domingo, 29 de março de 2009

SPBR Arquitetos

Residência em Condomínio - Carapicuíba, SP
Texto: Simone Sayeg










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O PROJETO
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Quando pouco é o que se vê, talvez aí você encontre a arquitetura que procura. Mesmo em meio a um cenário típico dos condomínios fechados, onde imagens arquetípicas de paredes, janelas e telhados suíços (?!) expõem orgulhosamente suas materialidades, Angelo Bucci e Alvaro Puntoni deram continuidade a uma atitude projetual presente em grande parte da produção arquitetônica de ambos: a ação construtiva reduzida e definitiva. De fato, quando se procura o projeto de uma residência para um casal com filho em um condomínio em Carapicuíba, São Paulo, o que se encontra é apenas um comprido e estreito volume de concreto que corre transversal ao terreno, suspenso por dois apoios.
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O quase túnel recoberto por telhas onduladas soa bastante agressivo, quase industrial no cenário adornado de pinturas e revestimentos do entorno. É essa a casa? Ainda não. O tubo de 3 m x 25 m responde a uma das principais solicitações do casal: morar e trabalhar no mesmo espaço, conquanto separados o máximo possível. Configura-se um local de trabalho, escritório inusitado, restrito apenas a duas longas visadas, a rua e a mata posterior.
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O que se convencionou chamar de casa está implantado seis metros abaixo, no desnível do terreno, entre a rua e um pequeno bosque, anteparo natural. Acima, escritório, abaixo, residência e, no meio, a infinidade de espaço característico da herança arquitetônica de Artigas: a praça de acesso. É a liberdade possível na medida da dimensão humana, que se estende sobre o limite superior dos espaços prismáticos que se organizam como um labirinto no grande desvão do terreno. "Os vizinhos fazem um muro de contenção e enchem de terra para a casa ficar no nível da rua, e nossa primeira medida foi exatamente não fazer o que se faz. Ao contrário, suspendemos o escritório e rebaixamos os ambientes da casa", explica Alvaro Puntoni.
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Bucci vem de uma série de projetos no escritório paulista MMBB que se comunicam com a dinâmica espacial proposta por nomes como Paulo Mendes da Rocha e Eduardo de Almeida, e retoma a parceria com Puntoni no projeto dessa casa. Assim como na residência dentro do condomínio da Aldeia da Serra, onde o acesso principal também se dá pela cobertura por meio de uma passarela, ou a clínica odontológica em Orlândia, rigorosamente definida entre duas lajes de concreto, na casa em Carapicuíba as partes do todo são simples e diretas. Planos de concreto, horizontais e verticais, e vidros que se encaixam. Todos os ambientes mantêm um rigoroso afastamento entre si, e do visitante, que tem que percorrer uma ponte metálica para acessar tanto o escritório quanto a residência abaixo.
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A solução do programa proposto configura-se de forma aérea, o que garante um ótimo aproveitamento do terreno de apenas 400 m2, pequeno para a intensidade do desejo que os proprietários tinham de se isolar da cidade e seus problemas. A partir da cobertura-pátio, uma escada desce e divide cozinha da sala de estar e, em continuidade, leva a três dormitórios que finalmente tocam o solo e a base do terreno.
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O conceito da arquitetura paulista de planos que se destacam e expandem possibilidades se revela na visão da cozinha que, atirantada, literalmente se sobrepõe à piscina, ou na continuidade da sala de estar que se estende além e externa-se em pátios frontal e posterior, com apenas um discreto limite formado pela transparência de folhas de vidro, responsáveis também por marcar o fim do piso de concreto e o início do mosaico português. A típica envoltória transparente repete-se nos dormitórios, e enfim, o conjunto está completo.
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Os grandes muros de contenção sustentam não apenas os vizinhos, mas duas vigas de concreto que correm de um lado a outro dos limites e complementam o jogo estrutural da casa. A visão desses muros, longe de confinar, reforça os vazios, a luz e a natureza que penetram em todos os espaços e conferem um mundo à parte aos moradores, longe das experiências convencionais e previsíveis das construções do entorno.
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A casa se mostra assim, em visadas singulares, em percursos particulares, no caminho entre um degrau e outro, na falta de materialidade e da ordenação confortável dos espaços. A desconstrução do morar, a inversão do óbvio programático culminam em não se saber qual ambiente é mais importante, qual é o começo, meio e fim do percurso. Dormitórios tocam o chão, bem ao lado da piscina, a cozinha acristalada pende no espaço vazio, a sala é um terraço, e vice-versa, enfim, não se apreende o conjunto de uma vez, antes se entende cada parte, cada pisada, e as diferentes sensações dos espaços. Especialmente difícil para o entendimento do visitante desavisado que vem da rua e espera encontrar um telhado, um batente e sua porta de entrada. Um momento de saudável confusão que pode levar a pensar.
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A ESTRUTURA
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O engenheiro Ibsen Pulleo, autor do projeto estrutural, explica que a casa é formada basicamente por dois grandes volumes que se superpõem. O primeiro é o bloco transversal do escritório formado por duas lajes de 25 x 2,5 m, apoiadas em apenas dois pilares com vãos divididos de maneira a equilibrar os esforços.
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O segundo volume composto pela sala e cozinha perpassa o anterior e se utiliza do pilar posterior do escritório como reforço. Sobre este pilar, uma pequena viga liga-se transversalmente a duas grandes vigas longitudinais chatas (de pouca espessura), que alcançam os limites do terreno e configuram mais quatro apoios.
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A estrutura de vigas forma um grande H, sustentado por cinco apoios. Este sistema sustenta diretamente a laje superior do volume da casa.
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A laje inferior é sustentada por tirantes de aço que se prendem à laje superior, o que dá a sensação de leveza estrutural presente na construção. Já as lajes dos terraços, que cobrem os dormitórios, são sustentadas por paredes de concreto, as próprias divisórias do espaços privados.



DADOS TÉCNICOS
Localização: Carapicuíba, SP
Ano do projeto: 2003
Ano da construção: 2008
Área do terreno : 450 m²
Área construída: 415 m²
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FICHA TÉCNICA
Arquitetura: SPBR
Arquitetos - Angelo Bucci e Alvaro Puntoni
Colaboradores: Ciro Miguel, Fernando Bizarri e Juliana Braga
Construção: Alekssandro Bremenkamp
Estrutura: Ibsen Pulleo Uvo e Ruy Bentes
Instalações: Mauro Rodrigues Pinto
Paisagismo: Klara Kaiser
Imagens: Leonardo Finotti
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Originalmente publicado em: www.revistaau.com.br

Um comentário:

  1. Caro Oliveira, coloquei um link para o seu blog e o citei em um posto que fiz. Espero que possamos discutir arquitetura e cidade. abraços!
    http://oitocentoseoito.blogspot.com/

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