terça-feira, 1 de março de 2011

Arquitetura & realidade

 A ARQUITETURA SE ESQUECEU DE SAMBAR!
   É tempo de Carnaval. Mas, o que tem isso a ver com a Arquitetura?, você haverá de perguntar. A meu ver, se parar para pensar, descubrirá que tem muito a ver.
    A exemplo do cinema, que deixou de lado, com raras exceções, a matéria-prima do futebol consagrado pelos cronistas como a grande festa popular, a Arquitetura se esqueceu desse filão fantástico que faz parte do calendário nacional: o Carnaval, que continua alimentando as páginas de jornais e a mídia eletrônica, além do imaginário e o folclore popular.
   Afinal, não podemos nos esquecer que vivemos num país, no qual, o ano, conforme o ditado confirmado pela realidade, só começa depois dos festejos carnavalescos, que fazem parte de nossa cultura popular. 
    No cinema há exemplos de exceções , como o clássico “Garrincha, alegria do povo”, do  diretor Joaquim Andrade, um dos papas do “cinema novo”.
    Na Arquitetura, adivinhe, há um exemplo emblemático: o sambódromo do Rio de Janeiro projetado pelo mestre Oscar Niemeyer, que inspirou outros clones arquitetônicos Brasil afora.


Sambódromo
Fonte: R7 Entretenimento

   O grande arco ou passarela da apoteose, conforme insinuou o próprio autor, seria uma forma simbólica para celebrar a famosa sensualidade das mulatas cariocas.
   Ou  seja: uma forma estilizada das curvas sensuais das nádegas de uma sambista que se transformou num ícone do cenário da atormentada cidade do Rio de Janeiro e da mídia televisiva global. Nádegas sensuais, que segundo o folclore arquitetônico, seduziram até o mestre Le Corbusier, na sua passagem pelo Rio, nos anos 30, frequentou a famosa taberna da Glória.    

  A propósito do tema em pauta, lembraria um epísódio: o de um turista inglês que, entrevistado, depois de assistir a um dos desfiles das escolas de Samba cariocas, reagiu com humor: - God! Quase fui atropelado pela exuberância de uma sambista!

     E, também, recordaria a pergunta de uma leitora da Bahia, que , numa carta enviada para AU , indagava: “Por favor, me responda, por que a Arquitetura se esqueceu do Carnaval, um tema tão atraente e rico para soluções e propostas arquitetônicas criativas

     “Com certeza – reconhece o arquiteto Edson Elito, idealizador do histórico Boletim impresso do IAB/SP –  esquecemos muitas vezes da função fundamental de ser arquiteto: a de criar soluções para as demandas da população, seja na área habitacional, na área educacional,  seja para equipamentos de lazer e da diversão”!  
    Com sabedoria, o mestre Niemeyer, enfim, dá uma grande lição sobre a criatividade e invenção, que dignificam um profissional de Arquitetura. Profissional, que seja capaz de transformar uma demanda potencial em realidade. Seja um sambódromo, um camelódromo ( a exemplo daquele projetado por Zeca Brandão e equipe, em Recife), uma arena de rodeios, uma capela ou uma simples praça.


Camelódromo, Calçadão dos Mascates, Recife, Brasil, Arquitetos Zeca Brandão e Ronaldo L'Amour, 1993-94.
Foto Daniel Berinso
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    Praça ? “Desde que ela seja – ironiza, com sabedoria,  um botequeiro sexagenário, cuja figura me lembra a do pescador de “O velho e o mar”,  do romancista Ernst Hemingway -  –protegida por uma redoma de vidro à prova de bala, capaz de nos proteger contra a violência urbana”, apesar de todo o futebol e do Carnaval.
José Wolf

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