sábado, 19 de dezembro de 2009

Entrevista com o arquiteto Alejandro Aravena

AVISO AOS NAVEGANTES. OU SEJA: AOS JOVENS ARQUITETOS!
José Wolf ¹
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Só agora, conforme ensina o jargão jornalistico, consegui levantar a fita da entrevista que fiz no hall do Hardman Hotel, em João Pessoa, durante o inesquecível XIII Engearq, com o arquiteto chileno Alejandro Aravena. Atencioso, me atendeu ao lado de suas filhas e de sua esposa brasileira, natural do Rio Grande do Sul e do jovem Michel Carlos, que o acompanhava. Ainda inseguro, me aproximo, apresentando-me:
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JW - “Oi, Aravena, sou o Wolf, jornalista, poderia fazer algumas perguntas pra você?”
AA- Si, com mucho gusto...E, numa mistura de portunhol, rolou a entrevista:
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JW - Então, Aravena, vamos lá...Pra começar: numa entrevista publicada recentemente pela revista Projeto, você questionou a produção arquitetônica brasileira atual, por quê?
AA – Sim, porque foi uma Arquitetura, que nos anos 50 e 60, encantou o mundo, e, agora, perdeu seu encanto e carisma. A meu ver, só sobraram fachadas decorativas, sem qualquer valor arquitetônico, sem qualquer relação com o lugar e a cidade, que, para mim, continua o ponto central da boa arquitetura. Descobri, inclusive, exemplares aqui ou ali de uma arquitetura pós-moderna com dez ou mais anos de atraso (risos)! Não questiono estilos, mas...
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JW – Mas, sem dúvidas, há exceções...
AA – Sim, uma delas: o Lelé (João Filgueiras Lima), que continua projetando espaços com qualidade para a população, como hospitais, creches e escolas para a comunidade.
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JW – E Niemeyer?
AA – Continua um grande mestre com projetos que eu admiro muito e outros que eu questionaria.
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JW – A propósito como anda a arquitetura chilena?
AA – Com menos recursos que os do Brasil, procuramos, num país sem tradição arquitetônica, produzir uma arquitetura possível para a população e para a cidade. Afinal, não adianta reclamar da escassez, mas inventar. Não se trata de questionar estilos, mas de prestar atenção às condições culturais e climáticas do lugar. Assim, não dá para entender que um país com tantos recursos naturais e materiais, como o Brasil, continue produzindo uma arquitetura atualmente questionável.
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JW – E sobre a questão habitacional, que foi o principal eixo temático desse Encontro de Engenharia e Arquitetura, o que você diria?
AA – Sem dúvida alguma, a habitação permanece o grande desafio de nossos países e, também, dos arquitetos. Não cabe, contudo, à Arquitetura resolvê-lo. Porém, nós arquitetos podemos ajudar e contribuir, qualificando a habitação com projetos econômicos, viáveis, contudo de qualidade. Afinal, para muitos, a habitação é a única herança que possuem, para seus filhos. Não conheço a situação específica do Brasil, mas no Chile, por exemplo, 60 % da construção de moradias populares não conta com nenhuma participação de algum arquiteto. Sem dúvida, podemos colaborar para reverter esse círculo vicioso do déficit habitacional, em circulo virtuoso. Claro que o problema só poderá ser resolvido por meio de políticas públicas habitacionais mais corajosas e eficientes, que atendam às necessidades de lazer, cultura e transporte da população mais carente..Sem isso, não há solução.
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JW – Mudando de assunto, o que achou de João Pessoa?
AA – Ah, uma cidade agradável que, apesar de alguns problemas como o do trânsito, tem uma qualidadc de vida exemplar, com uma luz natural fantástica e alguns projetos arquitetônicos isolados muito interessantes, como a residência Cassiano Ribeiro que eu visitei. Não conhecia João Pessoa e, agora, até pensaria em morar aqui.
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JW – Para finalizar, o que você diria para os jovens arquitetos brasileiros, que estão começando?
AA – Que pesquisem, que estudem e que lutem para resgatar os grandes valores e lições da arquitetura brasileira do passado, como o respeito e a atenção ao meio ambiente, e o intercâmbio com a cidade e o lugar. Para mim, enfim, a qualidade de uma boa arquitetura não depende tanto do talento, mas da formulação correta do problema a ser resolvido. Então, a meu ver, o limite da boa arquitetura, em países como os nossos, mais que o talento está na inteligência, além da sensibilidade. Enfim, cabe aos jovens arquitetos criarem um novo atalho ou caminho arquitetônico, tendo como foco e referência a cidade.
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Nota
1. José Wolf é jornalista, co-fundador da Revista AU e atual editor do boletim do IAB/SP.
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Toques
1) Que tal um terceira via? Arquiteto, em lugar de ficar esperando que seu projeto seja divulgado pela mídia do Sul, por que não investir nesse novo canal ou blog ArqPB? Afinal, como dizia o arq. Abrahão Sanovicz, a arquitetura brasileira tem três escolas ou vias: a carioca, a paulista e a do Nordeste. Aposte nela! Por favor, não dependa só da “Projeto” ou da “AU”, da qual, por sinal, fui cofundador;
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2) lembrete: na matéria “Saravá, meu pai!”, deveria incluir o nome da arq. Débora Julinda e do mestre Mário Di Lascio, além de Antonio Francisco , que ao representar a presidente do IAB paraibano, Cristina Evelise, enfatizou a importância e o significado do evento, graças ao esforço do prof. Orlando Villar, para a valorização e auto-estima dos arquitetos do Nordeste.;
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3) Anotem: de 1 a 4 de junho de 2010, acontecerá em Recife/Olinda, o 19 Congresso Brasileiro de Arquitetos, sob o foco temático “Arquitetura em transição”, em homenagem especial a Acácio Gil Borsoi. O evento, com apoio da Prefeitura e do governo do Estado pernambucanos, além do CREA/PE está sendo pilotado pelos incansáveis arquitetos Vitória Régia Andrade, atual presidente do IAB/PE e Roberto Montezuma, autor de um imperdível livro sobre os 500 anos da Arquitetura brasileira. Informe-se: http://www.19cba.com.br/
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4) e pra todos vocês, um novo ano, DEZ!

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