Aos 52, Brasília chega a menopausa
Jovem senhora sim, madura ainda não.
Quem diria! A jovem cidade modernista, planejada por Lúcio Costa em forma de avião com a participação de Oscar Niemeyer, responsável pelos principais projetos de Arquitetura, como a bela catedral, o Congresso Nacional ou o Palácio do Alvorada etc., que encantou o mundo nos anos 60, celebra no dia 21 de abril 52 anos de existência cercada por rugas e cicatrizes, apesar de toda a maquiagem.
Imagem: Brasília vista da Estação Espacial Internacional
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Recentemente, uma comissão de peritos da Unesco visitou a nossa capital federal para fazer um diagnóstico sobre as condições ambientais, arquitetônicas e urbanísticas da cidade, cujo resultado
deverá ser divulgado em junho.
Brasília, acredite, corre o risco, inclusive, de perder o título de “patrimônio cultural da humanidade”, devido a uma série de problemas, o que seria um vexame para todos nós, leigos e profissionais da Arquitetura, que amamos Brasília. Ao longo de sua história, a quarta cidade mais populosa do país acumulou problemas desde a falta de manutenção e conservação de edifícios modernistas até à ausência de um planejamento urbano, além da alteração do plano piloto inicial.
Imagem: Palácio do Planalto em obras
Fonte: http://oglobo.globo.com
O Palácio do Alvorada, por exemplo, onde pontifica atualmente a presidente camaleã Dilma, passou há pouco por ampla reforma devido a problemas de infiltração de água e rachaduras no concreto. Imagine o resto!
Entre outras questões problemáticas, enfim, analistas elencam as seguintes:
1) a alteração do plano piloto original, com o surgimento de novos setores não previstos, fruto da especulação imobiliária;
2) a construção de condomínios e hotéis na orla do lago Paranoá, obstruindo o acesso público e o layout da paisagem. Em seu artigo "Lago Paranoá de Brasília: 45 anos de inacessibilidade", Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, professor da FAU UnB, assevera que desde a inauguração de Brasília nenhum governo fez uma intervenção séria para que essa imensa área exercesse sua plena vocação para o lazer da totalidade de sua população. Pelo contrário, "suas margens vêm sendo privatizadas pelos moradores de seus bairros ricos, por décadas", destaca o professor;
Imagem: Alvora Hotel e Flats (antigo Blue Tree)
Autor: Rafael Lang
3) a construção de puxadinhos, com bares e restaurantes, invadindo áreas verdes;
4) pilotis dos prédios das quadras cercados por grades ou ocupados por estacionamentos:
5) blocos de edifícios com mais de seis pavimentos, como estava previsto inicialmente;
Imagem: Vista aérea de Brasília (1961)
6) a transformação do eixo munumental, onde se encontram os Ministérios e a catedral, num palco de protestos dos sem-teto, sem-terra dos sem-nada da sexta economia do mundo!
7) O inchaço populacional de uma cidade ideal prevista para abrigar até 500 mil habitantes e que ultrapassou a marca dos 2,5 milhões de habitantes em 2010;
Imagem: Brasília, foto registrada pelo satélite da Nasa em 08 de janeiro de 2011
8) Trânsito difícil, com ruas mal pavimentadas;
Imagem: Rodoviária de Brasília
Autor: Rafael Lang
9) O aumento da violência, principalmente nas cidades-satélites. Motivo: a disseminação do maldito crack, que atinge outras cidades brasileiras, além da Cracolândia, em São Paulo.
No final do ano passado, entidades, professores, arquitetos e urbanistas de Brasília, organizaram o "Manifesto Urbanistas por Brasília" com o intuito de defender a integridade do Plano Urbanístico do Plano Piloto de Brasília contra o parcelamento de solo proposto pela Terracap para a Quadra 901 do Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN) de Brasília.
"Trata-se da mais contundente agressão ao Plano Urbanístico do Plano Piloto de Brasília por meio da criação de lote com aproximadamente 85.000 m² a ser ocupado por edificações em altura destinadas a hotéis e outras atividades comerciais que por fim serão desvirtuadas para uso residencial como já ocorre no SHN, SCES e SHTN.. redigiram um documento Sob a copa 'O que a cidade precisa é de lucidez no planejamento urbano. É preciso impedir que as forças do capital, da construção civil, avancem descontroladas, sem preocupação com o crescimento sustentável'", define o Manifesto.
A Brasília dos "anos dourados" quando surgiu a Legião Urbana, de Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e do Renato Rocha (atualmente morador de rua em Sampa) ou quando domésticas reclamavam da falta de esquinas para poder namorar, com certeza acabou.
Imagem: Legião Urbana na rampa do Congresso nacional
Fonte: http://www.reidaverdade.com
Ao concluir, um desejo: oxalá, o lema de Brasília “venturis ventis”, aos ventos que hão de vir, não seja prenúncio de uma tempestade ou tsunami, mas de consciência e bonança!
José wolf
Colaborou: Oliveira Júnior