sábado, 13 de novembro de 2010

Arquitetura & eleições

“Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu”

Nordeste versus Sul 
Ao contrário da Arquitetura Moderna brasileira, que sempre privilegiou a produção arquitetônica do Sul, com ênfase a projetos arquitetônicos do eixo Rio - São Paulo, o resultado das eleições presidenciais revelou de fato a cara de um país dividido entre o Sul e Nordeste, cuja maioria da população continua excluída da saúde, da educação e, inclusive, da Arquitetura.

Alguns analistas políticos insistiram em afirmar que foram os eleitores do Nordeste, graças à bolsa-família e ao programa “minha casa, minha vida”, quem decidiram, com um xeque-mate, a vitória da candidata do PT (?). Região, onde ela chegou a receber cerca de 2/3 dos votos válidos sobre o adversário.

Vitória, por sinal (não dá pra camuflar), que traz à tona a intolerância regionalista que persiste no subconsciente de muitos sulistas e nordestinos, a exemplo da reação de um cidadão, num twiter, conforme resgistra o jornal “diário de são paulo” (2/11/2010): “nordestino não é gente...” Que horror! Ou do comentário de um faxineiro do prédio, onde, habito: “Ah, o Serra só pensa nos ricos”!

Agenda arcaica - Vocês, contudo, perguntarão: arquitetura & eleições? O que tem a ver uma coisa com a outra? Se refletirem a fundo, verão que tem muito a ver.

Pra começar, durante os debates, por sinal, enfadonhos, nenhum dos candidados, seja a Dilma ou o Serra, abriu uma janela para o debate de novas questões e assuntos emergentes deste início do século XXI . Muitos dos quais, devemos reconhecer, foram sinalizados e abordados pela candidata, na contramão, Marina Silva, do PV.

Desafio – Pra começar: qual o candidato falou ou apresentou propostas concretas em relação a desafios sobre fatores e temas que poderão desenhar o futuro?.

Entre tantos temas, não podemos nos esquecer:

- da qualificação da habitação popular, que continua refém da especulação do mercado imobiliário; objeto de inúmeras promessas eleitorais poucas vezes alcançadas

- do planejamento urbano num país com mais de 70% de seu território urbanizado, mas com muitas cidades à beira do caos ou de um ataque de nervos

- das drogas. Que circulam livremente pelos becos de muitas cidades brasileiras. Aliás, Dilma foi a única a se referir à Cracolândia, que além de São Paulo, se espalha por outras cidades do país.

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(por sinal, o blog arqPB coordenado pelo jovem Oliveira Jr, foi o primeiro veiculo editorial especializado na área da Arquitetura a publicar um texto sobre a polêmica Cracolândia) ;

- da falta de infra-estruturas de saneamento básico e de uma política em defesa da Amazônia e de uma posição clara e inovadora sobre a política ambiental;

- da ausência de pesquisas de novas energias limpas e de novos materiais para a construção de uma arquitetura sutentável;

- da redução dos juros, os mais altos do mundo, que se refletem na execução de projetos e no bolso do cidadão e do cliente:

- da ausência de uma diretriz para a ocupação do solo e do território nacional, além da busca ade novas alternativas para a mobilidadade e circulação conectada a critérios de sustentabilidade, entre as quais estariam os rios , a exemplo do rio Tietê, em São Paulo, que há muito tempo vem defendendo o arauto Paulo Mendes da Rocha;

- e, inclusive, do resgate reciclado de técnicas construtivas sustentáveis antigas - alvenaria, pedra, barro batido, taipa etc. A exemplo do protótipo Cajueiro Seco, de Acácio Gil Borsoi, que utilizando-se de protótipos pré moldados da taipa imaginou um modelo mínimo de habitação possível com dignidade, nos anos 60;


Batatas quentes!

Resumindo: aos eleitos, enfim, resta a advertência de um antigo provérbio: “ aos vencedores, as batatas”! Por sinal, cada vez mais quentes, com uma tropa de elite, que já vimos no passado, voltando à cena.

Aos decepcionados, entre os quais eu me incluo, que por vários motivos optaram pela abstenção, resta o grito de guerra e de independência do psicanalista Roberto Freire: " viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu"! À espera de uma bolsa-cidadão, com direito, inclusive, à Arquitetura, também!

José Wolf

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