quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Arquitetura e Realidade

CENAS DE DESOLAÇÃO E  DEGRADAÇÂO HUMANA
(a propósito da “Operação Cracolândia”, no Centro de São Paulo)

Imagem: Cracolândia

Socorro! Na condição de jornalista, cristão e morador do Centro de São Paulo, onde se encontra a chamada Cracolândia, não poderia me calar quanto à ação policial da “Operação Cracolândia” contra nóias, dependentes químicos ou craqueiros, vítimas do crack e da exclusão social. 

Imagem: ação policial na Cracolândia


Ação, por sinal, que foi classificada pelo próprio Ministério Público estadual de “precipitada e desarticulada”.

O cenário arquitetônico de edifícios neoclássicos enriquecidos por cúpulas e portas de ferro esculpidas, que encantaram o arquiteto espanhol Ricardo Bofiil ao visitar São Paulo nos anos 90, transfomou-se, de repente, num palco de cenas jamais vistas, retrato de desolação e de degração humana de uma nova diáspora.

Imagem: Vista a´reera da Cracolândia

Como zumbis fugitivos de um novo Quilombo, centenas de jovens, incluindo adolescentes, crianças, mulheres grávidas, idosos e até cadeirantes, protegidos por cobertores encardidos expulsos de velhos casarões onde se abrigavam, vagueiam sem rumo pelas ruas e becos da cidade, entre edifícios de concreto armado. Cidade polifônica que no dia 25 vai celebrar 458 anos! 

Imagem: usuários de drogas na região da Cracolândia

A rua Guaianazes, onde habito, tornou-se um ponto de encontro ou rota de fuga deles, quando se aproxima alguma viatura policial. Afugentados por balas de borracha e bombas de efeito moral correm de um lado para outro. De madrugada, aos montões, esses “peregrinos do crack” , conforme os definiu a revista “IstoÉ” transitam pelo asfalto, com seus cachimbos e isqueiros, formando uma verdadeira procissão de excluídos da sexta economia mundial.

Imagem: viciados vagueiam pela noite da Cracolândia

O ronco estridente de helicópteros, que vigiam a área, me faz lembrar do filme “Apocalypse Now”, do cineasta Francis Coppola, quando soldados norte-americanos tentatavam em vão exterminar vietnamitas indefesos, mas resistentes. 

Justificando a operação, o governo promete clínicas de recuperação para os dependentes. Que ironia! Clínicas num país com serviços de saúde pública tão precários!

Um craqueiro aproxima-se de mim, pedindo ajuda, Sem saber o que fazer, me sinto impotente, a exemplo de outros moradores da região.

Um fotógrafo do jornal “Estadão”, onde trabalhei nos anos 70, pede licença para clicar da minha janela algumas fotos de um grupo de craqueiros amontoados entre o lixo na esquina. E, surpreso, me indaga: - “Cara, como você consegue viver aqui?”. Alguém irresponsável  atira contra eles um saco de plástico cheio de água, colocando em risco a segurança dos moradores do edifício Los Angeles. Outro solta um rojão para espantá-los.

Enquanto isso, pergunta-se: o que fazer?.
“Brasil, mostra a sua cara”, cantou Cazuza. Com certeza, esses jovens são a cara do Brasil real. De uma parte da população sem educação, saúde e habitação. Em síntese: da exclusão.     

Imagem: drogados e excluídos na Cracolândia

Mas, conforme registrou o jornal “Agora”: a Cracolândia não é um lugar geográfico, mas uma praga que assola todo o país, deixando um rastro de destruição e degradação. Zele por nós e por eles, também, Jeová!

José Wolf

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