A vanguarda não morre jamais
Oliveira Júnior¹
José Wolf
Foto: Oliveira Júnior
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Hoje
completam dois anos da morte do jornalista José Wolf, um dos mais
respeitados profissionais especializados em crítica jornalística de arquitetura
e urbanismo no Brasil. Foi seminarista da Arquidiocese de São Paulo e entre 1976
e 2002 Trabalhou no Jornal do Brasil, na Folha de São Paulo e na Editora
Pini. Durante quase 30
anos Wolf dedicou sua vida à difusão da arquitetura como um fato cultural. Tinha
uma cabeça à frente do seu tempo e procurou viajar o país inteiro em busca de
fatos novos na produção arquitetônica fora do eixo sul-sudeste ou na revelação
de jovens arquitetos. Acreditava que o repórter deveria estar junto aos
protagonistas dos acontecimentos.
Segundo
a própria Editora Pini “José Wolf teve importante colaboração na fundação da
revista AU - Arquitetura & Urbanismo, em 1985, e trabalhou entre as funções
de editor e repórter da revista até 2002, participando como colaborador
esporádico” até seus últimos dias. Além de “reportagens memoráveis, como a
entrevista com Oscar Niemeyer em 1987, realizada no escritório do arquiteto, e
trouxe a interdisciplinaridade e a poesia para o jornalismo de arquitetura, ao
entrevistar nomes como o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna
(publicada em fevereiro de 2001).
“As 15 primeiras edições da AU, a partir de 1985,
foram publicadas com o benefício de sua direção editorial, fundamentada por
sólida cultura, domínio técnico e sabedoria”. Com José Wolf à frente da revista
AU, “a Pini deixou para trás o emblema de ‘editora de revista de preços’,
para se tornar uma editora premiada no Brasil e no exterior, pela produção da
mais inovadora e apreciada revista de arquitetura do país”, asseverou Mario Sérgio
Pini².
Clevio
Rabelo³ escreveu em artigo no portal vitruvius que “os
anos 1980 foram pródigos para a crítica de arquitetura nacional, em especial em
face à abertura política que já se vislumbrava”. Nomes como Hugo Segawa, José Wolf, Sérgio Teperman,
Anna Regina di Marco e Ruth Verde Zein se destacaram no chamado jornalismo de arquitetura, com um discurso
crítico pautado em “uma procura por um sentimento de latinidade na produção
nacional e a valorização de trabalhos examinados como regionais, nos quais os
dogmas da arquitetura moderna tivessem sido substituídos por um exame mais
aprofundado da cultura das diferentes localidades brasileiras”.
Em se tratando da abordagem e dos conteúdos produzidos na
década de 80 e 90 pelas revistas
especializadas em arquitetura e urbanismo no Brasil, Mario Pini² credita a José
Wolf a liderança de “uma transformação ainda hoje pouco percebida”. O vazio deixado
por sua morte recria o vazio da hegemonia arquitetônica nacional, pontuado numa
produção com sotaque sulista, da laje impermeabilizada, do aço, do vidro e do concreto.
Enquanto isso, os periódicos dos países latino-americanos enxergam
na diversidade do “regionalismo” a própria expressão cultural e a identidade
arquitetônica brasileira. Um país de dimensões continentais como o nosso ainda parece
longe de resgatar o espírito vanguardista do jornalista José Wolf, em
escrutinar o território nacional em busca de novos valores, e de um recorte mais
plural que revele as multifaces da arquitetura brasileira.
Temos uma enorme dívida com este que foi um dos maiores nomes do jornalismo de arquitetura nacional. Mais cedo ou mais tarde, certamente José Wolf será redescoberto, e sua importância para a historiografia da arquitetura brasileira será investigada e revelada em sua plenitude pela pesquisa acadêmica e pela mídia especializada, aqui ou em alhures.
Notas
1.
Oliveira
Júnior é Arquiteto e Urbanista pela UFPB, Mestre em Engenharia Urbana pelo
PPGAU/UFPB, Diretor do escritório 7S34W e professor de Projeto e de Urbanismo
pelo Centro Universitário de João Pessoa.
2.
Mário
Sérgio Pini é Arquiteto e Diretor da Editora Pini.
3.
Clevio
Rabelo é Arquiteto e Urbanista, formado pela Universidade Federal do Ceará em
2001 e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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