Conflito de interesses urbanos
Oliveira Júnior
Imagem: monomotor tombado
Foto: Ricardo Oliveira
Fonte: Portal Paraíba
Um conflito de interesses entre o Aeroclube da Paraíba, o mercado imobiliário e a vocação urbana da cidade de João Pessoa volta a ficar em evidência na mídia paraibana após a queda de um monomotor ontem pela manhã nas proximidades do aeroclube.
O Aeroclube da Paraíba foi criado em 1940, no antigo campo da Imbiribeira (Tambauzinho), onde hoje se localiza o Espaço Cultural José Lins do Rego, extendendo-se até as imediações do Primeiro Grupamento de Engenharia e Construção na Avenida Epitácio Pessoa.
Em 1953, com o iminente crescimento urbano em torno do eixo da Avenida Epitácio Pessoa, o Governador José Américo de Almeida, desapropriou a antiga área e a idenização permitiu que o aeroclube adquirisse um terreno desmembrado da Fazenda Ribamar ou Boi Só, onde atualmente se localiza. Na época a área escolhida para implantação deste equipamento era pouco habitada, a população ainda começava a se deslocar rumo a orla e a cidade se apresentava morfologicamente horizontal.
Imagem: Vista aérea do aeroclube e entorno urbano
Foto: autor desconhecido
Com o adensamento populacional e a valorização imobiliária dos bairros da orla, as construtoras locais iniciaram um processo de verticalização intenso que culminou no "estrangulamento" do "cone de vôo" do Aeroclube da Paraíba e desencadeou uma série de disputas jurídicas na área.
Imagem: Vista aérea do aeroclube e entorno urbano
Foto: autor desconhecido
Numa das ações a Justiça Federal mandou demolir 19 prédios de luxo no entorno do Aeroclube da Paraíba que teriam extrapolado a altura máxima permitida para aquela área.
Um aspecto a ser considereado nesta queda de braço é a vocação atual do entorno urbano daquele trecho de João Pessoa. Tão importamte quanto as questões da vulnerabilidade e da insegurança dos moradores dos edifícios próximos ao aeroclube é a reflexão sobre qual seria o uso mais apropriado para o vazio urbano onde está inserido o equipamento.
No ambiente acadêmico a questão do espaço do aerodromo já foi abordado pelas disciplinas de desenho urbano e por trabalhos finais de graduação (TFG's) de alunos do Unipê, por exemplo. Diante da carência de praças e espaços públicos de lazer, alguns alunos orientados pelo arquiteto Ernani Henrique Júnior já propuseram intervenções para o local. Maurício Montenegro sugeriu a remoção do aeroclube para a região sul, muma área mais remota da cidade; já Beatriz Campelo desenvolveu uma proposta de um parque urbano no local. Hipótese, inclusive, destacada em vários meios de comunicação com após a sanção da lei 11.854 pelo ex-prefeito Ricardo Coutinho no início deste ano.
O aeroclube sempre se posicionou firmemente pela sua permanência no local. Inclusive, estrategicamente, sua diretoria batizou-lhe de “Aeródromo José Targino Maranhão” e posteriormente, em outubro de 2008, conferiu o título de sócio de benemérito ao prefeito Ricardo Coutinho, que não se deixou seduzir pelo mimo diante das suas convicções urbanísticas.
Enquanto a polêmica não se resolve a população fica exposta aos riscos de um acidente aéreo de maiores proporções e subtraída do direito aos tão caros espaços de lazer públicos de que precisa para usufruir da sua plena cidadania.
Riscos muito maiores são os de acidentes automotivos. Então para tudo e tirem os carros da rua! Será mesmo essa a solução? Uma nova realocação não seria simplesmente repetir o que está se discutindo? A cidade não para, a cidade só cresce.
ResponderExcluirContrariando a política do ArqPB resolvi publicar seu comentário Anônimo. Lembro que o confronto de idéias , fundamental para o debate democrático, prescinde do anonimato.
ResponderExcluirDe fato o problema do trânsito tem se agravado nos últimos tempos, tanto em virtude da má educação como da precariedade da sinalização, mas sobretudo pela prioridade do transporte individual em detrimento da qualificação do sistema de transporte de massa.
Este fato não é justificativa para permanência do Aeroclube num terreno de dimensões relativamente reduzidas e numa área de grande expansão urbana.
O acidente com o vôo 3054 da TAM ocorrido no ano de 2007, em Congonhas, colocou mais uma vez em xeque a localização daquele aeroporto com dotado de curta área de escape e implantado numa zona bastante urbanizada.
O caso do aeroclube é de grande interesse coletivo e deve ser discutido multidisciplinarmente entre técnicos competentes e representantes da sociedade organizada (IAB-PB, CREA-PB, Bombeiros, ministério público, prefeitura municipal, representantes do setor de aviação, entre outros.)
Desde a criação do Aeroclube da Paraíba até os dias de hoje houveram muitos avanços no modo de pensar estrategicamente a expansão urbana e o desenho das cidades. Estes conceitos perpassam a segurança, a vitalidade espacial e a sustentabilidade ambiental, econômica e social. Estes avanços estão substancialmente contemplados pelo Plano Diretor Municipal, que tem o papel de nortear o crescimento urbano local, devendo ser revisado a cada 10 anos.
Fiquemos atentos ao interesses silenciados entre os movimentos das peças deste tabuleiro de xadrez.
"A cidade se encontra prostituída (...) A cidade se apresenta centro das ambições", e como um 'organismo vivo' "a cidade não para, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce." (Chico Science)
Bom dia Oliveira: Gostei do seu comentário, um plano diretor elaborado com audiências das representações de cada bairro resulta na melhor técnica para o melhor dos anseios dos moradores. Gosto de pensar em bairros menos verticais, ou mesmo horizontais. Ajuda as facilidades como água, energia, telefone, viário. Aliado a isso, como diretor do departamento de ultraleves do aeroclube da Paraíba, acredito que a presença de uma pista de pouso dentro do centro urbano é de vital importância para a segurança do entorno. Com esse aeroclube evitamos movimentações longas de pacientes terminais para Bayeux, 40 min do Bessa. Pode ser usado o helicóptero como meio de salvatagem. Toda a grande cidade do mundo tem uma pista de aviação pequena para atender essa demanda. A lembrar: São Paulo- Campo de Marte, Belo Horizonte-Carlos Prates, Recife-Encanta Moça, Fortaleza-Catuleve, e idem para as demais. Defendo com essa visão a presença do aeroclube no local onde está, até como meio de evitar a verticalização da área. Abraço e fico a tua disposição, JC - jcmmpt@gmail.com
ResponderExcluirOlá a todos!
ResponderExcluirprimeiro gostaria de parabenizar ao Oliveira por trazer este tema. o que acontece na maioria dos grandes centros urbanos a exemplo de São Paulo, Iléus e o famoso aeroporto de Princess Juliana nas Antilhas Holandesas(ST Martenn) foi ao fato de a cidade não respeitar as cercanias dos aeroportos, se aproximando perigosamente do circulo ou cone de aproximação das aeronaves as psitas de pouso e decolagem, em São Paulo como você colocou aconteceu de forma grave o que torna Congonhas uma verdadeira aventura para os pilotos quandos estes pousam e decolam de lá. Aqui no nosso EStado tambem de igual forma, acontece isso porque a especulação imobiliaria de nossa capital não tem respeitado o plano diretor. A pista do nosso aeroclube, construída originalmente com mais de 1.000m, serve constantemente para receber turistas, empresários e autoridades, que já puderam confirmar a segurança operacional e a vantagem de ter um aeródromo próximo a tudo. Além deste público, sempre o aeroclube é solicitado a apoiar a Força Aérea Brasileira, Marinha e Exército, além de outros órgãos governamentais que sempre utilizam suas dependências. Não podemos deixar de lembrar das UTI’s aéreas que freqüentemente transportam nossos irmãos enfermos e das várias vezes que são chamados para localização de náufragos em nossa costa. Lembrando a todos que tudo isso é feito ou permitido sempre de forma gratuita, sem ônus nenhum para sociedade e se não fosse seguro as operações aéreas as Forças Armadas aqui não estariam realizando treinamentos. para fechar minha participação acho que a sua retirada para outro local se torna inviavel e de grande perjuizo para cidade João Pessoa, que já é refem de uma politica de investimentos de segurança aeronaútica para os voos que chegam no nosso principal aeroporto.