domingo, 6 de março de 2011

Diário de viagem - Destino: BH, MG.

Meu nome é Saskya, nascida e criada em João Pessoa, sou estudante de arquitetura e o pouco que sei devo a uma pequena quantidade de professores bons que tive, revistas e sites relacionados, livros, conversas com pedreiros, amigos e enxerimento. E, embora nunca tenha tido um diário, duvido que os femininos sejam sucintos, estou prometendo tentar.
Entre os dias 06 e 10 de Janeiro tive a prazerosa oportunidade de gastar meu tempo e dinheiro em Belo Horizonte. Nunca havia estado sequer em Minas Gerais, apesar de sempre ter tido a curiosidade de conhecer, tinha que me contentar com meia dúzia de pesquisas no Google imagens. Mas desde já posso adiantar que BH é realmente uma cidade linda, que vale a pena conhecer e que tem muito a ensinar.
Para começar: aeroportos. Infelizmente, terei que massagear o ego dos amigos Pernambucanos; sim, eles estão muito mais organizados que os outros aeroportos em que passei. No Presidente JK, em Brasília, fiquei pouco tempo, mas não creio que aquilo vá ser suficiente para a tão aclamada Copa do Mundo: pequeno, pouco organizado e com poucos seguranças. Quanto a Confins, somente na viagem de volta pude passear pelo aeroporto e ver o quanto ele é bonito, o cuidado com o desenho das escadas e rampas me fez babar. Ainda assim, reparei nos painéis eletrônicos desatualizados e em uma sala de embarque lotada.


           Aeroporto de Confins. Belo Horizonte, MG.

No caminho para Belo Horizonte, passamos pela Cidade Administrativa, assinada por Niemeyer e, cá entre nós, que dom pra formas! O auditório JK, o Palácio Tiradentes e os prédios Minas e Gerais (são esses os nomes) são um aperitivo para a visão de quem se encaminha para a cidade.
Meu primeiro passeio pelo centro foi a pé, a propósito, foi assim que descobrimos muita coisa bacana. Mas evitávamos o carro porque o trânsito é muito confuso e andar a pé sempre era a opção mais fácil. O traçado da área central da cidade é resultado de uma superposição de linhas ortogonais e diagonais; eu que não queria me meter com cruzamentos de até 8 avenidas. Nem com paradas de ônibus nas quais algumas linhas não passam aos domingos, outras não passam das 14h às 16h, outras não passam nos dias 27 de três em três meses.
No primeiro dia conheci o Museu das Minas e Metais com uma intervenção simplesmente estonteante de Paulo Mendes da Rocha. Infelizmente, não tive a oportunidade de entrar; somente me deliciei com os volumes, todos muito bem definidos e “soltos” do prédio que era da Secretaria da Educação. O volume das escadas tem uma faixa de vidro reflexivo que ao mesmo tempo em que separa o metal vermelho da intervenção, reflete o prédio antigo dando a impressão de continuidade; um charme.

   Museu das Minas e Metais. Belo Horizonte, MG.

Mais tarde fui me encantar com a Praça da Liberdade e com a quantidade de famílias que passeavam por ali em plena quinta-feira. Cachorros pequenos caminhando sem coleira, adultos fazendo cooper, mães e pais cuidando das crianças que serelepiavam próximo aos jardins... andar por aquela praça me fez guardar uma das imagens mais bonitas da minha vida e a todo instante me lembrava do nosso parque prometido na área do aeroclube. Um espaço como esse certamente está na lista dos itens que João Pessoa precisa: qualidade urbana e qualidade social, se é que elas podem ser dissociadas. E não digam que isso é discurso de arquiteto; meu namorado, estudante de direito e administrador de empresa, no meio da visita parou, encantado, e disse: “Muito bacana! João Pessoa podia ter um espaço desse, né?” É, podia.
    
Praça da Liberdade. Belo Horizonte, MG.

Entre os passeios completamente imperdíveis está o Inhotim. É algo entre museu e parque. Tem o paisagismo assinado por Burle Marx com paisagens maravilhosas, flora abundante e colorida que se mistura com lagos e galerias de arte. Em algumas dessas você não prestará atenção em outra coisa, exceto na própria galeria; tudo com muita qualidade, com muita vontade de fazer o espaço pulsar. Proeza seria conseguir visitar todas as obras em um só dia, por isso há lanchonetes e restaurantes que irão lhe servir da melhor maneira possível; seja com bancos a beira do lago, mesas em varandas sombreadas por grandes copas ou em locais mais discretos, entre as árvores. Enfim, falar demais pode estragar a surpresa guardada por cada curva do caminho.
 
   Inhotim. Brumadinho, MG.

Também na lista dos “imperdíveis” está, logicamente, a Pampulha. A Lagoa é bela. Eu só pensava, inocentemente, que ela era menos urbanizada... mas continuo achando-a linda. Por falar em beleza, ah Niemeyer! Finalmente conheci o bibelô das igrejas. Mágica. Apaixonante desde o primeiro segundo. O painel de Portinari cobre as curvas de charme. Mas a melhor parte é entrar na igreja: de um lado o altar, no oposto, a lagoa como paisagem e sobre tudo isso a abóbada maior do conjunto com o lambri de madeira. Também conheci a Casa do Baile e sua famosíssima marquise... um convite irrecusável a descansar do sol e apreciar a paisagem.
 
Igreja São Francisco e Casa do Baile. Belo Horizonte, MG.

Entre um passeio e outro, nas inúmeras caminhadas que fizemos, ia notando a arquitetura local... em algumas partes da cidade podemos ver belos prédios modernos (de fato, e não tardios), com linhas simples, volumes e detalhes elegantes. Tenho que citar o Edifício JK, de Niemeyer, que deixou um verdadeiro legado nessa cidade. Mas não se engane que isso não resume o que se vê; há exemplares de vários estilos, arquitetura pra todos os gostos.
   
Edifício JK e outros prédios do centro da cidade. . Belo Horizonte, MG.

Muita, muita coisa boa. E muita coisa de que não gostei também (é redundante lembrar que essa é minha opinião?). Volumes estranhos e sem sentido podem facilmente ser identificados na skyline. Mas isso não foi uma coisa que me incomodou, pelo contrário, passei a valorizar muito a arquitetura de lá por ver que os arquitetos tentavam, ousavam, testavam soluções diferenciadas, faziam do ofício um exercício, uma constante busca de melhoria; é diferente da repetição.
Sentia-me muito bem andando por aquelas ruas, em meio a diversidade de qualidade e de estilos, muito melhor que caminhar entre volumes iguais, com pouca ousadia, que te oferecem apenas uns joguinhos de azulejos pra enganar a vista. Isso é no mínimo, entediante. E tédio é a única coisa que não pude sentir nas ruas de Belo Horizonte. E pra não dizer que não falei das rosas, por onde andei, as avenidas estão muito bem arborizadas, fazendo com que a cidade se torne ainda mais inesquecível e adorável.
   


Como eu avisei, duvidava que fosse ser breve. Mas fiz uma viagem a uma cidade muito rica em cultura, arquitetura, lazer, entretenimento... e, pessoalmente, acho que ela pode ser uma cartilha para as cidades que prezam pela qualidade de vida e que desejam estruturar-se para proporcionar isso aos seus habitantes.


Saskya Carvalho é estudante do curso de arquitetura da Universidade Federal da Paraíba e faz estágio no escritório 7S34W Studio.
Fotos: Saskya Carvalho, Amanda Gomes e Leony Martins.

6 comentários:

  1. Só orgulho da arquiteta atenta, antenada, crítica e observadora que você será. Que esse seja o primeiro texto de muitos :)

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  2. Parabéns pela riqueza em observar e relatar, Saskya!

    Como mineiro e amante de Belo Horizonte fiquei feliz em ler seu texto!

    Alexandre Cruz de Oliveira

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  3. Alexandre, fiquei feliz em ler seu comentário. Foi uma delícia conhecer BH e da mesma forma que desejo que outras cidades tomem-na como referência, queria que os belo horizontinos tivessem consciência de que eles realmente têm muito o que ser valorizado e cuidado, para que a cidade continue a ser para todos os que a visitam, o que foi para mim.

    E Jully, o seu carinho é sempre além das estimativas. Só digo que tenho com quem aprender. =)

    Abraços

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  4. Belo diário e com otima leitura. Quando eu for conhecer BH, minha parada obrigatoria será Inhotim e a Praça da Liberdade(já que temos até referencias de um não-arquiteto rsrs).

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  5. Muito bom seu relato sobre BH. Realmente aqui é muito bom, mas como todo lugar tem seus prós e contras né? Também faço arquitetura e ainda quero viajar muito... Quando foi que esteve aqui?

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  6. Muito bom seu relato sobre BH. Realmente aqui é muito bom, mas como todo lugar tem seus prós e contras né? Também faço arquitetura e ainda quero viajar muito...
    Quando esteve aqui?

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