domingo, 9 de novembro de 2008

Sandra Moura

Restaurante Mangai - Brasília
Oliveira Júnior¹

Mangai Brasília - Rural localizada em cima do volume dos banheiros.
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O Mangai foi criado em novembro de 1990 na cidade de João Pessoa, na Paraíba, sob a forma de uma bodega que comercializava apenas produtos do sertão. Com o crescimento do interesse dos clientes pelos gêneros alimentícios, as instalações rústicas, em madeira de carnaúba, telha cerâmica e tijolo maciço, foram sendo ampliadas para abrigar o primeiro protótipo de um restaurante. 
Dotado de uma estrutura arquitetônica impregnada de referências do habitat nordestino, principalmente a casa de fazenda, o Mangai consolidou-se ao longo dos anos como referência da gastronomia nordestina.
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Mangai Brasília - Vista do estacionamento.
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Restaurante Mangai de Natal, RN - Falsas chaminés independentes do edifício.
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Num segundo momento a rede ampliou seu mercado para o Rio Grande do Norte. A obra da cidade de Natal, implantada num terreno de grandes dimensões, possibilitou a arquiteta Sandra Moura uma maior liberdade de criação e especulação formal. O resultado pode ser traduzido num restaurante mais sofisticado, imponente, em duas águas, que, embora substitua os troncos de carnaúba por madeira de lei, repete os mesmos materiais construtivos rústicos como o tijolinho aparente e a telha cerâmica que marcaram a arquitetura original do Mangai, e cuja imagem ficou impregnada no imaginário dos seus clientes.
Este projeto marcado pela horizontalidade recebeu um conjunto de falsas chaminés soltas, posicionados ao longo da fachada frontal, numa clara referência aos antigos engenhos de açucar.
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Mangai Brasília - Vista do estacionamento.
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Mangai Brasília - Vista da caixa do elevador.

Em junho deste ano, o Restaurante Mangai aportou em Brasília levando na bagagem, além das quase três décadas de experiência, alguns novos elementos incorporados à sua arquitetura através das criativas interferências da arquiteta Sandra Moura.
O partido adotado consiste de uma generosa cobertura de telha cerâmica em quatro águas, suportada por um possante conjunto de vigas metálicas em perfil “I”, ancorados em robustos pilares de concreto, o que certamente viabilizou os grandes vãos da modulação adotada. A cumeeira do edifício conforma uma mansarda por onde se dá a exaustão do ar que circula no espaço interno do restaurante.


Mangai Brasília - detalhe da caixa do elevador. .


Mangai Brasília - rampa de acesso.

Contrariamente ao projeto de Natal esta proposta incorpora os “volumes-chaminés” como parte integrante do próprio corpo do edifício, procurando encontrar-lhe um espaço funcional na composição, utilizando-os na modulação estrutural, o que a meu ver reprime a força estética e a expressão deste elemento como referencia vertical e imagético-cultural. Vale ressaltar que esta decisão também já havia sido tomada na reforma do projeto de João Pessoa, ocorrida anteriormente.

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Mangai Brasília.


Vista do terraço de acesso.


Cadeira de madeira e estrutura de ferro.

Cadeira de madeira.

O terraço de acesso é guarnecido, do lado esquerdo, por uma sala de estar ambientada por móveis desenhados em madeira e, do lado direito, por um conjunto de mesas com privilegiada vista para o Lago Paranoá e a Ponte JK. Ao longo do beiral do restaurante foi disposta uma calha metálica, vazada em pontos estratégicos e de onde partem grossas correntes de ferro com o objetivo de conduzir a água até o solo permeável. Detalhe que provoca um certo "ruído" na composição geral do edifício.

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Mangai Brasília - Porta de acesso.


Vista do salão com cortina de bucha vegetal.


Detalhe da cortina vegetal.

Detalhe da luminária de piões.


O espaço interno é bastante amplo, arejado e ricamente decorado com inusitados objetos confeccionados com elementos da cultura popular, tais como as luminárias de piões, a cortina de bucha vegetal, as divisórias de estronca e os lavatórios de pote de barro.

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Lavatórios de potes de barro.


Painel de estronca decorado com cachos de banana.


Canto do Salão do restaurante - Vista da ponte JK no Lago Paranoá.

Volumetricamente falando, a grande vedete do projeto é a criativa caixa de elevador que conecta o espaço do estacionamento ao nível da rampa de acesso do terraço do restaurante. Envolvida por uma pele de chapa de aço, cujas estampas esboçam movimentos orgânicos que nos aproxima dos delicados desenhos do "Art Noveau", tudo isso sem que o design do objeto perca o foco extremamente contemporâneo.

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Caixa do elevador com iluminação noturna - Ponte JK ao fundo.

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Ficha técnica
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Arquitetura: Sandra Moura

Local: Brasília - DF

Imagens: Oliveira Júnior



Nota

1. Oliveira Júnior é arquiteto e professor do curso de arquitetura do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.

3 comentários:

  1. Kristinna Bittencourt9 de outubro de 2009 às 12:20

    Me amarro nesse restaurante, adoro a mistura de simples com sofisticado da decoração, sem falar na vista previlegiada e na comida deliciosa. vale a pena conferir

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  2. Simplesmente maravilhoso! A decoração é espetacular e a comida mais ainda! Obrigada por proporcionar a nós momentos dignos de serem repetidos!
    Ivana Schettert

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  3. Adoro o projeto também, os detalhes tornam o lugar muito especial. Mas tenho que fazer uma retificação : a cortina não é de bucha... São "sabugos de milho" feitos em crochê ou tricô com fibra vegetal... Talvez rafia... ;]

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