sábado, 4 de fevereiro de 2012

Arquitetura e Realidade

QUE CUBA (por enquanto) NÃO SEJA AQUI!
José Wolf

Cuba, que já encantou corações e mentes de tantos jovens, nos anos 60 e 80, com heróis como Che Guevara, volta ao noticiário. Motivo: não se trata de alguma ameaça de invasão dos Estados Unidos, como aconteceu na era Kennedy, mas de alguns sinais, ainda tímidos, de uma desejável abertura política, a exemplo do que vem ocorrendo em vários países árabes.



Entre os sinais, a visita da presidente Dilma e da anunciada visita do papa Bento XVI  à emblemática ilha, cuja capital, com seus edifícios coloniais de origem espanhola, fascinou o escritor norte-americano Ernst Hemingway, autor do clássico “O velho e o mar”. 

Imagem: Plaza Vieja, Havana.

Ao mesmo tempo, a presidente Dilma, num gesto surpreendente, aprovou o visto de entrada brasileiro para a jornalista Yoani Sanchez , responsável pelo festejado blog independente geraçaoy.

Imagem: Yoani Sánchez


A visita da presidente, no entanto, frustou a expecativa de  ativistas de oposição cubanos. Ela preferiu
cutucar os Estados Unidos, ao se referir, em sua entrevista, à  prisão de Guantámano, em lugar de tocar no delicado tema dos direitos humanos. Seria, na opinião de analistas, um ranço ideológico de sua antiga militância política de esquerda.         


Imagem: Raúl Castro e Dilma Rousseff

Dentro de um regime revolucionário, que dura há mais de 59 anos, Cuba, reconhecem seus críticos, conseguiu avanços signicativos na área da saúde, da educação e dos esportes, mas continua zero à esquerda na questão dos direitos humanos, principalmente em relação aos dissidentes e, inclusive, aos homófilos.

Na condição de jornalista e de editor, então, da revista AU, os primeiros cubanos que conheci foram os notáveis arquitetos Antonio Quintana e Fernando Salinas, durante o Congresso de Arquitetos “Vilanova Artigas” realizado em Belo Horizone, MG, em 1986. Em sua palestra, referindo-se às colunas do Palácio do Alvorada, Salinas, ovacionado,  proclamou: “feliz o arquiteto, cuja obra é reproduzida nos pára-choques de caminhões”! 

Depos, ainda na condição de editor, a sensível repórter Lívia Pedreira, atual editora da revista “Arquitetura & Construção” viajou para Havana para cobrir a III Conferência de Ensino e Arquitetura. Ao retornar, emocionada com o que viu, escreveu a reportagem intitulada “Cuba seja aqui” (AU5).

Lembaria, ainda, outro "cubano", de origem argentina: o egrégio Roberto Segre. Com seus livros e artigos sobre a produção arquitetônica da América Latina, ele se tornou conhecido de todos nós.

A respeito do resistente Segre, para quem, por aprovação do diretor Mario Sérgio Pini, foi aberto um espaço editorial para a publicação de seus artigos, lembraria alguns episódios:
Depois de proferir uma palestra na sede do IAB de São Paulo, é convidado pela Direção do Instituto paulista para um jantar no restaurante Boi na Brasa. Ao ver o tamanho da bisteca, reagiu: -“Meu Deus, essa era a cota de carne mensal  que eu tinha direito quando vivia em  Cuba”.

Imagem: Roberto Segre
Fonte: http://www.arcoweb.com.br


Outro: ao participar de um almoço na casa da arquiteta e arqueóloga . Tereza Simis Borsoi, em Recife, ele fez observações críticas ao paredão de edifícios da orla marítima da Boa Viagem, prejudicando a ventilação natural para outros bairros da cidade. Edifícios, por sinal,  projetados por arquitetos que estão construindo a história da magnífica arquitetura pernambucana contemporânea.
Ao se separar da primeira esposa, me confessou, foi obrigado a conviver, sob o mesmo teto, com a segunda companheira.

Outro cubano (natural de Santiago de Las Vegas, mas viveu e morreu na Itália)  que fez minha cabeça foi o escritor Ítalo Calvino, autor do visionário livro “Seis propostas para o próximo milênio”. Ou seja: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiciplidade, consistência, virtudes que poderão orientar nossa fugaz existência.   

Imagem: Italo Calvino


Concluindo, desejaria que Cuba, que resiste a tantos embargos econômicos, se transformasse em paradigma, também, de respeito às dissonâncias políticas, sexuais e de opinião. Se isso acontecer, o mundo, seja aqui, no Haiti, na Síria, na Rússia etc, com certeza, será melhor. Um mundo, no qual, o principal valor não seja o TER da especulação financeira e da corrupção, mas do SER solidário e participativo.

          

Aos 79 anos, morreu Jorge Glusberg

Imagem: Jorge Glusberg

Aos 79 anos, morreu hoje Glusberg Jorge, que foi o fundador da Bienal de Arquitetura de Buenos Aires e diretor do Centro de Arte e Comunicação e do Museu Nacional de Belas Artes, e professor e autor de vários livros sobre arquitetura, design e artes.

Glusberg nasceu em 23 de setembro de 1932 ea notícia de sua morte foi confirmada pela família, embora seus restos não serão velados.

Em sua longa carreira, Glusberg presidido a seção Argentina da Associação Internacional de Críticos de Arte e co-dirigiu o Departamento de Arte (Universidade de Nova York, 1975). Consultor da Revista Latino-Americana de Arte (EUA), foi membro do conselho editorial de D'Ars (Itália) e correspondente da revista M. E. (Hungria) e Leonardo (EUA).

Ele escreveu e editou vários livros sobre arquitetura, design e arte, como Mitos e magias de fogo, Ouro e arte, Arte na Argentina, Da Pop Art a  Nova Imagem, Origens da Modernidade, moderno, pós-modernas e Obras-primas do Museu Nacional de Belas Artes.

Ele também foi professor nas Universidades de Nova Iorque, Ball State, San Antonio Abad de Cuzco e Veracruz também serviu como jurado da Fundação Konex em 1992.1994 e 2002, recebeu em 1986 o diploma de Mérito e foi condecorado com o Medalha de Ouro na amostra de 30º Aniversário das Nações Unidas (Iugoslávia, 1975) e distinguido Cavaleiro da Ordem das Palmas Académicas (França, 1986), entre outros prêmios.

Glusberg se afastou da direção do Museu de Belas Artes em 2003, em meio a polêmica acirrada, que incluiu diversos processos administrativos a favor e contra sua gestão e pesquisas no Museu.