QUE CUBA (por enquanto) NÃO SEJA AQUI!
José Wolf
Cuba, que já encantou corações e mentes de tantos jovens, nos anos 60 e 80, com heróis como Che Guevara, volta ao noticiário. Motivo: não se trata de alguma ameaça de invasão dos Estados Unidos, como aconteceu na era Kennedy, mas de alguns sinais, ainda tímidos, de uma desejável abertura política, a exemplo do que vem ocorrendo em vários países árabes.
Entre os sinais, a visita da presidente Dilma e da anunciada visita do papa Bento XVI à emblemática ilha, cuja capital, com seus edifícios coloniais de origem espanhola, fascinou o escritor norte-americano Ernst Hemingway, autor do clássico “O velho e o mar”.
Imagem: Plaza Vieja, Havana.
Fonte: http://www.malapronta.com.br
Ao mesmo tempo, a presidente Dilma, num gesto surpreendente, aprovou o visto de entrada brasileiro para a jornalista Yoani Sanchez , responsável pelo festejado blog independente geraçaoy.
Imagem: Yoani Sánchez
Fobte: http://veja.abril.com.br
A visita da presidente, no entanto, frustou a expecativa de ativistas de oposição cubanos. Ela preferiu
cutucar os Estados Unidos, ao se referir, em sua entrevista, à prisão de Guantámano, em lugar de tocar no delicado tema dos direitos humanos. Seria, na opinião de analistas, um ranço ideológico de sua antiga militância política de esquerda.
Imagem: Raúl Castro e Dilma Rousseff
Dentro de um regime revolucionário, que dura há mais de 59 anos, Cuba, reconhecem seus críticos, conseguiu avanços signicativos na área da saúde, da educação e dos esportes, mas continua zero à esquerda na questão dos direitos humanos, principalmente em relação aos dissidentes e, inclusive, aos homófilos.
Na condição de jornalista e de editor, então, da revista AU, os primeiros cubanos que conheci foram os notáveis arquitetos Antonio Quintana e Fernando Salinas, durante o Congresso de Arquitetos “Vilanova Artigas” realizado em Belo Horizone, MG, em 1986. Em sua palestra, referindo-se às colunas do Palácio do Alvorada, Salinas, ovacionado, proclamou: “feliz o arquiteto, cuja obra é reproduzida nos pára-choques de caminhões”!
Depos, ainda na condição de editor, a sensível repórter Lívia Pedreira, atual editora da revista “Arquitetura & Construção” viajou para Havana para cobrir a III Conferência de Ensino e Arquitetura. Ao retornar, emocionada com o que viu, escreveu a reportagem intitulada “Cuba seja aqui” (AU5).
Lembaria, ainda, outro "cubano", de origem argentina: o egrégio Roberto Segre. Com seus livros e artigos sobre a produção arquitetônica da América Latina, ele se tornou conhecido de todos nós.
A respeito do resistente Segre, para quem, por aprovação do diretor Mario Sérgio Pini, foi aberto um espaço editorial para a publicação de seus artigos, lembraria alguns episódios:
Depois de proferir uma palestra na sede do IAB de São Paulo, é convidado pela Direção do Instituto paulista para um jantar no restaurante Boi na Brasa. Ao ver o tamanho da bisteca, reagiu: -“Meu Deus, essa era a cota de carne mensal que eu tinha direito quando vivia em Cuba”.
Imagem: Roberto Segre
Fonte: http://www.arcoweb.com.br
Outro: ao participar de um almoço na casa da arquiteta e arqueóloga . Tereza Simis Borsoi, em Recife, ele fez observações críticas ao paredão de edifícios da orla marítima da Boa Viagem, prejudicando a ventilação natural para outros bairros da cidade. Edifícios, por sinal, projetados por arquitetos que estão construindo a história da magnífica arquitetura pernambucana contemporânea.
Ao se separar da primeira esposa, me confessou, foi obrigado a conviver, sob o mesmo teto, com a segunda companheira.
Outro cubano (natural de Santiago de Las Vegas, mas viveu e morreu na Itália) que fez minha cabeça foi o escritor Ítalo Calvino, autor do visionário livro “Seis propostas para o próximo milênio”. Ou seja: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiciplidade, consistência, virtudes que poderão orientar nossa fugaz existência.
Imagem: Italo Calvino
Concluindo, desejaria que Cuba, que resiste a tantos embargos econômicos, se transformasse em paradigma, também, de respeito às dissonâncias políticas, sexuais e de opinião. Se isso acontecer, o mundo, seja aqui, no Haiti, na Síria, na Rússia etc, com certeza, será melhor. Um mundo, no qual, o principal valor não seja o TER da especulação financeira e da corrupção, mas do SER solidário e participativo.
Compartilhei no Face, foi sucesso, há poucas coisas inteligentes hoje em dia......obrigado
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