quinta-feira, 17 de março de 2011

Arquitetura & realidade

DO LUXO AO LIXO
(o lixo nosso de cada dia)
José Wolf

Acabou a folia. E, agora, José, perguntaria o poeta Carlos Drummond de Andrade. Do luxo das fantasias e alegorias das Escolas de Samba, restou, na realidade, só o lixo, que invadiu ruas, esquinas e calçadas das grandes cidades, como São Paulo, concorrendo com as bitucas de cigarro e as gomas de chicletes jogados fora.



E por falar nisso:
*
Lixo? Apesar de não sair vencedor da 83ª edição do Oscar, neste ano, o documentário “Lixo extraordinário”, cooprodução cinematográfica brasileira e inglesa, colocou em pauta um problema que começa a despertar, cada vez mais, a consciência da sociedade e da opinião pública: o do lixo.



Seja o lixo urbano, hospitalar, residencial, plástico, orgânico (sem falar do lixo mental), seja o lixo eletrônico,
dos chips, das pilhas, válvulas, dos celulares etc., constitui um assunto ou tema emergente num momento, no qual se amplia o debate sobre meio ambiente, a sustentabilidade e preservação do planeta, despertando a atenção da mídia para questões que poucas vezes foram diagnósticadas pela Arquitetura.
Até a campanha de Fraternidade da Conferência dos Bispos do Brasil se engajou, este ano, em defesa da preservação do planeta.



Lixo? De acordo com o Dicionário Aurélio: aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua, que se joga fora. E, no sentido simbólico, algo inútil, desprezível, sem valor, despretigiado, algo com prazo de validade vencido.
Contrariando o Dicionário, o lixo tem sido fonte e matéria-prima para a sobrevivêmcia e o ganha-pão de muitos catadores de lixo anônimos, com os quais nos cruzamos todos os dias, arrastando suas carroças repletas de dejetos descartáveis. A propósito, poderia ser até tema do enredo de alguma Escola de Samba.

Mas, em relação à Arquitetura, o que representa o lixo?
“Ao elaborar algum projeto, defrontamos, sem dúvida com o desafio da lixeira”, concorda o prestigiado
arquiteto Marco Antonio Borsoi. Como solucioná-lo?, eis a questão. Antigamente, eram as obsoletas lixeiras
coletivas, substituídas, agora, em muitos edifícios e condomínios por cestos plásticos, recolhidos à noite por
funcionários e depois por caminhões da Prefeitura. No Japão, por exemplo, cada cidadão é responsável pelo lixo que produz. País, por sinal, que foi vítima de um terrível terremoto e de um tsunami devastador, além do vazamento radioativo de usinas nucleares, que colocou o mundo em estado de alerta sobre as fontes de energia.

Lixo? Para o arq. Mario S. Pini, fundador da revista AU, numa visão mais ampla, o lixo urbano é um problema que tem a ver mais com o planejamento urbano do que com a Arquitetura. 

“Sem dúvida, é um problema real, que muitas vezes, concordo, foi esquecido pelos arquitetos”, admite Fernando Serapião, ex-editor da revista Projeto e atual editor da revista “Monolito”.

A multiprofissional Betânia Sampaio, ex-estagiária do escritório Gasperini, em São Paulo, e atual designer de grifes de bijuterias famosas, desmistifica a questão da sustentatibilidade tão decantada pelas revistas especializadas. “ Não uso isso como bandeira ou rótulo de meu trabalho – ressalta, ao reconhecer – que há uma nova consciência sobre o lixo que prodizimos E sobre o qual, precisamos repensar”

Recentemente, o jornal “Agora” publicou uma reportagem instigante sobre o desperdício que podemos detectar nos lixos e aterros sanitários das grandes cidades: são garrafas, vidros, metais, madeira, aparelhos eletrônicos, pedras, móveis, azulejo, pias, torneiras, geladeiras, computadores, que poderiam ser reciclados e
reaproveitos em novas construções.

A exemplo do que vêm fazendo cooperativas de moradores da periferia e subúrbios de várias cidades, com a orientação, inclusive, de arquitetos anônimos ou consagrados. Um bom exemplo dessa experiência já foi sinalizada, nos anos 80, pelo arq. Izaak Vaidergorn, ex-professor da Unicamp (Campinas/SP). Ao construir sua casa nos arredores da cidade, utilizou-se basicamente de material de demolição e entulho, que catava pelas ruas e caçambas. Entre tantos, portas, janelas, esquadrias, móveis, madeira, azulejo etc. Que, a seguir, completava, com outros materiais que estavam faltando.

“Por que não transformar o lixo em luxo?”, pergunta a empresária Maria Isabel, que decidiu investir no segmento de produtos descartáveis e degradáveis etc.

As imagens, que vimos na TV, da destruição e do lixo causados pelo tsunami, no Japão, nos causaram, porém, profunda sensação de fragilidade de tudo, inclusive, das construções.`



"Na trama do filme Wall-E da Disney-Pixar os terráqueos embarcam numa viagem espacial sem prazo de retorno.  Deixam para trás um planeta consumido e descartado. Entulhado de lixo e com o meio ambiente totalmente degradado, a única forma de vida no planeta Terra que sobreviveu ao caos da poluição foi uma barata. Wall-E é um filme voltado ao público infanto juvenil e que dá um soco na cara de uma sociedade que precisa sair do estado de coma e retomar os rumos do destino das cidades em suas próprias mão." (Oliveira Jr)



Se você internauta, enfim, tiver alguma idéia sobre o assunto em questão, envie seu e-mail com alguma sugestão e proposta.


José Wolf é jornalista, ex-editor da Revista AU e edita o boletim do IAB-SP.

2 comentários:

  1. Oi Oliveira o Wolf esteve aqui comigo,e vi a matéria,adorei,lembre-se que você pode provocar uma revolução na Mídia especializada.

    Simone Araújo.

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  2. Simone, que bom que gostou do texto. O Wolf é um cara incrível. Sempre com um olhar "oblíquo" e um discurso polifônico sobre a cidade. Não temos grandes pretensões, mas fazemos o melhor que podemos para dar uma contribuição crítica ao processo de urbanização das nossas cidades.

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