A praça da discórdia
Oliveira Júnior ¹
Fonte: acerco pessoal
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Fonte: Revista eletrônica MDC
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Recentemente exibido na mídia, a Praça da Soberania, mais nova proposta arquitetônica do escritório de Oscar Niemeyer para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, já nasce provocando polêmica e despertando uma reação em cadeia dos arquitetos e urbanistas, da população local e até do próprio presidente do IPHAN/DF (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) contra a sua construção. Segundo enquete realizada através do site do Correio Brasiliense mais de 70% dos internautas não aprovam a implantação da obra. Uma onda de protestos invadiu Brasília desde o anúncio do projeto. “Foi a primeira vez que a cidade reagiu ao anúncio de uma obra do arquiteto", afirma o jornal.
Recentemente exibido na mídia, a Praça da Soberania, mais nova proposta arquitetônica do escritório de Oscar Niemeyer para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, já nasce provocando polêmica e despertando uma reação em cadeia dos arquitetos e urbanistas, da população local e até do próprio presidente do IPHAN/DF (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) contra a sua construção. Segundo enquete realizada através do site do Correio Brasiliense mais de 70% dos internautas não aprovam a implantação da obra. Uma onda de protestos invadiu Brasília desde o anúncio do projeto. “Foi a primeira vez que a cidade reagiu ao anúncio de uma obra do arquiteto", afirma o jornal.
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A nova Praça abrigará dois prédios: uma edificação curva, ao rés do chão, dedicado a memória dos Ex-Presidentes, e uma estrutura erétil, de base triangular e 100m de altura, para acolher uma exposição permanente do progresso brasileiro (?). No subsolo um estacionamento para 3 mil carros servirá de bálsamo para uma frota equivalente a 2,5 veículos por habitante.
A nova Praça abrigará dois prédios: uma edificação curva, ao rés do chão, dedicado a memória dos Ex-Presidentes, e uma estrutura erétil, de base triangular e 100m de altura, para acolher uma exposição permanente do progresso brasileiro (?). No subsolo um estacionamento para 3 mil carros servirá de bálsamo para uma frota equivalente a 2,5 veículos por habitante.
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Para a arquiteta Sylvia Fischer, doutora em história e professora da UNB, a baixa qualidade das últimas intervenções de Niemeyer na capital federal denotam certo desdém com a obra “que lhe rendeu suas mais altas honrarias, aquela que lhe garantiu uma posição ímpar no ranking dos arquitetos do século XX.”
Para a arquiteta Sylvia Fischer, doutora em história e professora da UNB, a baixa qualidade das últimas intervenções de Niemeyer na capital federal denotam certo desdém com a obra “que lhe rendeu suas mais altas honrarias, aquela que lhe garantiu uma posição ímpar no ranking dos arquitetos do século XX.”
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Outro pesquisador da UNB, arquiteto Frederico Holanda, em artigo intitulado “A praça do espanto”, publicado pela revista eletrônica MDC, relembra outro projeto em forma de pomba, também proposto por Niemeyer para o gramado central da Esplanada dos Ministérios, e que foi reprovado pelo IPHAN. O professor Holanda questiona a arguição de Niemeyer de que toda cidade tem que ter uma praça para provocar espanto. “Que espanto?” pergunta. O autor esclarece ainda que a nova edificação além de bloquear “a vista da Esplanada a partir da Plataforma Rodoviária, que Lucio Costa queria desimpedida”, o obelisco comprometerá o espaço de convívio e “as pessoas na ‘praça’ estarão divididas em dois grupos que, na maior parte do espaço, não se veem. O que veem mesmo é o enorme e ofuscante paredão branco do monumento.”
Outro pesquisador da UNB, arquiteto Frederico Holanda, em artigo intitulado “A praça do espanto”, publicado pela revista eletrônica MDC, relembra outro projeto em forma de pomba, também proposto por Niemeyer para o gramado central da Esplanada dos Ministérios, e que foi reprovado pelo IPHAN. O professor Holanda questiona a arguição de Niemeyer de que toda cidade tem que ter uma praça para provocar espanto. “Que espanto?” pergunta. O autor esclarece ainda que a nova edificação além de bloquear “a vista da Esplanada a partir da Plataforma Rodoviária, que Lucio Costa queria desimpedida”, o obelisco comprometerá o espaço de convívio e “as pessoas na ‘praça’ estarão divididas em dois grupos que, na maior parte do espaço, não se veem. O que veem mesmo é o enorme e ofuscante paredão branco do monumento.”
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Ao tomar conhecimento do projeto através da imprensa, a filha de Lúcio Costa, arquiteta Maria Elisa, não teve dúvidas e foi conferir a proposta pessoalmente no escritório de Niemeyer. Observou a maquete isolada e ao voltar pra casa projetou-a mentalmente na Esplanada dos Ministérios. Ao perceber que a edificação baixa esconderia toda a rodoviária, projeto do pai, resolveu escrever para Niemeyer no dia seguinte.
Ao tomar conhecimento do projeto através da imprensa, a filha de Lúcio Costa, arquiteta Maria Elisa, não teve dúvidas e foi conferir a proposta pessoalmente no escritório de Niemeyer. Observou a maquete isolada e ao voltar pra casa projetou-a mentalmente na Esplanada dos Ministérios. Ao perceber que a edificação baixa esconderia toda a rodoviária, projeto do pai, resolveu escrever para Niemeyer no dia seguinte.
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A preocupação da cidade em manter livre e desimpedida a visão da Esplanada dos Ministérios a partir da Plataforma Rodoviária é incontestavelmente legítima, assim como é difícil imaginar a implantação de outra obra no lado diametralmente oposto ao edifício do Congresso Nacional, ofuscando o ponto de fuga natural do Eixo Monumental e polarizando as atenções com o cartão postal mais importante de Brasília.
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A preocupação da cidade em manter livre e desimpedida a visão da Esplanada dos Ministérios a partir da Plataforma Rodoviária é incontestavelmente legítima, assim como é difícil imaginar a implantação de outra obra no lado diametralmente oposto ao edifício do Congresso Nacional, ofuscando o ponto de fuga natural do Eixo Monumental e polarizando as atenções com o cartão postal mais importante de Brasília.
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Nota
Nota
1. Oliveira Júnior é arquiteto e professor do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê.
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Imagens: http://www.piniweb.com.br/
Que coisa!!! Afinal, quem encomendou o projeto?quem tá pagando?
ResponderExcluirJamaci
Oliveira Jr.,
ResponderExcluirGostei do texto.
O que deu no Niemeyer?
Abraços.
O interessante é o Niemeyer afirmar que a última vez que esteve em Brasília percebeu que a cidade carecia de de uma praça de grandes dimensões para causar "espanto" aos transeuntes,e como bom arquiteto sentiu-se na obrigação de propô-la. Só esqueceu de perguntar aos cidadãos se eles desejavam ou tinham necessidade da sua obra.
ResponderExcluirO que me espanta mesmo é que a legislação criada para proteger o relevante patrimônio cultural do plano piloto acabou consolidando uma reserva de mercado vitalícia para Niemeyer ou mais ainda uma ditadura arquitetônica.
Estou de pleno acordo com as críticas apontadas. Um dos aspectos da beleza de Brasília no eixo monumental é a contribuição do vazio para a sua eloquente escala monumental. Inserir qualquer objeto que ofusque esta escala, é no mínimo uma incoerência com os propósitos urbanísticos de Lúcio Costa.
ResponderExcluirMarco Suassuna,
arquiteto e urbanista
Estou em desacordo em relação à maioria das críticas apontadas ao projecto (embora reconheça que me faltaria conhecer melhor o projecto e o local).
ResponderExcluirO eixo 'vazio' definido inicialmente parece necessitar de um contraponto construído, para ser vivido de uma forma alternativa ao actual.
Quanto ao 'espanto', em Portugal utilizaríamos a palavra surpresa, que advém directamente do discurso teórico de corbusier.
Tudo isto independentemente de ser um projecto de Niemeyer. Na minha opinião a importância do projecto convocaria à elaboração de um concurso internacional - e que vencesse a melhor proposta.
De qualquer forma sou um fã incondicional de Niemeyer, através do qual a minha obra é também indirectamente influenciada.
Nuno Montenegro, Arquitecto e Urbanista
Nuno,
ResponderExcluirA genialidade da produção de Niemeyer é indiscutível. O que está em jogo nessa proposta é menos o mérito do objeto e mais a sua adequação ao contexto urbano em que pretendem inseri-la. Aqui no Brasil o termo espanto também tem o mesmo sentido de surpresa. A crítica apropriou-se do termo para fazer um trocadilho mais irônico.