sábado, 20 de dezembro de 2008

Polêmica - Herzog e De Meuron em São Paulo

Selecionados pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, entre um seletíssimo grupo de quatro mega escritórios internacionais de arquitetura, os suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron serão responsáveis pelo projeto do novo teatro de ópera e de dança a ser implantado no centro de São Paulo.
Ficaram de fora do páreo nada mais nada menos que as estrelas Rem Koolhaas (Oma - Office for Metropolitan Architecture), Norman Foster (Foster + Partners) e César Pelli (Pelli Architects).
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A polêmica foi instaurada no momento em que o Governo Estadual valendo-se da lei federal 8.666/93, a mesma que premia Niemeyer com as principais obras institucionais brasileiras, descartou a possibilidade de concurso público de projetos e ignorou os "Pritzkers" brasileiros. Afinal uma obra arquitetônica de 300 milhões de reais rendendo honorários de cerca de 25 milhões não aparece todo dia no mercado nacional.
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A insatisfação entre os arquitetos tupiniquins motivou várias manifestações de desconforto, repúdio e indignação, inclusive do IAB-SP. Em reunião extraordinária, ocorrida no dia 05/11, o instituto decidiu enviar um ofício ao Secretário João Sayad solicitando esclarecimentos sobre a forma de contratação do escritório internacional.

Outra curiosidade encontrada na web é uma "petição online" aberta aos paulistanos e arquitetos brasileiros, assinada´pelos arquitetos Euclides de Oliveira e Pitanga do Amparo, tecendo considerações sobre a contratação "irregular" de Herzog e De Meuron e elecando exemplos semelhantes e mal sucedidos edificados em outras partes do globo. Num episódio ocorrido em 1992 na I Bienal Internacional de Arquitetura de Recife , Pitanga não poupou críticas a obra de outro suíço, Mário Botta, referindo-se publicamente a um dos projetos do arquiteto como um "saco de gatos".
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Em seu portal a revista AU online sugere que no momento só nos resta "esperar pelos primeiros desenhos dos suíços, esperar que a construção não se transforme em CPI, como a Cidade da Música no Rio de Janeiro, de Christian de Portzamparc e que o intercâmbio de arquitetos acrescente positivamente as discussões da profissão em solo brasileiro".
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O fato é que Herzog e De Meuron passam ao largo do tumulto que acontece em terras brasilis e evitam dar entrevistas sobre o assunto. Os arquitetos têm até março para apresentar o projeto do complexo, pois se os prazos forem cumpridos a risca, em julho de 2009 as obras devem ser iniciadas para que o teatro fique pronto até o final de 2010.

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No final das contas vale salientar que a discussão em pauta não é sobre reserva de mercado, o que empobreceria o indispensável intercâmbio cultural. Tratando-se de uma obra que será implantada numa área degradada não há notícias de que o projeto também envolverá um plano de requalificação do espaço urbano. Num mercado global altamente competitivo perde-se mais uma grande oportunidade para revelar jovens talentos e/ou afirmar arquitetos consagrados, alavancando a arquitetura brasileira no cenário internacional. Ah! Sayad. Que saudade do Brazil Buildings.

Um comentário:

  1. Muito bom post!
    Demorei a me posicionar no meio dessa turbulência toda. Entendo perfeitamente os dois lados. Diplomacia sempre faz bem.
    Não é protecionismo, preconceito, medo de concorrência. Já vinha questionando Herzog e de Meuron em outros posts do meu blog.
    Que questiono, é o porquê da escolha desses arquitetos? Não seria justo um concurso, como é comum na Europa? Afinal, o dinheiro investido é público.
    O que vejo com essa entrada dos “starchitects” é um intercâmbio, é ver o país fazer parte do “cenário arquitetônico mundial”, como já se compartilha com Porto Alegre – o que me orgulha, e muito. A obra de lá, foi feito com capital privado (com benefícios fiscais, claro). Foram várias etapas até escolher o arquiteto que combinasse com a obra de Iberê.
    O que vejo no caso dessas trapalhadas governamentais (como no Rio), cabe perfeitamente uma frase do arquiteto chileno Alejandro Aravena: “A busca pela independência da arte pela arte tem um preço: o preço da irrelevância”.
    O que se precisa? Gestores lúcidos e inovadores na hora de suas escolhas. É o caso de Porto Alegre.

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