quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Museu do Amanhã - Santiago Calatrava

Compromisso com o quê?
Oliveira Júnior¹


O sorriso de calatrava reflete um certo deslumbramento quase pueril diante do protótipo da sua mais recente criação: o Museu do Amanhã. Ainda embasbacados como crianças, insistimos em nos admirar com o novo brinquedo que acabamos de ganhar. Ou pelo menos nos prometeram!
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Aparentemente mais uma magnífica obra de um dos arquitetos de maior renome internacional, eleito em 2005 pela revista americana Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Quem ousaria questiona-lo?
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Em 30 segundos o espetacular vídeo de apresentação da proposta remonta a evolução urbana do Rio de Janeiro e dedica pouco mais de 2 minutos para fazer um passeio aéreo pelo entorno da maquete do edifício do Museu. Os diversos ângulos de visão do mar em direção à costa são estonteantes e tem sempre como ponto focal, obviamente, a "delicada" estrutura do Museu.
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Estrutura essa dotada de painéis articulados que se movem de acordo com a posição do sol ao longo do dia. Acostumado a se inspirar em formas orgânicas para desenvolver seus projetos, não me admiraria se Calatrava tivesse resgatado, em nível subliminar, o desenho e o comportamento da folha da Malícia ou Mimosa invisa para conceber o partido do Museu do Amanhã.

 


Retomando a percepção fornecida pelas imagens da área do entorno urbano é possível perceber, em alguns instantes do vídeo, uma ampla praça criando um vazio necessário para a contemplação do Museu e a transição entre o conjunto arquitetônico proposto e o existente.
Relembrando as primeiras informações divulgadas sobre o projeto, não posso deixar de me reportar a alguns fatos extraordinariamente importantes discutidos em novembro de 2008, quando o profissional cotado para desenvolver a proposta do Museu ainda era o  designer americano Ralph Appelbaum. Segundo o site JusBrasil, o Museu do Amanhã foi proposto naquela localidade com o objetivo maior de servir de elemento intermediador de uma proposta de requalificação urbana para a região portuária do Rio de Janeiro. Ainda segundo a mesma fonte, foi firmado um acordo de  cooperação técnica entre a Fundação Roberto Marinho e a Companhia Docas do Rio de Janeiro, que cedeu os armazéns 5 e 6 do Cais do Porto para serem transformados em sede do Museu e ajudar a revitalizar a região. O Goverdo carioca também cedeu o prédio da Polinter para o mesmo propósito.

O que realmente me deixou inquieto é que ficamos tão extasiados com a graciosidade do edifício que não nos demos conta de indagar sobre os méritos da proposta dentro de um contexto macro de desenho urbano. Claro que não sou ingênuo de pensar que a equipe de Calatrava não pensou em algo tão óbvio. Mais importante que o objeto arquitetônico em si é a articulação do mesmo com os demais equipamentos e usos existentes naquela região e com a cidade.
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O enfoque no edifício em detrimento do desenho urbano pode induzir a uma percepção reducionista sobre a abrangência e a importância da atuação do arquiteto como instrumento de (re)qualificação do espaço da cidade. Deste modo acredito que é de suma importância que a proposta geral de intervenção urbana seja amplamente divulgada pela mídia em geral e principlamente pela mídia especializada.
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Afinal é mister esclaracer que só se constrói um futuro para a cidade por meio de uma intervenção que estabeleça um diálogo franco com as urgentes necessidades da sociedade, respeitando-se a vocação urbana e a memória impregnada no acervo arquitetônico local.



1. Oliveira Júnior é arquiteto graduado pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo PPGEU/UFPB e professor de projeto e urbanismo do curso de arquitetura do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.

Fontes:
http://www.piniweb.com.br/
www.jusbrasil.com.br

Um comentário:

  1. Espero realmente que a obra não se trate de um monumento isolado, e que essa ingenuidade não tenha passado pela política publica, já que não acreditamos que esse tipo de equivoco venha a cair sobre um escritório tão consagrado como o de Calatrava.

    Particularmente não me agrada essa arquitetura The Jetsons, o que não quer dizer nada, pois se ela cumprir a função a qual foi pros posta se tornará automaticamente uma boa arquitetura. Alem do que ela não precisa e não se importa com minha opinião pessoal.

    Agora só uma pergunta, quanto custa uma obra dessas (a edificação do museu isolada) e quanto custa o projeto de requalificação urbana da região portuária? Essa política de fazer menos com mais não me agrada.

    Daniel Maia

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