domingo, 31 de janeiro de 2010

Bruno Braga

Conjunto Habitacional Verdes Mares - Prêmio Caixa - IAB 2008/2009

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Em arquitetura, para olhar para frente com precisão é necessário, antes, olhar para trás com a mesma precisão. Assim, no intuito de realizar um projeto de habitação social pertinente, era preciso, primeiramente, analisar as deficiências comuns em projetos dessa natureza realizados no Brasil. Quanto mais se buscava respostas, mais se percebia que se estava fazendo a pergunta errada. Parecia mais correto tratar a habitação social como um investimento futuro na população, que fosse adquirindo valor com o tempo, funcionando como instrumento para promoção social dos beneficiados, em contrapartida ao modo como o fazem as políticas habitacionais atuais, que encaram a questão como gasto social, priorizando índices quantitativos aos qualitativos.
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Fica claro, portanto, que o erro estava no início do processo, pois se tentava resolver o problema errado. Não se resolve o problema da habitação social apenas diminuindo o déficit habitacional. Muito menos negando os fatos que o problema apresenta, como as características da população e as restrições orçamentárias e legais. Mais do que quantas casas propor, pareceu mais adequado pensar em onde e como propô-las.
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Surgem então duas questões primordiais a serem resolvidas: o lugar de implantação das habitações e como trabalhar com as limitações e restrições impostas pelo problema mantendo a qualidade do projeto.
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O LUGAR
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Embora a cidade seja uma construção social coletiva, a distribuição de seu espaço não se dá de forma igualitária, o que gera graves distorções no cenário urbano. No caso de Fortaleza, dos seus aproximadamente 2,4 milhões de habitantes, 30% moram em assentamentos precários e informais, o que se explica pela alta concentração de renda presente na cidade.
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A área de intervenção escolhida foi a comunidade Verdes Mares, localizada no bairro do Papicu, possui uma infra-estrutura excelente e grande rede de oportunidades. A comunidade é composta, em sua maioria, por ocupações irregulares, presentes na região há mais de vinte anos. Há uma forte especulação imobiliária, sendo comum a existência de terrenos vazios que não cumprem sua função social. Ambas as áreas (tanto as ocupadas como as ociosas) são classificadas como Zona Especial de Interesse Social, tornando possível pensar em redistribuir toda a população, pois a área x antes ocupada, passou a ser x+y com a incorporação dos terrenos vazios. Mantém-se, portanto, os moradores no seu local de residência atual, onde estão cercados de oportunidades e vínculos profissionais e pessoais, podendo transformar suas novas residências em um investimento que se valoriza com o tempo. A proximidade a um terminal rodoviário permite, ainda, pensar em uma rede de intervenções interligadas, o que teria um alcance maior na cidade.
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IMPLANTAÇÃO E TIPOLOGIA
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A implantação buscou, ao invés de criar um núcleo fechado e voltado para si mesmo, trazer a cidade para dentro do conjunto e vice-versa. Isso foi feito com a criação de ruas internas estreitas de seis metros, que possuem ilhas de estacionamento e arborização para proteger as casas dos raios solares, uma vez que o clima de Fortaleza é marcado por altas temperaturas durante todo ano.
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Como é comum nessas comunidades, a população tem um forte vínculo e grande necessidade de áreas comuns de lazer. O projeto buscou intensificar essa realidade encontrada, criando mini-praças, espaços livres verdes e mantendo um campo esportivo bastante usado pelos moradores. Devido ás proporções da área, foi proposto também um centro cívico para manter seu vínculo e organização, e um equipamento de porte urbano, como meio de fomentar as atividades culturais, educacionais e de integração da área com o resto da cidade.
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Trabalhar com as restrições impostas significava encarar a escassez de recursos como um incentivo à criatividade e um filtro do supérfluo, aproximando ao máximo a proposta do problema real. A escolha de um terreno com boa infra-estrutura e o orçamento restrito para a construção das casas foram os limites que nortearam a proposta. Assim, era preciso saber exatamente como e onde aplicar os recursos.
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A forte presença de atividade comercial na área também foi um fato a ser trabalhado, evitando-se ter famílias diferentes em pavimentos diferentes, o que privilegiaria os que ficassem no térreo. Como fazer unidades de dois pavimentos sem que isso acarretasse aumento significativo de suas áreas? Buscou-se, então, a unidade mais estreita possível, dando maior flexibilidade para as famílias, inclusive no que se refere à ampliação posterior das casas.
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Há duas tipologias para as unidades: uma mais estreita, com área de 44,98m², e outra maior (devido ao acréscimo de um quarto no pavimento térreo), com área de 51,83m². Isso tendo em vista a própria dinâmica entre as famílias da comunidade, tanto em número de pessoas por unidade quanto pela renda.
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A sustentabilidade da proposta surge não como objetivo em si, mas como conseqüência da síntese dos fatores encontrados e de um processo rigoroso e amplo. Na escolha do local, considera-se sua viabilidade econômica e social. As técnicas e materiais escolhidos foram os mais adequados a esse problema específico: baixo custo e reprodução em série. Nesse caso, qualquer desperdício é multiplicado várias vezes, devendo, portanto, ser reduzido ao máximo. Isso foi resolvido através da modulação, estruturas pré-fabricadas, soluções tradicionais em relação ao clima e adequadas à mão-obra disponível. Utilizou-se o tijolo solo-cimento para a construção das casas, uma vez que atendia a essas imposições. Em Fortaleza, o melhor lugar para se estar é na sombra e onde o vento circule. É possível perceber esses aspectos tanto nos recuos nas fachadas e esquadrias com venezianas e vidro, quanto em janelas altas nas paredes dos quartos e no espaço entre a coberta e o forro, para melhor circulação do ar.
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O crescimento econômico muitas vezes está ligado ao crescimento espacial. As intervenções posteriores dos moradores são uma realidade, não devendo, portanto, ser negadas, mas trabalhadas. Ao invés de tentar evitar, a proposta tentou dar condições para que isso ocorresse sem maiores prejuízos para o coletivo. Ou seja, não controlando-as, mas prevendo-as de forma ordenada.
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Equipe
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Arquitetos: Bruno Braga e Igor Ribeiro
Estagiários: Bruno Perdigão, Epifanio Júnior e Marcelo Bacelar

domingo, 24 de janeiro de 2010

Marianne Balze R.

Edificio Alas del Cóndor - LaParva, Chile
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Corte AA
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Elevação norte
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Elevação leste
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Elevação oeste
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Elevação sul
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Planta acesso
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Planta subterrâneo
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Intervir em uma paisagem tão majestosa como a Cordilheira dos Andes requer fazê-lo com grande respeito e sensibilidade, porque é uma situação exigente. A cordilheira, um vazio desabitado, mas uma grande área com vida própria, mudando sempre com uma força única, onde o céu sobre as nuvens nos envolvem variando de opaco a brilhante ou irradiando toda a gama de cores os mantos nevado.

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O sol dá-nos assim todas as possibilidades de luz que acompanham o seu caminho e nos identificam as atividades que acontecem ao longo do dia.

A obra está localizada em uma das bordas do pequeno povoado andino de La Parva, com campo nevado esquiável de onde se sai para pegar o elevador que se conectam com as pistas de ski mais elevadas e onde à tarde retorna-se aos seus abrigos. Portanto, a obra acompanha com seu jogo de volumes, com sua luz e sombra, esse diálogo que pretende conjugar-se com o meio que o contém.

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O encargo consistia em um edifício de 24 apartamentos de 100 a 140 m2 a ser localizado em 3 terrenos agrupados que deveriam voltar-se para a vista privilegiadoa e a orientação norte de orientação, em sua fachada principal. Assim se criaram 4 volumes que se posicionaram encosta abaixo, sobrepondo-se uns aos outros para privilegiar a insolação e a vista que se tem do vale nos entardeceres.

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Uma construção que se instala nesse lugar supõe um grande desafio que deve ser feito com humildade e sobriedade. Assim, o edifício reflete o perfil da rua, a escala da humana, respeitando a vista para o vale a partir dos edifícios superiores. Optamos por utilizar a pedra local, tanto para essa fachada como para à tomada do lado norte, para fundir-se com a paisagem circundante, especialmente nos meses de verão.

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A coberta funciona como o grande manto que envolve e protege os blocos das intempéries desenrolando-se paraleloamente à encosta da colina. Os pisos superiores estão revestidos com placas de fibrocimento, a fim de controlar a escala para o campo. Os demais volumes foram trabalhados em concreto armado pintados de branco para integra-se ao entorno e destacar-se apenas através do jogo de luz e sombra que tornam seus planos sobrepostos. Atrás deles, uma ponte liga os 2 grupos de volumes e os 2 pisos de estacionamento se desenvolvem apoiados no morro.

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No interior, os blocos possuem um isolamento térmico de poliplac de 10 centímetros que, juntamente com as janelas de termopainéis asseguram uma ótima temperatura graças a orientação norte, com um consumo mínimo de calefação.

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Ficha técnica

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Obra: Edificio Alas del Cóndor
Arquitetos: Marianne Balze R.
Arquitetos colaboradores: Christian Von Beck, Felipe Correa
Cliente: Inmobiliaria Alas del Cóndor
Área construida: 4.347,56 m²
Construtora: Inmobiliaria y constructora Francisco Vicuña y Cía., Ltda.
Calculista: Miguel Sandor
Localização: Calle Emille Allais Nº 390, La Parva, Chile
Ano: 2007 – 2009
Fotografía: Guy Wenborne


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Cidade é descartável?

Paulistano dá nota 4,8 para a cidade e diz que gostaria de se mudar de SP


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O índice de paulistanos que mudariam da cidade se tivessem oportunidade subiu de 46%, em 2008, para 57%, em 2009. Já a percentagem de entrevistados que disseram que não gostariam de sair de São Paulo caiu de 53% para 41% no mesmo período. Os dados fazem parte da pesquisa Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), feita pelo Ibope Inteligência e encomendada pela ONG Movimento Nossa São Paulo. Os números foram divulgados nesta terça-feira (19).

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Levando em conta a pesquisa, a organização não governamental considera que a população da maior cidade do país está insatisfeita com o bem-estar proporcionado pela metrópole. Numa escala de 1 a 10, a nota média para a qualidade de vida em São Paulo é de 4,8, abaixo da média de satisfação de 5,5.
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A pesquisa, feita entre os dias 2 e 16 de dezembro, ouviu 1.512 pessoas com mais de 16 anos. Elas avaliaram quesitos que julgam importantes para sua qualidade de vida, como relações humanas, religião, trabalho, sexualidade, consumo, saúde, educação, lazer, habitação, meio ambiente, segurança, cultura, desigualdade social transporte e trânsito.
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Indicadores de qualidade de vida

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Para selecionar os itens responsáveis pela qualidade de vida do paulistano, o Movimento Nossa São Paulo ouviu ao longo do ano passado 37 mil pessoas. Foram 174 itens que compuseram os 25 indicadores da pesquisa.
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Segundo a ONG, os resultados mostram um maior nível de satisfação com aspectos relacionados à vida privada das pessoas e uma insatisfação com aspectos da vida em comum na cidade.
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Os entrevistados deram notas de 1 a 10. Avaliações foram consideradas como total insatisfação (de 1 a 5), satisfação (6 a 8) e totalmente satisfeito (acima de 8). A média foi firmada em 5,5.
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O paulistano deu as seguintes notas:

6,5 para as relações humanas

6,2 para o trabalho

5,2 para o consumo

5,1 para a aparência da cidade

5,1 para a saúde

5,0 para a educação

4,7 para o lazer

4,7 para habitação

4,3 para a segurança

4,0 para o transporte público

3;9 para a desigualdade social
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Cresceu também a sensação de insegurança da população. Apenas 12% dos entrevistados consideram São Paulo um lugar seguro ou muito seguro. Para 87%, a metrópole é insegura ou muito insegura. O medo de assaltos e roubos subiu de 57%, em 2008, para 65%, em 2009. Aumentou também o número de paulistanos que dizem ter medo de sair à noite, passando de 17% para 26%.
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Fonte: www.g1.globo.com
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Comentário
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Parece que estamos a ponto de criar o maior paradigma do consumismo: a cidade descartável.


domingo, 17 de janeiro de 2010

EREA AREIA 2010

Começa hoje na cidade de Areia-PB o maior encontro de estudantes de arquitetura do norte/nordeste.





Os antigos engenhos, os casarões históricos que formam o conjunto paisagístico tombado de Areia, o clima ameno e as belezas da natureza vão ser alguns dos pontos de destaque que levarão os estudantes de arquitetura e urbanismo do Brasil à belíssima e histórica cidade de Areia – Patrimônio Histórico Nacional.
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Mais uma vez a cidade do consagrado Pintor Pedro Américo e do imortal escritor e político José Américo de Almeida, foi o destino escolhido, desta vez para ser protagonista do Encontro Regional Nordeste dos Estudantes de Arquitetura (EREA), edição 2010, será realizado de 17 A 24 de Janeiro de 2010.
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O principal objetivo do evento é promover a troca de experiências e o debate entre os estudantes de arquitetura e urbanismo do país. Pela primeira vez um encontro como este acontecerá numa cidade do interior (as outras edições sempre ocorreram em capitais). Desta vez, Areia disputou o posto de sede do EREA com os municípios de Salvador (BA) e Natal (RN).
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Vista aérea de Areia
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Temas como sustentabilidade, permacultura, preservação ambiental, cana-de-açúcar, biocombustíveis e turismo serão debatidos no evento. Na programação haverá atividades como workshops, visitas guiadas a sítios, fazendas, ao Parque Ecológico de Furnas e à reserva Mata do Pau Ferro, além de palestras e debates sobre preservação ambiental.
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A histórica cidade de Areia teve seu núcleo histórico urbanístico e paisagístico tombado pelo Iphan em 2005, e este sítio consta dos Livros do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O município possui, além de 27 engenhos de cana, abundantes belezas naturais e um povo hospitaleiro e animado. A iniciativa vai fomentar o turismo e as atividades culturais no local, que já está investindo em infra-estrutura e logística para sediar o encontro.
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O Encontro se realizará na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ministro José Américo de Almeida. Para maiores informações visite o site do EREA AREIA 2010 em: www.ereaareia.com
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Fonte: www.iparaiba.com.br