sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Elemental - Alejandro Aravena

Quinta Monroy, Iquique, Chile


































MEMORIAL

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O governo chileno pediu-nos para resolver uma equação difícil de assentar 100 famílias que nos últimos 30 anos haviam ocupado uma área de 0,5 ha no centro de Iquique, uma cidade no deserto chileno. Apesar do custo da terra (3 vezes mais do que normalmente a habitação social pode pagar pela terra), queríamos evitar a erradicação destas famílias para a periferia (Alto Hospício).

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Devíamos trabalhar no âmbito de um programa específico do Ministério da Habitação chamado Habitação Social Dinâmica sem Dívida, que visa mais pobres da sociedade, aqueles sem capacidade de endividamento e que consiste em um subsídio de US$ 7,500.00 por família com o que se deve financiar a compra do terreno, as obras de urbanização e a arquitetura. Este pequena investimento, no melhor dos casos, perimite construir apenas cerca de 30 m2. Isto obriga os beneficiários a serem eles mesmos que "dinamicamente" transformem ao longo do tempo a mera solução de habitacional, em uma casa.

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Se para resolver a equação, nós pensávamos em termos de uma casa 1 = 1 lote, mesmo quando usávamos os pequenas lotes da habitação social, só cabiam apenas 30 famílias no terreno. Isto porque com a tipologia de casas isoladas, o uso do solo é extremamente ineficiente; a tendência, portanto, é encontrar terrenos que custem muito pouco. Estes terrenos encontram-se normalmente nas periferias, marginalizados e alienados das redes de oportunidades que uma cidade oferece.

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Se para fazer um uso mais eficiente do solo, se reduz o tamanho do lote para igualá-lo com o da casa, o que obtemos, mais que eficiência, é a super ocupação do solo.
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Se para obter densidade, construímos em altura, os edifícios resultantes não permitem a casas possam crescer. E, neste caso, precisamos de cada casa se amplie pelo menos duas vezes o seu tamanho original.

QUE FAZEMOS ENTÃO?
A primeira coisa que fizemos foi mudar a forma de pensar o problema: em vez de projetar a melhor unidade possível de US$ 7,500.00 e multiplicá-la 100 vezes, nos perguntamos qual é o melhor edifício US$ 750,000.00 dólares capaz de acomodar 100 famílias e seus respectivos crescimentos.

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Vimos que um edifício bloqueia o crescimento das habitações. Isso é verdade, exceto no primeiro e no último piso; o primeiro piso sempre poderá crescer horizontalmente sobre o solo e o último piso sempre poderá crescer verticalmente no ar.
O que decidimos então foi fazer um prédio que tinha andar apenas o primeira e o última piso.





QUAL É O NOSSO PONTO?
Propomo-nos a deixar de pensar sobre o problema da habitação como um gasto e começar a ver isso como investimento social. Trata-se de garantir que o subsídio da residência que recebem as famílias seja valorizado a cada dia que passa. Todos nós, quando compramos uma casa esperamos que se valorize com o tempo. Em se tratando de imóveis este fato real é quase sinônimo de investimento seguro.

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Sem embargo neste momento, a habitação social, em um percentual inaceitavelmente elevado, se parece mais como comprar um carro que uma casa, a cada dia que passa as casas valem menos. Isto é muito importante para corrigir, pois na escala do país, nós gastaremos 10 bilhões de dólares durante os próximos 20 anos, (apenas se projetarmos o atual orçamento do Ministério da Habitação). Mas também a escala de uma família pobre, é fundamental compreender que o subsídio para habitação será de longe o mais importante apoio que recebem, apenas uma vez na vida, por parte do Estado; e é precisamente esta concessão, que deverá tornar-se em um capital social e a habitação em um meio, que permite que as famílias superarem a pobreza e não apenas protegerem-se das intempéries.

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Este projeto conseguiu identificar um conjunto de variáveis de projeto arquitetônico que nos dão esperança de que a habitação se valorize no tempo.

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Primeiro desenvolvemos uma tipologia que nos permitiu alcançar uma alta densidade suficiente para pagar a terra que era muito bem localizado na cidade, imersos na rede de oportunidades oferecidas pela cidade (trabalho, saúde, educação, transporte). A boa localização é fundamental para que a economia de cada família seja mantida e para a valorização de cada propriedade.

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Em segundo lugar, decidimos introduzir entre o espaço público (das ruas e paisagens) e o privado (de cada casa), o espaço coletivo: uma propriedade comum, mas com acesso restrito, o que permite dar lugar as redes sociais como um mecanismo fundamental para o sucesso de entornos frágeis.

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Ao agrupar as 100 famílias em 4 grupos menores de 20 famílias cada um, conseguimos uma escala urbana pequena o suficiente para permitir que os moradores estabelecerem acordos, mas não tão pequena que eliminasse as redes sociais existentes.
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Em terceiro, dado que 50% dos m² dos conjuntos serão auto-construído, este edifício devia ser suficientemente vazado para permitir que o crescimento ocorreresse dentro de sua estrutura. Por um lado queríamos demarcar (mais que controlar) a construção espontânea para evitar a deterioração do ambiente urbano no tempo e por outra parte facilitar o processo de ampliação de cada família.
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Finalmente, em vez de fazer uma casa pequena (em 30 m² tudo é pequeno), optamos por projetar uma residência de classe média, a qual podemos oferecer neste momento (tendo em conta os recursos disponíveis), apenas uma parte. Nesse sentido, as partes difíceis da casa (banheiro, cozinha, escadas e paredes divisórias) são projetados para o estado final (após o alargamento), ou seja, para uma habitação de mais de 70m ².
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Em resumo, quando o investimento só viabiliza a metade, a pergunta relevante é que metade deve ser feita. Nós optamos por fazer aquela metade que uma família individualmente nunca poderá atingir, por muito tempo, esforço ou dinheiro que investa. Essa é a maneira em que esperamos contribuir com as ferramentas próprias da arquitetura para uma questão não arquitetônica: como superar a pobreza?








Ficha técnica

Arquitetura: Elemental - Alejandro Aravena.

93 residências

Localização: Iquique (Chile)

Terreno: 5.025m ²

Módulo habitacional inicial: 36m ²

Módulo habitacional ampliado: 70m ²

Contratante: Chile Barrio

Engenharia: José Gajardo, Juan Carlos de la Llera

Urbanização e especialidades: Proingel, Abraham Guerra

Construção: Loga S.A.
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