborah Kyvia
Arquitetas Déborah Kyvia e Denise Cazé

Cursamos arquitetura e urbanismo, uma das carreiras que mais nos apresentam possibilidades profissionais. Independente da grade de nossas faculdades, de termos ou não nos aprofundado em determinados assuntos, sabemos da existência de uma infinidade de caminhos: projeto de arquitetura, design, paisagismo, urbanismo, história, pesquisa, construção, cenografia... Ufa!No princípio, somos expostos a um universo novo e encantador, onde tudo é possível, tudo gira em torno da criação, da liberdade, da expressão. Depois, somos moldados pela realidade, pelos poréns, pelos caminhos mais fáceis. Ao final, saímos da universidade com as nossas “caixinhas de um metro cúbico” e fazemos delas as nossas zonas de conforto. Juntamo-nos a centenas de outras caixinhas como as nossas e ficamos ali; procurando que alguém olhe pra nós. Mas como, se minha caixa é igual às outras? Como me destacar? Ah, joga aí um acabamento diferente!Nãaaao! Bem, não só isso. Acho que devemos mesmo é romper esses limites, sair, nos mostrar, arriscar, enxergar além, ver quem está do nosso lado, buscar parcerias, conversar, criar, inovar.A ideia aqui, não é, de modo algum, desmerecer o segmento mais numeroso da nossa classe: o dos profissionais especializados em projeto de arquitetura. É apenas para olharmos para outras possibilidades ou mesmo perceber, por meio de novas lentes, aquilo que já conhecemos.Exposto isso, venho apresentar a forma que eu e Déborah Kyvia encontramos para sair da caixa: A Levante Arquitetura. 

Percebemos uma lacuna no mercado – referente a serviços de extrema importância para arquitetos, engenheiros, construtoras e clientes de maneira geral – e decidimos preenchê-la. Observando o extenso conjunto de atribuições que o arquiteto possui e pensando na necessidade de adequação aos curtos prazos, criamos uma empresa de prestação de serviços de arquitetura, mas que não envolve projeto arquitetônico. Trabalhamos com as built (como construído), compatibilização de projetos e levantamento. As construtoras precisam, cada vez mais, de projetos compatibilizados para evitar retrabalho e perda de tempo e material na obra, além do as built das grandes edificações, que, muitas vezes, sofrem modificações no momento da execução. O levantamento arquitetônico é importante quando é necessário saber a situação atual de uma edificação, seja para um projeto de reforma, em processos de regularização de imóvel perante órgãos fiscalizadores, ou para cadastro de uma construção e obras em áreas de patrimônio histórico, já que, muitas vezes, os proprietários não possuem o projeto original.Algumas pessoas ainda tem em mente que a terceirização é uma alternativa cara, porém, se pensarmos de forma ampla, economiza-se em energia e custos com funcionários e, na maioria das vezes, ganha-se em qualidade. Além disso, a divisão de tarefas gera a otimização do tempo, tempo este que vale dinheiro, dinheiro este que, hoje em dia, está em falta. 

E você? O que tem de novo para apresentar? Vamos, vamos juntos!  
levantearquitetura@gmail.com 
(83) 9 9985-4146 - Déborah 
(83) 9 9657-5551 - Denise                                                                                                                                                                               

domingo, 23 de novembro de 2014

O vazio dentro do vazio


A vanguarda não morre jamais
Oliveira Júnior¹


José Wolf
Foto: Oliveira Júnior
Hoje completam dois anos da morte do jornalista José Wolf, um dos mais respeitados profissionais especializados em crítica jornalística de arquitetura e urbanismo no Brasil. Foi seminarista da Arquidiocese de São Paulo e entre 1976 e 2002 Trabalhou no Jornal do Brasil, na Folha de São Paulo e na Editora Pini. Durante quase 30 anos Wolf dedicou sua vida à difusão da arquitetura como um fato cultural. Tinha uma cabeça à frente do seu tempo e procurou viajar o país inteiro em busca de fatos novos na produção arquitetônica fora do eixo sul-sudeste ou na revelação de jovens arquitetos. Acreditava que o repórter deveria estar junto aos protagonistas dos acontecimentos.
 Segundo a própria Editora Pini “José Wolf teve importante colaboração na fundação da revista AU - Arquitetura & Urbanismo, em 1985, e trabalhou entre as funções de editor e repórter da revista até 2002, participando como colaborador esporádico” até seus últimos dias. Além de “reportagens memoráveis, como a entrevista com Oscar Niemeyer em 1987, realizada no escritório do arquiteto, e trouxe a interdisciplinaridade e a poesia para o jornalismo de arquitetura, ao entrevistar nomes como o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna (publicada em fevereiro de 2001).
“As 15 primeiras edições da AU, a partir de 1985, foram publicadas com o benefício de sua direção editorial, fundamentada por sólida cultura, domínio técnico e sabedoria”. Com José Wolf à frente da revista AU, “a Pini deixou para trás o emblema de ‘editora de revista de preços’, para se tornar uma editora premiada no Brasil e no exterior, pela produção da mais inovadora e apreciada revista de arquitetura do país”, asseverou Mario Sérgio Pini².
Clevio Rabelo³ escreveu em artigo no portal vitruvius que “os anos 1980 foram pródigos para a crítica de arquitetura nacional, em especial em face à abertura política que já se vislumbrava”. Nomes  como Hugo Segawa, José Wolf, Sérgio Teperman, Anna Regina di Marco e Ruth Verde Zein se destacaram no chamado jornalismo de arquitetura, com um discurso crítico pautado em “uma procura por um sentimento de latinidade na produção nacional e a valorização de trabalhos examinados como regionais, nos quais os dogmas da arquitetura moderna tivessem sido substituídos por um exame mais aprofundado da cultura das diferentes localidades brasileiras”.
Em se tratando da abordagem e dos conteúdos produzidos na década de 80 e 90  pelas revistas especializadas em arquitetura e urbanismo no Brasil, Mario Pini² credita a José Wolf a liderança de “uma transformação ainda hoje pouco percebida”. O vazio deixado por sua morte recria o vazio da hegemonia arquitetônica nacional, pontuado numa produção com sotaque sulista, da laje impermeabilizada, do aço, do vidro e do concreto.
Enquanto isso, os periódicos dos países latino-americanos enxergam na diversidade do “regionalismo” a própria expressão cultural e a identidade arquitetônica brasileira. Um país de dimensões continentais como o nosso ainda parece longe de resgatar o espírito vanguardista do jornalista José Wolf, em escrutinar o território nacional em busca de novos valores, e de um recorte mais plural que revele as multifaces da arquitetura brasileira. 
Temos uma enorme dívida com este que foi um dos maiores nomes do jornalismo de arquitetura nacional. Mais cedo ou mais tarde, certamente José Wolf será redescoberto, e sua importância para a historiografia da arquitetura brasileira será investigada e revelada em sua plenitude pela pesquisa acadêmica e  pela mídia especializada, aqui ou em alhures.

Notas
1.      Oliveira Júnior é Arquiteto e Urbanista pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo PPGAU/UFPB, Diretor do escritório 7S34W e professor de Projeto e de Urbanismo pelo Centro Universitário de João Pessoa.
2.      Mário Sérgio Pini é Arquiteto e Diretor da Editora Pini.
3.      Clevio Rabelo é Arquiteto e Urbanista, formado pela Universidade Federal do Ceará em 2001 e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O arquiteto paraibano que construiu Brasília


Bravos Candangos: arquiteto trabalhou na construção da cidade desde 1957


Glauco Campello¹ colaborou com a nova capital antes mesmo da escolha do projeto do Plano Piloto. Ele lembra-se de ter ajudado as filhas de Lucio Costa a desembrulhar as pranchas que continham os riscos e os textos da nova capital
Conceição Freitas


No início da noite de 11 de março de 1957, duas garotas agitadas entraram correndo no saguão do Palácio Gustavo Capanema. Carregavam pequenos pacotes. Um jovem estudante de arquitetura reconheceu uma delas, sua colega de faculdade. Correu para ajudá-la a desembrulhar os volumes para libertar uma cidade feita de asas. As moças eram as filhas do arquiteto Lucio Costa, Helena e Maria Elisa Costa. O rapaz que as ajudou era Glauco Campello, que àquela altura já havia contribuído no detalhamento dos projetos do Palácio da Alvorada e do Brasília Palace Hotel.

O bravo candango de 76 anos participou da construção da cidade desde antes do concurso do Plano Piloto. Esteve colado com Oscar Niemeyer, seu mestre; foi amigo de Samuel Rawet, engenheiro-calculista de algumas das mais importantes obras da cidade; e conviveu com outro engenheiro que calculou as estruturas dos palácios de Niemeyer, Joaquim Cardozo. De seu escritório de arquitetura, no Rio de Janeiro, o ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ativou a memória e relembrou “um momento vigoroso do país, de conquistas fundamentais para a formação do Brasil”.

O testemunho de Campello é triplamente importante: pelo pioneirismo, pela proximidade com Niemeyer e pela singularidade de seu olhar, ao mesmo tempo humano, político e social. O arquiteto era ainda um estagiário quando se apressou a ajudar as duas filhas de Lucio Costa. Elas chegavam à então sede do Ministério da Educação no último minuto do prazo para inscrição dos projetos candidatos ao concurso do Plano Piloto. “Quando começamos a desembrulhar e montar as pranchas do projeto, vimos que eram de uma singeleza que me espantou. E ao mesmo tempo tinha um encanto muito especial. Digo com orgulho que naquele tempo eu fui capaz de perceber esse encanto. Meu primeiro contato com Brasília aconteceu antes de ela existir.”

Pouco tempo depois, Glauco Campello veio morar em Brasília, recém-casado. Alojou-se numa das unidades da Fundação da Casa Popular, na W3 Sul, e de lá saía de caminhão ou de caminhonete para o barracão instalado onde hoje está o Ministério da Justiça. “Era um ritmo alucinante, baseado sobretudo num emprego de mão de obra maciça. Tirava-se partido de uma mão de obra que estava ali numa oferta provavelmente a preços muito cômodos”, comenta o arquiteto de formação marxista. Se era cordial o clima entre operários, arquitetos, 
"Digo com orgulho que naquele tempo eu fui capaz de perceber esse encanto. Meu primeiro contato com Brasília aconteceu antes de ela existir"
engenheiros e técnicos, na Cidade Livre o contato adquiria uma atmosfera muito mais democrática.

Aprendizado
Campello não romantiza a convivência entre operários e profissionais qualificados. “Não quero dizer que os arquitetos e os engenheiros se sentavam com os operários, a não ser em relações de trabalho. Mas isso era possível acontecer nas diversões da Cidade Livre. Havia um homem muito vivo, cheio de esperteza, que tinha o apelido de Quebra-Galho, que também era chamado de Pará, estado de onde veio. Pará fazia com que rompêssemos as barreiras sociais, uma coisa tão bonita que acontecia sem que a gente percebesse.”

O jovem estudante de arquitetura que deixou Recife para tentar um estágio no escritório de Oscar Niemeyer conseguiu o que queria e muito mais do que imaginava: participar da mais monumental aventura da arquitetura e do urbanismo brasileiros. Além de detalhar os projetos do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, Campello assinou suas próprias obras. São dele o projeto da Catedral Episcopal Anglicana (na 309/310 Sul), as capelas do Campo da Esperança, a primeira sede da Rede Sarah e o projeto de equipamentos do Parque da Cidade.

Foto: Igreja Episcopal - Brasília / 1961
Fonte: http://www.glaucocampello.com.br/projeto/378

Durante a construção da capital, Campello conviveu com grandes mestres de sua área de conhecimento e de áreas circunvizinhas. Teve o privilégio de estar próximo de Joaquim Cardozo e Samuel Rawet, por exemplo. “O Cardozo, eu conhecia de Pernambuco. Me lembro de que ia visitá-lo no escritório. Ele me cumprimentava, nos sentávamos e a partir de um mote qualquer ele falava uma meia hora de forma contínua, ampla e extremamente culta. Eu ficava fascinado com aquilo, e então chegava a hora e ia embora. Era disso que constava minha visita”, relembra.


Com Samuel Rawet, o outro engenheiro-literato de Brasília, as relações foram mais pessoais, e desse modo o arquiteto pôde conviver com a “alma torturada, complexa” do contista. Glauco Campello conta que Rawet teve uma “briga injustificável” com Cardozo, talvez por conta de uma mania de perseguição que o fazia acusar o principal calculista de Niemeyer de atitudes “absolutamente injustificadas”. Rawet foi encontrado morto na casa onde morava em Sobradinho em 1984.

Idas e vindas
Pouco tempo depois de a cidade ser inaugurada, Campello voltou para Recife, atraído pela “força de gravidade da família e dos velhos amigos”. Mas outra força, em sentido contrário, o trouxe de volta a Brasília. Veio participar da criação do curso de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). Ficou até 1968, quando aderiu à demissão coletiva de mais de 200 professores em represália à perseguição política da Reitoria a alguns colegas. O arquiteto voltou a morar em Brasília uma terceira vez, nos anos 1990, quando assumiu a Presidência do Iphan nacional. A esse tempo, a capital já havia recebido o título de Patrimônio da Humanidade. “Retomei meu contato com a cidade para liderar uma instituição que cuidava da preservação”, resume. O projeto de Lucio Costa, que ele havia ajudado a desembrulhar, continuava cruzando seu caminho em trechos extensos e intensos.

Foto: Hospital do INPS – Recife / 1970
Fonte: http://www.glaucocampello.com.br/projeto/390

Foto: Terminal Rodoviário, João Pessoa
Fonte: http://www.glaucocampello.com.br/projeto/388



É preciso ter cuidado, Campello comenta, para não confundir o tombamento de um edifício, de um objeto cristalizado, com o de uma cidade. Ela é um organismo em evolução. Há trechos que vão permanecer imutáveis, porque foram tombados. A Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, por exemplo. Ou as escalas (a gregária, a monumental, a bucólica, a residencial). Para o arquiteto modernista, a Brasília real está se desenvolvendo ao mesmo tempo em que o projeto de Lucio Costa mantém as suas qualidades, ressalvadas algumas exceções. Ele cita, por exemplo, os setores hoteleiros Sul e Norte com sua urbanização precária: “A iniciativa privada constrói os edifícios e não cuida do entorno, das calçadas, dos jardins”.

A propósito dos escândalos políticos e da desigualdade social na capital do país, Campello diz que Brasília tem “uma grande importância simbólica que está acima de tudo isso”. E que seus maiores problemas, a precariedade de seus representantes e a extrema distância entre ricos e pobres, só se resolverão quando o Brasil resolver seus graves problemas. Afinal, Brasília é o Brasil.

Notas

1. O arquiteto Glauco Campello nasceu em Mamanguape (PB), em 24 de julho de 1934. Iniciou seus estudos universitários na Escola de Belas Artes do Recife e graduou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, em 1959. Colaborador de Oscar Niemeyer, participou da construção de Brasília e, em seguida do Centro de Planejamento da UnB, como professor de pós-graduação. De 1972 a 1975, esteve na Itália como responsável pelo desenvolvimento do projeto de Niemeyer para a sede da Editora Mondadori, em Milão. Na ocasião, elaborou trabalhos de arquitetura para Cless e Ascoli, na Itália, e para Saint-Florent, na Córsega. De volta ao Brasil, realizou projetos para o Rio de Janeiro e outros estados, vencendo concursos nacionais de arquitetura, e interessando-se, também, pelos problemas de restauro e revitalização de centros históricos. Foi professor titular (anistiado) da Universidade de Brasília (1988 – 1991) e presidente do Instituto do Patrimônio Cultural (1994) e do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1994 – 1998). Atualmente dedica-se a estudos e projetos de arquitetura, em seu escritório no Rio de Janeiro.

Fontes:
http://www.correiobraziliense.com.br
http://www.glaucocampello.com.br

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Velho Recife Novo

Velho Recife Novo
Contravento
contraventorecife@gmail.com


Oito especialistas de diversas áreas (arquitetura e urbanismo, economia, engenharia, geografia, história e sociologia) opinam sobre a noção de espaço público na cidade do Recife e destacam temas como: a história do espaço público na cidade, o efeito dos projetos de grande impacto no espaço urbano, modos de morar recifense, a relação entre a rua e os edifícios, a qualidade dos espaços públicos, legislação urbana, gestão e políticas públicas e mobilidade.



Velho Recife Novo from contravento on Vimeo.




quinta-feira, 14 de junho de 2012

Arquitetura & meio ambiente


A HORA E A VEZ DE UMA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL!
(rumo à Rio+20)
José Wolf                              


Ponto de partida - Emocionado, o astronauta soviético, Yuri Gagarin, em sua viagem espacial, em 1961, proclamava ao mundo:  a “terra é azul”. Mas, será, que nosso planeta, vítima de tantos desastres ecológicos e do efeito estufa em consequência de atos de desrespeito à natureza e ao meio ambiente continua azul?

Imagem: astronauta no espaço
Fonte: Google

Desafio – Para mantê-la azul, evitando que ela  se transforme em cinza, ambientalistas, arquitetos, ecologistas, integrantes de ong`s, cientistas estão se engajando numa verdadeira cruzada verde em defesa do meio ambiente e da natureza.    

Ao mesmo tempo, iniciativas e programas oficiais incentivados pela Unesco se ampliam na busca de respostas e soluções para um mundo mais sustentável, por meio de encontros e conferências, a exemplo da Rio+20, que acontecerá no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho. 

Imagem: vista aérea do Rio de Janeiro
Fonte: Google

Utopia? Em matéria de capa, a revista Planeta (número 474), sob o título “Rio+20: o bonde da utopia”, questiona:
  “o que é sonho e o que pode ser real na Conferência global sobre meio ambiente, que a ONU promove no Rio de Janeiro”?

A conferência, que deverá reunir centenas de chefes de Estado, representantes de empresas, de agências multidisciplinares e de entidades civis,  colocará em pauta, a princípio, dois grandes temas. Ou seja: a busca de soluções para uma economia verde socialmente inclusiva e a transformação da ONU numa Organização Mundial do Meio Ambiente –Omma. 

Constatação – Sustentabilidade? Desenvolvimento sustentável, cidade sustentável, arquitetura sutentável, agro-negócio sustentável etc. Estes termos, não dá pra negar, tornaram-se a bola da vez dos debates temáticos do momento. Céticos, alguns torcem o nariz, duvidando dos resultados práticos dessa corrente, a exemplo de outras ou modismos do passado que acabaram no esquecimento. 

De qualquer forma, já podemos observar mudanças de hábitos e comportamento quanto ao meio ambiente em nosso cotidiano, como a questão do lixo reciclável, da substituição dos sacos plásticos por sacolas retornáveis, o reuso da água potável, a coleta seletiva do lixo eletrônico (pilhas, computadores, eletrodomésticos), o crescente uso da bicicleta como alternativa ao automóvel, a arborização de áreas degradadas, a reutilização e reciclagem de materiais descartáveis criando novas opções de uso na construção civil e no cotidiano da sociedade.

Questão - Até que ponto a Arquitetura pode contribuir para a qualidade de vida ambiental do planeta?
Até a revista AU (número 212), que andava tão distante de nossa realidade brasileira e, em particular, da realidade do Nordeste,  numa edição especial sobre arquitetura e sustentabilidade, enfocou o tema. Na seção “Fato & Opinião”, perguntou a vários arquitetos: “Se a boa arquitetura pressupõe critérios de  sustentabilidade, por que algumas das maiores obras de referência da arquitetura brasileira não são exemplos de eficiência ambiental? 

Imagem: Miguel Pereira
Fonte: Arquibacana

Sempre criterioso, o arquiteto Miguel Pereira ponderou e advertiu: é preciso ter cuidado ao fazer definições, argumentando:
-“ As maiores obras da Arquitetura brasileira são exemplos do bom uso de materiais, da preocupação com a orientação solar e ventilação (nesse ponto, os arquitetos do Nordeste, com certeza, dão um show), da valorização cultural, do respeito ao espaço urbano e do conforto do usuário”. E cita como exemplo a obra de João Filgueiras, o Lelé, ao qual poderiam ser agregados outros exemplos,incluindo projetos de Severiano Porto, Mário Aloísio (o novo aeroporto de Maceió) e dos saudosos Zanine Caldas, Lina Bo Bardi e Lúcio Costa.

Imagem: Croqui do Memorial Darci Ribeiro projetado por Lelé.
Fonte: Agência Unb

O debate, enfim, está aberto. Participe dele, também, com sua opinião e sugestão. 

 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Brasília sob pressão.

Aos 52, Brasília chega a menopausa
Jovem senhora sim, madura ainda não.

Quem diria! A jovem cidade modernista, planejada por Lúcio Costa em forma de avião com a participação de Oscar Niemeyer, responsável pelos principais projetos de Arquitetura, como a bela catedral, o Congresso Nacional ou o Palácio do Alvorada etc., que encantou o mundo nos anos 60, celebra no dia 21 de abril 52 anos de existência cercada por rugas e cicatrizes, apesar de toda a maquiagem.

Imagem: Brasília vista da Estação Espacial Internacional


Recentemente, uma comissão de peritos da Unesco visitou a nossa capital federal para fazer um diagnóstico sobre as condições ambientais, arquitetônicas e urbanísticas da cidade, cujo resultado
deverá ser divulgado em junho. 

Brasília, acredite, corre o risco, inclusive, de perder o título de “patrimônio cultural da humanidade”, devido a uma série de problemas, o que seria um vexame para todos nós, leigos e profissionais da Arquitetura, que amamos Brasília. Ao longo de sua história, a quarta cidade mais populosa do país acumulou problemas desde a falta de manutenção e conservação de edifícios modernistas até à ausência de um planejamento urbano, além da alteração do plano piloto inicial. 

Imagem: Palácio do Planalto em obras
Fonte: http://oglobo.globo.com


O Palácio do Alvorada, por exemplo, onde pontifica atualmente a presidente camaleã Dilma, passou há pouco por ampla reforma devido a problemas de infiltração de água e rachaduras no concreto. Imagine o resto!

Entre outras questões problemáticas, enfim, analistas elencam as seguintes:

1) a alteração do plano piloto original, com o surgimento de novos setores não previstos, fruto da especulação imobiliária;

2) a construção de condomínios e hotéis na orla do lago Paranoá, obstruindo o acesso público e o layout da paisagem. Em seu artigo "Lago Paranoá de Brasília: 45 anos de inacessibilidade", Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, professor da FAU UnB, assevera que desde a inauguração de Brasília nenhum governo fez uma intervenção séria para que essa imensa área exercesse sua plena vocação para  o lazer da totalidade de sua população. Pelo contrário, "suas margens vêm sendo privatizadas pelos moradores de seus bairros ricos, por décadas", destaca o professor;

Imagem: Alvora Hotel e Flats (antigo Blue Tree)
Autor: Rafael Lang


3) a construção de puxadinhos, com bares e restaurantes, invadindo áreas verdes;

4) pilotis dos prédios das quadras cercados por grades ou ocupados por estacionamentos:

5) blocos de edifícios com mais de seis pavimentos, como estava previsto inicialmente;

Imagem: Vista aérea de Brasília (1961)

6) a transformação do eixo munumental, onde se encontram os Ministérios e a catedral, num palco de protestos dos sem-teto, sem-terra dos sem-nada da sexta economia do mundo!

7) O inchaço populacional de uma cidade ideal prevista para abrigar até 500 mil habitantes e que ultrapassou a marca dos 2,5 milhões de habitantes em 2010;

Imagem: Brasília, foto registrada pelo satélite da Nasa em 08 de janeiro de 2011


8) Trânsito difícil, com ruas mal pavimentadas;

Imagem: Rodoviária de Brasília
Autor: Rafael Lang


9) O aumento da violência, principalmente nas cidades-satélites. Motivo: a disseminação do maldito crack, que atinge outras cidades brasileiras, além da Cracolândia, em São Paulo.

No final do ano passado, entidades, professores, arquitetos e urbanistas de Brasília, organizaram o "Manifesto Urbanistas por Brasília" com o intuito de defender a integridade do Plano Urbanístico do Plano Piloto de Brasília contra o parcelamento de solo proposto pela Terracap para a Quadra 901 do Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN) de Brasília.

"Trata-se da mais contundente agressão ao Plano Urbanístico do Plano Piloto de Brasília por meio da criação de lote com aproximadamente 85.000 m² a ser ocupado por edificações em altura destinadas a hotéis e outras atividades comerciais que por fim serão desvirtuadas para uso residencial como já ocorre no SHN, SCES e SHTN.. redigiram um documento Sob a copa 'O que a cidade precisa é de lucidez no planejamento urbano. É preciso impedir que as forças do capital, da construção civil, avancem descontroladas, sem preocupação com o crescimento sustentável'", define o Manifesto.

A Brasília dos "anos dourados" quando surgiu a Legião Urbana, de Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e do Renato Rocha (atualmente morador de rua em Sampa) ou quando domésticas reclamavam da falta de esquinas para poder namorar, com certeza acabou.

Imagem: Legião Urbana na rampa do Congresso nacional
Fonte: http://www.reidaverdade.com


Ao concluir, um desejo: oxalá, o lema de Brasília “venturis ventis”, aos ventos que hão de vir, não seja prenúncio de uma tempestade ou tsunami, mas de consciência e bonança!


José wolf
Colaborou: Oliveira Júnior