Recife e Olinda no olho do furacão da arquitetura mundial
Oliveira Júnior ¹
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Na última sexta feira às 22:00h foi encerrado o 19º Congresso Brasileiro de Arquitetos no auditório Guararapes do Centro de Convenções de Pernambuco. No balanço geral a comissão organizadora computou 3.033 inscritos, deste total cerca de 1.800 eram mulheres e 1.200 pernambucanos.
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A presidente do IAB-PE Vitória Régia Andrade agradeceu a todos os presentes pelo sucesso do congresso e leu a Carta do Recife, elaborada durante o 134º COSU. Ao final do discurso Vitória lembrou que a realização do 19º CBA ratifica a importância do Instituto de Arquitetos do Brasil que muitas vezes desenvolve um trabalho anônimo, mas de suma importância para o desenvolvimento cultural, técnico e cientifico da profissão. Concluindo seu pronunciamento conclamou os arquitetos a uma aproximação dos IAB's e a união dos profissionais em torno da viabilização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo.
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Palestra de Rykwert e Secchi
Foto: Daniela Tavares
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Estes 4 dias de congresso foram muito intensos e a programação bastante diversificada ofereceu uma vasta gama de opções, divididas entre vários eixos temáticos. As palestras ocorreram simultaneamente e foram bastante concorridas. O corre-corre entre os auditórios revelavam a multiplicidade de interesses.
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Hospedado em Boa Viagem e tendo que enfrentar o caótico transito da metrópole pernambucana para me desolocar ao extremo oposto de Recife, acabei não chegando a tempo para assitir a palestra de Solano Benitez, ocorrida na quarta-feira (02/06). Na saída do auditório o arquiteto paraibano Marco Suassuna, visivelmente encantado com a palestra declarou: "se eu for embora agora mesmo, o congresso já valeu a pena". O arquiteto Gilberto Guedes (PB), um dos últimos palestrantes do congresso, foi enfático ao afirmar que Solano Benitez apresentou a conferência mais rica do 19º CBA. O mesmo sentimento foi compartilhado pelo jovem arquiteto cearense Bruno Braga, vencedor do Prêmio Caixa/IAB 2008-2009, na modalidade Habitação Multifamiliar Sustentável em Área de Favela. Segundo Suassuna e Guedes, o paraguaio Benitez trouxe em sua bagagem uma rica experiência cultural e tecnológica extremamente criativa e adaptada a realidade latinoamericana.
Solano Benitez
Fonte: arcoweb
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Dentro de um contexto global , formado por uma sociedade fragmentada e culturalmente cada vez mais homogênea, repleta de geometrias complexas, referências tecnológicas e novos paradigmas informacionais e paramétricos, apoiados em sistemas de CAD, CAE e CAM, a obra de Benitez nos leva a refletir sobre a validade destes modelos impostos por uma sociedade de consumo que induz a standardização da arquitetura, a partir de uma ótica industrial baseada na massificação de materiais produzido por grandes conglomerados econômicos, a exemplo do concreto, do aço e do vidro.
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A consonância entre os discursos das principais conferências se deu por meio da reflexão filosófica sobre o modo de pensar a cidade como plataforma para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental. Nesta ótica a arquitetura é uma mera coadjuvante no processo de desenvolvimento urbano.
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Paulo Mendes da Rocha enfatizou a importância de superarmos as barreiras geográficas e de se explorar o potencial fluvial das cidades. Joseph Rykwert, rememorou as particularidades culturais das cidades do mundo e comentou sobre os efeitos nefastos da globalização, principlamente a "pasteurização" arquitetônica.
Bernardo Secchi compartilhou sua experiência com os estudos sobre o planejamento urbano para a "Grande Paris" dos próximos 30 anos exibindo uma complexo mapeamento metropolitano dissecando suas principais variáveis urbanísticas. Revelou que a equipe se envolveu num extenso trabalho de campo para coletar as percepções e necessidades de uma população multiétinica e de grande diversidade cultural.
O trabalho trouxe a tona conceitos como porosidade urbana que remete a necessidade de mobilidade e acessibilidade intraurbana para promover a vitalidade e a democratização dos espaços urbanos da "cidade luz".
O holandês Ole Bouman pregou o adensamento das cidades, a sincronização e recombinação dos processos para criar um senso de comunidade. Referindo-se a figura icônica da capa do livro do arquiteto Armando de Holanda (Roteiro para construir no nordeste) assegurou que ali estava estampado a essência da arquitetura. Um abrigo, uma sombra, um local de encontro e vivência comunitária.
Indagando sobre o futuro Bouman destacou a necessidade de mudança de uma arquitetura passiva para uma arquitetura de ação. "Deixemo-nos inspirar pelos problemas da cidade ao invés de temê-los", disse o presidente do Instituto de Arquitetos da Holanda. "Onde há uma necessidade há uma oportunidade" foi a frase que resumiu sua palestra.
O chinês Yung Ho Chang iniciou sua conferência com a imagem de uma casa chinesa simples registrada por um fotógrafo português. Lembrou sua infância num ambiente semelhante e remetendo-se a o pátio interno da casa onde um hoimem alimentava um pássaro, comentou que ali era o ambiente de convivência comum e a essência da cultura arquitetônica local.
Durante toda a sua exposição ficou claro a presença dos pátios nos seus projetos, quer fossem residenciais ou institucionais. Demontsrando bastante simplicidade e humildade, Chang fez uma bela palestra revelando domínio do objeto desde a pequena escala até o desenho urbano.
Casa Abu + Font
Arquiteto: Solano Benitez
Fonte: Revista MDC
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A consonância entre os discursos das principais conferências se deu por meio da reflexão filosófica sobre o modo de pensar a cidade como plataforma para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental. Nesta ótica a arquitetura é uma mera coadjuvante no processo de desenvolvimento urbano.
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Paulo Mendes da Rocha enfatizou a importância de superarmos as barreiras geográficas e de se explorar o potencial fluvial das cidades. Joseph Rykwert, rememorou as particularidades culturais das cidades do mundo e comentou sobre os efeitos nefastos da globalização, principlamente a "pasteurização" arquitetônica.
Joseph Rykwert
Fonte: http://www.australiandesignreview.com/
.Fonte: http://www.australiandesignreview.com/
Bernardo Secchi compartilhou sua experiência com os estudos sobre o planejamento urbano para a "Grande Paris" dos próximos 30 anos exibindo uma complexo mapeamento metropolitano dissecando suas principais variáveis urbanísticas. Revelou que a equipe se envolveu num extenso trabalho de campo para coletar as percepções e necessidades de uma população multiétinica e de grande diversidade cultural.
O trabalho trouxe a tona conceitos como porosidade urbana que remete a necessidade de mobilidade e acessibilidade intraurbana para promover a vitalidade e a democratização dos espaços urbanos da "cidade luz".
Bernardo Secchi
Fonte: www.cca.qc.ca/en
.O holandês Ole Bouman pregou o adensamento das cidades, a sincronização e recombinação dos processos para criar um senso de comunidade. Referindo-se a figura icônica da capa do livro do arquiteto Armando de Holanda (Roteiro para construir no nordeste) assegurou que ali estava estampado a essência da arquitetura. Um abrigo, uma sombra, um local de encontro e vivência comunitária.
Indagando sobre o futuro Bouman destacou a necessidade de mudança de uma arquitetura passiva para uma arquitetura de ação. "Deixemo-nos inspirar pelos problemas da cidade ao invés de temê-los", disse o presidente do Instituto de Arquitetos da Holanda. "Onde há uma necessidade há uma oportunidade" foi a frase que resumiu sua palestra.
Ole Bouman
Fonte: http://www.dutchdfa.nl/
.O chinês Yung Ho Chang iniciou sua conferência com a imagem de uma casa chinesa simples registrada por um fotógrafo português. Lembrou sua infância num ambiente semelhante e remetendo-se a o pátio interno da casa onde um hoimem alimentava um pássaro, comentou que ali era o ambiente de convivência comum e a essência da cultura arquitetônica local.
Durante toda a sua exposição ficou claro a presença dos pátios nos seus projetos, quer fossem residenciais ou institucionais. Demontsrando bastante simplicidade e humildade, Chang fez uma bela palestra revelando domínio do objeto desde a pequena escala até o desenho urbano.
Yung Ho Chang
Fonte: spectrum.mit.edu
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Embora o grande homenageado do congresso tenha sido Borsoi a mensagem maior que ficou foi a de que os princípios de Armando de Holanda continuam válidos e cada vez mais presentes na prática arquitetônica contemporânea, que pese as exigências ambientais e de conforto, mas que sempre fizeram parte da formação dos arquitetos brasileiros, especialmente os nordestinos.
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Salve Luís Nunes, salve Borsoi, salve Amorim!
Salve Armando de Holanda!
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Salve Luís Nunes, salve Borsoi, salve Amorim!
Salve Armando de Holanda!
Nota
1. Oliveira Júnior é arquiteto graduado pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo PPGEU/UFPB e professor de projeto e urbanismo do curso de arquitetura do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.
Também perdi a palestra de Solano Benitez por causa do trânsito. Estava no caminho de ônibus quando um amigo me chamou para ir de carro. Alguma espera para isso, e estávamos num engarrafamento. Cheguei lá com as pessoas emocionadas saindo do auditório Guararapes... Queria que disponibilizassem os vídeos das palestras de alguma forma.
ResponderExcluirRodrigo, há uma grande possibilidade do IAB-PE disponibilizar uma cópia do vídeo da palestra de Benitez para venda ou para os demais IAB's do país.
ResponderExcluirFiquemos atentos!